segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Não entram e não deixam entrar...

XXI Semana do Tempo Comum, segunda-feira
Mt 23, 13-22

"Minhas ovelhas escutam a minha voz, Eu as conheço e elas me seguem" (Jo 10, 27)

De que modo pode alguém, um mero ser humano, fechar o Reino dos Céus aos outros homens? Como se impede alguém que o deseja de entrar no Reino dos Céus?
No tempo de Jesus, a hipocrisia farisaica criava prescrições inúteis e mesquinhas, aditivos humanos à Lei de Deus, de tal modo que o coração das pessoas, ainda que piedoso ao início, ia perdendo o amor e o verdadeiro temor de Deus (que nascem, crescem e se fortalecem das verdadeiras e legítimas práticas de vida espiritual) e tornava-se, aos poucos, pequeno, frio e legalista.
Em nosso tempo, convivemos com dois extremos. Há aqueles que se aferram às minúcias das práticas (que são, estas, sem dúvida importantes), mas descuidam o amor com que devem ser vividas e que as tornam vida para nós. E há os que desprezam as mesmas práticas, fazem cair os outros em um subjetivismo estéril, que afasta a pessoa de Deus e centra-a em si mesma, levando-a à idolatria.
A fé tem, certamente, um caráter pessoal. A relação com Deus é (e deve ser) pessoal. Portanto, carrega um certo grau de subjetividade. Mas não é subjetivista e, muito menos, individualista. O dado objetivo da fé e do culto a Deus está presente e deve ser observado.
Cabe a Deus dizer-nos como devemos prestar-Lhe culto, de modo que a Sua graça nos santifique. Esta escolha não é nossa. E, no entanto, estes meios serão formas mortas para nós, se não colocarmos neles o nosso coração e não nos abrirmos para eles com alegria, com a obediência da fé.
Buscando esse equilíbrio - difícil para nós, marcados como somos pelo pecado - é que devemos caminhar e ajudar os demais a também percorrer o mesmo caminho.
Só assim é que poderemos entrar no Reino dos Céus e ajudar outros a também entrar, sem que nos tornemos obstáculo para eles (e para nós mesmos).
O verdadeiro amor não é subjetivista e nem ritualista. Tudo o que quer é unir-se ao Amado, valorizando os meios que lhe foram objetivamente dados e neles imprimindo a marca pessoal de seu zelo, cuidado, carinho e ternura.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"Felizes os convidados para o banquete nupcial do Cordeiro"

