segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"Ai de vós, hipócritas!"

XXI Semana do Tempo Comum, segunda-feira
Mt 23, 13-22

Quantos se afastam do caminho do Reino de Deus, depois de se haver dele aproximado, por causa da nossa hipocrisia, nós, que somos membros da Igreja e que a apresentamos desfigurada aos homens? Colocamos à frente a Igreja a nossa própria imagem e queremos que os homens nos sigam a nós, antes que a Deus. Queremos que aprendam as nossas doutrinas, a nossa acomodação ao mundo. Queremos agradá-los, bajulá-los, fazê-los "sentir-se bem", mais do que levá-los à verdadeira conversão do coração. Queremos passar no concurso de popularidade, antes que apresentar a Verdade aos homens.
Não podendo, pois, ver a imagem da Igreja, Esposa imaculada de Cristo e resplandescente de beleza, porque a escondemos deles e lhes mostramos apenas a nossa imagem disforme, como podem amá-la e ao seu divino Esposo, Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor?
Haveremos, pois, de prestar contar a Deus por todos aqueles que, tendo começado a andar na Verdade, por nossa culpa afastaram-se do Caminho do Reino dos Céus, porque não puderam ver o belo rosto da Igreja, mas a nossa face deformada que lhe apresentamos em seu lugar.
Se quisermos, de fato, levar os homens a Deus, devemos começar dispondo o nosso próprio coração à verdadeira conversão.

domingo, 26 de agosto de 2012

"Esta Palavra é dura..."

XXI Domingo do Tempo Comum
Jo 6, 60-69


Quando ressoa a voz da Igreja, quando o Papa e o Magistério falam, a primeira reação é sempre negativa, de crítica áspera e permeada de ironia cáustica. Reclamam da Igreja que deve "atualizar" o discurso, para atender às demandas do homem moderno. Que o conteúdo do discurso é conservador demais. Que se deveria voltar ao que Jesus Cristo realmente falou, Ele, que foi um "revolucionário".
Mas, de acordo com o Evangelho de hoje, a reclamação tem sido a mesma desde os tempos em que Jesus andava e pregava a Boa Nova pelas terras da Palestina. Pois o povo reunido em torno de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, ao final de seu discurso sobre o Pão da Vida - Ele mesmo, dado em alimento na Eucaristia, sacramento de Seu Corpo e Sangue, afasta-se do Senhor dizendo que a Sua Palavra é dura e que é impossível ouvi-la (isto é, escutá-la e praticá-la).
Sim, de fato, Jesus é Deus feito homem e não veio habitar entre nós para falar amenidades. Ele veio trazer-nos a Vida imperecível, a Vida plena, a Vida em abundância. Veio fazer isto através de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. E declara que quem quiser segui-lO, tornar-se Seu discípulo, deve negar-se a si mesmo, deve tomar a cada dia sua própria cruz. Não é, pois, um caminho fácil. Não é um caminho que agrade "à carne", isto é, à nossa mentalidade terrena, que descarta a perspectiva da eternidade e leva em conta apenas o que pertence a este mundo.
Por isso o Senhor é enfático ao afirmar que "o Espírito é que dá a vida" e que "a carne não serve para nada". Não é possível conformar a Palavra de Deus a nós e a nossos desejos e perspectivas mundanas; é o nosso coração que se deve conformar à Palavra. E só poderemos fazer isso se formos conduzidos pelo Espírito Santo. Pois a Palavra de Cristo é "Espírito e vida".
Jesus, hoje como naquele tempo, não adapta ou ameniza seu discurso para torná-lo mais agradável aos ouvidos dos que o escutam. Aos que reclamam que a voz da Igreja é retrógrada, impopular, conservadora demais para os nossos tempos, mais uma vez Nosso Senhor pergunta: "também vós quereis ir embora?"
Naquele tempo, a voz da Igreja foi a voz de Pedro: "A quem iríamos nós, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna. E nós cremos firmemente e sabemos que Tu és o Santo de Deus". Hoje, a voz da Igreja é a voz do sucessor de Pedro, o Papa Bento XVI. Ele confirma a nossa fé e nos transmite com fidelidade a "dura" Palavra de Cristo, a única palavra de vida eterna.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Jesus viu Natanael


XX Semana do Tempo Comum, sexta-feira
Festa de São Bartolomeu, apóstolo
Jo 1, 45-51