XX Semana do Tempo Comum, quinta-feira
Memória de São Pio X, papa
Mt 22, 1-14

Ainda que possamos pensar na festa de casamento (núpcias) do Filho do Rei, Jesus Cristo, como algo cuja consumação se dará apenas no fim dos tempos, quando Cristo será tudo em todos, precisamos hoje lembrar, em referência ao Evangelho que a Liturgia da Igreja nos propõe para este dia, daquela antecipação do Céu da qual nos é permitido participar agora, todos os dias se quisermos.
Esse antegozo do Céu, desde agora acessível para nós, é a Santa Missa. Dos que a ela acorrem se diz: felizes os convidados para o banquete nupcial do Cordeiro.
É muito triste, mas é fato, que o Rei continue a enviar os Seus empregados (Seus representantes na terra, os sacerdotes) para chamar os convidados (todos nós), dizendo que tudo está pronto, e que estes convidados continuem a agir como aqueles da parábola: não querem ir, seguem ocupando-se de si mesmos e das coisas do mundo e ainda perseguem e matam os empregados leais, zelosos e obedientes do Senhor.
Chegará o tempo em que esses convidados que se recusam a atender ao convite do Rei serão para sempre excluídos das núpcias do Cordeiro, o Filho do Rei. Deus não permita que esses convidados, ao final expulsos definitivamente, sejamos nós.
O Rei, porém, não quer deixar vazio o banquete de Seu Filho e permite que todos sejam convidados e entrem. Há lugar, pois, para todos. Ninguém será excluído, exceto aqueles que não desejam participar da festa.
Mas há ainda um detalhe importante a ser observado por todos os convidados: é preciso usar o traje adequado. Não se pode participar das núpcias reais sem o traje de festa, de qualquer jeito. É preciso estar dignamente vestido, para ser admitido ao banquete. Pois é o Filho do Rei que desposa a Igreja, sua bem-amada.
Este traje é a graça santificante, sem a qual ninguém será admitido no Reino dos Céus. Do mesmo modo, ninguém pode participar do banquete do Cordeiro, a Eucaristia, se não estiver em graça de Deus. Acontecerá a esse como ao homem que não vestia o traje de festa, da parábola: será jogado fora, na escuridão.
Aproveitemos hoje, que celebramos a memória do Papa São Pio X, cognominado "o Papa da Eucaristia", para examinar as nossas vidas diante de Deus e, especialmente, o modo como participamos da Missa e recebemos o Senhor na Eucaristia.
Se não estivermos usando o "traje de festa", não precisamos desesperar ou desanimar. A infinita Misericórdia de Deus nos deixou o Sacramento da Penitência. Através dele, por meio de uma sincera confissão de nossos pecados, humilde e contrita, o Senhor nos restabelece a vida da graça. E assim podemos voltar a participar com alegria do banquete nupcial do Cordeiro, essa "pausa restauradora na caminhada rumo ao Céu", essa antecipação que podemos viver enquanto ainda somos peregrinos neste mundo, em busca da pátria definitiva.
***

São Pio X
Nasceu em 2 de junho de 1835 em Riese, Diocese de Treviso, Venesa , Áustria (hoje Itália)  com o nome de Giuseppe Melchiorre Sarto.
Filho de Giambattista Sarto um sapateiro e Margarida Sanson. Viveu uma infância pobre com oito irmãos.Batizado em 3 de junho de 1835. Confirmado em 1 de setembro de 1848. Sentiu o chamado para o sacerdócio em sua juventude e estudou no Seminário de Pádua, onde ficou conhecido como um excepcional estudante.
Ordenado pelo Beato Giovanni Antonio Farina em 18 de setembro de 1858. Capelão em Tombolo de 1858 a 1867. Indicado Arcebispo de Salzano de 1867. Cânon da Catedral de Treviso em 1875. Reitor do Seminário de Treviso, foi seu Diretor Espiritual por nove anos. Chanceler da Diocese de Treviso. Vigário de dezembro de 1879 até junho de 1880. Bispo de Mântua em novembro  de 1884. Assistente do pontífice em 19 de junho de 1891. Cardeal em 12 de junho de 1893. Patriarca de Veneza em 15 de junho de 1893. Foi eleito o 257º Papa da Igreja Católica em 4 de agosto de 1903, tomando o nome de Pio X, com o lema "RECAPITULARE OMNIA IN CHRISTO" (Ef 1, 10 - "restaurar todas as coisas em Cristo").
Notável teólogo, emitiu vários decretos e comungava freqüentemente. Destruiu os últimos vestígios do jansenismo, por advogar comunhões freqüentes e até mesmo diárias. Reformou a liturgia e promoveu simples e claras homilias. Revisou o Breviário e o ensino do catecismo. Trouxe o canto gregoriano para a Igreja. Combateu  a Teologia chamada de “Modernismo” (denunciada na Encíclica conhecida como Pascendi, que pode ser lida aqui), que denunciava com a “soma de todas as heresias”. Reorganizou a Cúria Romana, o órgão administrativo da Igreja. Trabalhou contra o antagonismo entre a Igreja e o Estado. Iniciou a codificação das Leis canônicas. Promoveu a leitura da Bíblia  que, segundo ele, deveria ser lida por todos da fé. Ajudou e incentivou as missões no estrangeiro.
Sempre dizia:  “Eu nasci pobre, eu vivi pobre e eu desejo morrer pobre”.
Ele facilitou aos doentes a comunhão dispensando para eles o jejum exigido na época. Alem disto é considerado o padroeiro da Primeira Comunhão porque decretou que as crianças deveriam comungar tão logo alcançassem a idade da discrição  e do discernimento do certo e do errado. É chamado, por isso, o Papa da Eucaristia.
Beatificou Joana na d'Arc e João Eudes, entre outros. E canonizou alguns santos: Santo Alexandre Sauli , São Geraldo Magela, São Clemente Mary Hofbauer e São José Oriol.
Faleceu em 20 de agosto de 1914 na Cidade do Vaticano de causas naturais, agravadas com suas terríveis preocupações com o início da Primeira Guerra Mundial. Foi enterrado no altar da capela da Representação, na Basílica de São Pedro. Foi beatificado em 3 de junho de 1951 e canonizado em 29 de maio de 1954, pelo papa Pio XII.
É o padroeiro da Arquidiocese de Atlanta, da Geórgia, da Des Moine, da Diocese de Kottoyam na Índia e da Zamboanga nas Filipinas. É também o padroeiro da Primeira Comunhão.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

"POR MIM E POR TI"

XIX Semana do Tempo Comum, segunda-feira
Mt 17, 22-27


Vemos que imensa é a Misericórdia do Senhor, que hoje diz a Pedro que pague, com moeda encontrada na boca do peixe, "por Mim e por ti".
O que é esse peixe que carrega o pagamento mais do que suficiente em sua boca, senão um sinal do próprio Senhor Jesus? Pois Ele, Senhor e Deus, quis fazer-Se um conosco e pecado por nós, satisfazendo a justiça por Si e por toda a humanidade, cada um de nós.
Pedro, aqui, é figura da humanidade, devedora do tributo ao Senhor do Templo.
No entanto, como pode a humanidade pagar alguma coisa a Deus? Como pode um miserável tirar alguma riqueza de sua miséria? Como poderíamos nós, que somos pó e cinza, pagar a dívida contraída pelo pecado e, assim, cumprir toda a justiça?
Jesus socorreu a Pedro. E socorreu a todos nós. Movido por infinita Misericórdia, o Senhor vem em socorro daqueles mesmos que O rejeitaram por sua desobediência, nós, os rebeldes pretensiosos que julgamos poder existir e viver sem Deus.
Que o Senhor se digne derramar, hoje, sobre nós, um espírito de verdadeira contrição. E nós, olhando para a Sua Cruz, sinal extremo de Seu Amor, nos saibamos entristecer por aquilo que causaram os nossos pecados, a nossa rebeldia. Seja grande a dor do arrependimento, para mover-nos hoje e todos os dias de nossas vidas ao amor de Deus e ao Seu serviço.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

"E vós, quem dizeis que EU SOU?"

XVIII Semana do Tempo Comum, quinta-feira
Mt 16, 13-23


Uma pergunta, quase casual, de Jesus aos discípulos, como se procurasse apenas informar-se do que andavam dizendo a Seu respeito ou quisesse saber das "últimas novidades" que circulavam na região.
Depois das "notícias", o Senhor dirige-se diretamente aos discípulos. Não há mais qualquer casualidade. Não é uma conversa banal. Jesus espera a resposta de uma pergunta decisiva. Da convicção sobre a Sua Pessoa, por parte daquele pequeno grupo dos Doze que compunham o círculo dos futuros apóstolos, os amigos mais íntimos do Senhor, dependerá o futuro de todas as gerações de discípulos de Cristo depois deles.
Significativamente, Pedro responde em nome de todos e professa a sua fé na divindade de Jesus, confessando que Ele é o Messias prometido e há tanto tempo esperado por Israel. E, assim, recebe de Jesus a promessa do Primado: ele, Pedro, será a cabeça visível da Igreja do Senhor, tornar-se-á o Vigário de Cristo. Ele, Pedro, e todos os seus sucessores, os papas.
Embora em menor dimensão, essa é a pergunta decisiva que o Senhor faz a cada um de nós. Chegará para cada um o dia em que, confrontados por Cristo, teremos de responder: "e tu, quem dizes que EU SOU"?
Nessa ocasião, poderemos ser dóceis ao Espírito Santo, que nos revela quem é Jesus, e responderemos como Pedro: "TU és o Messias (o Cristo), o Filho do Deus vivo".
Talvez, depois, sejamos vítimas das vicissitudes humanas e, ao vislumbrar ou experimentar a cruz (que sempre se fará presente na vida do discípulo do Senhor - "a cruz deve estar presente e tem que dobrar-nos sob seu peso", meditava São Josemaría Escrivá em sua Via Sacra), queiramos fugir dela, como fez Pedro ao negar por três vezes a Jesus justamente na hora de Sua Paixão.
Lembremos, nesses momentos, que Jesus o repreendeu duramente, mas não revogou Sua promessa. Mais tarde, concederá o Primado, às margens do Tiberíades, a um Pedro arrependido e cheio de amor por seu Senhor.
Ainda que erremos e caiamos, valerá sempre a resposta da fé - "TU és o Cristo" - se o amor pelo Senhor nos levar, uma e outra vez e sempre, ao arrependimento e à conversão.

sábado, 2 de agosto de 2014

O Justo Perseguido

XVII Semana do Tempo Comum, sábado
Mt 14, 1-12 / Jr 26, 11-16.24


Na leitura, no salmo e no Evangelho proclamados hoje, um ponto em comum: o justo perseguido. Tendo em mente que, para as Sagradas Escrituras, justo é aquele que serve ao Senhor Deus e faz a Sua Vontade, precisamos também considerar que os justos perseguidos que nos são apresentados são também profetas: Jeremias e João Batista.
Tanto um quanto outro denunciaram as infidelidades do povo da Antiga Aliança para com Deus: a idolatria e a imoralidade. E exortaram o povo a arrepender-se de suas más ações e voltar para Deus de todo o coração, com lágrimas de arrependimento, jejum e penitência.
Poucos, porém, os ouviram. Jeremias e João Batista, profetas de Deus cada qual em seu tempo, foram odiados, perseguidos, presos e mortos. E não apenas pelos poderosos, como a Escritura deixa claro. Na história de Jeremias, vemos com clareza que o povo todo queria matá-lo, por causa de suas palavras inconvenientes. Quanto a João Batista, é Nosso Senhor Jesus Cristo quem denuncia que, embora alguns se tivessem arrependido de seus pecados pela sua pregação, a maioria considerava João Batista austero demais e não quis ouvi-lo.
A exemplo da vida destes profetas, perseguidos, mas que nunca voltaram atrás em sua fidelidade e serviço a Deus, devemos procurar perseverar, ainda que seja necessário suportar, da parte dos demais, incompreensão, estranheza, calúnias e até perseguições mais duras, como tantos irmãos nossos suportam hoje no Oriente Médio, na África e na Ásia, chegando até mesmo a morrer por amor de Nosso Senhor.
Pois a própria vida daquele que deseja servir a Deus é um incômodo para os que não querem conformar-se às exigências do Evangelho. Já dizia São Paulo que todos os que queiram viver piedosamente em Cristo deverão suportar perseguições.
Guardemos no coração, para nosso conforto e esperança, as palavras de Cristo: no mundo tereis tribulações, mas, tende confiança, Eu venci o mundo. De fato, Jeremias e João Batista morreram e seus inimigos pareceram triunfar sobre eles. Mas a quem foi reservada e quem recebeu, de fato, uma coroa de glória imperecível? Os profetas do Senhor ou os seus perseguidores?
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