Com nossos olhos modernos, imediatistas, de pouco alcance, que não enxergam para além do que é material, podemos pensar que Jesus apenas enxergou alguém que vinha ao Seu encontro, acompanhado ou levado por Filipe. Podemos nos limitar à compreensão de que Jesus viu Natanael (ou Bartolomeu) como veria qualquer outro passante.
Mas não é assim. O evangelista João sublinha por duas vezes que Jesus viu Natanael, uma delas com as palavras do próprio Senhor. Por qual motivo? Para fazer-nos compreender que o olhar de Jesus, para além do exterior e das aparências, vê a pessoa em profundidade, abarca a pessoa em sua totalidade: corpo e alma, mente e coração. O Senhor vê o homem por inteiro; mais ainda, só Ele "conhece o que há no homem".
Porque viu Natanael, Jesus sabe que seu coração não é mesquinho. Apesar de sua descrença inicial, fundada em critérios meramente humanos, ele está aberto às coisas de Deus, à manifestação de Sua Vontade e ao seu cumprimento.
Então, quando o Senhor lhe manifesta de modo mais ou menos sutil e velado a Sua divindade, Natanael imediatamente corresponde com uma bela profissão de fé, que permite a Jesus revelar-Se a ele ainda mais aberta e claramente.
Torne-se o nosso coração como o deste apóstolo - sem falsidade - e o Senhor não recusará revelar-Se também a nós.



São Bartolomeu - filho de Tholmai - é um dos doze apóstolos. Muitos o identificam com Natanael, mencionado no Evangelho segundo São João (Jo 1,45): "Jesus viu Natanael vindo até ele, e disse a seu respeito: 'Eis um verdadeiro israelita, em quem não há fraude'. Natanael exclamou: 'Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel'. Jesus respondeu-lhe: "Crês só porque te disse: 'Eu vi-te sob a figueira? Verás coisas maiores do que essas'".
Além de João, Mateus, Marcos, Lucas, os Atos dos Apóstolos referem-se a ele como um dos Doze. Uma antiga tradição armênia afirma que o apóstolo Bartolomeu, que era da Galileia, foi para a Índia.
Pregou àquele povo a verdade do Senhor Jesus segundo o Evangelho de São Mateus. Depois de, naquela região, ter convertido muitos a Cristo, sustentando não poucas fadigas e superando muitas dificuldades, passou para a Armênia Maior, onde levou a fé cristã ao rei Polímio, a sua esposa e a mais de doze cidades. Essas conversões, no entanto, provocaram uma enorme inveja nos sacerdotes locais, que, por meio do irmão do rei Polímio, conseguiram obter ordem para tirar a pele de Bartolomeu e depois decapitá-lo.


De Siluane (1866-1938), monge, santo das Igrejas ortodoxas - Escritos 

Depois da Ascensão do Senhor, os apóstolos voltaram, como está escrito no Evangelho, com uma grande alegria (Lc 24,52). O Senhor conhecia a alegria que lhes dava e a alma deles experimentou intensamente essa alegria. A sua primeira alegria foi conhecer o verdadeiro Senhor, Jesus Cristo; a segunda amá-Lo; a terceira conhecer a vida eterna e celeste; e a quarta alegria desejar a salvação para o mundo, tal como para si próprios. E, por fim, sentiram uma grande alegria por conhecerem o Espírito Santo e verem como operava neles.
Os apóstolos percorriam a terra e falavam ao povo do Senhor e do Reino dos Céus, mas a sua alma estava cheia de saudade e aspiravam a ver o Senhor. Era por isso que não temiam a morte, mas iam alegremente ao seu encontro; se desejavam viver na terra, era unicamente por amor aos homens. Os apóstolos amavam o Senhor e, assim, não temiam nenhuma tribulação. Amavam o Senhor, mas amavam também os homens, e esse amor tirava-lhes todo o receio. Não temiam nem as tribulações nem a morte, e foi por isso que o Senhor os enviou para o mundo, para iluminar os homens.
Ainda hoje, há pessoas de oração que experimentam esse amor divino e aspiram a ele dia e noite. Servem o mundo pela sua oração e pelo que escrevem. Mas essa tarefa compete sobretudo aos pastores da Igreja, que têm uma tão grande graça que, se os homens conseguissem ver o seu brilho, o mundo inteiro ficaria maravilhado. Mas o Senhor escondeu-o, para que os Seus servos não se encham de orgulho, mas se salvem na humildade.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Valor do Reino dos Céus

Festa de Santa Rosa de Lima, padroeira da América Latina
Mt 13, 44-46


Na vida de alguns, o Reino dos Céus representa um achado. Apresenta-se a eles, sem que, de fato, o tenham desejado ou procurado. Talvez, mesmo, sem que soubessem de sua existência.
Para estes, o encontro com o Reino dos Céus é como o encontro com um tesouro, que os enche de alegria e faz deixar tudo para terem a posse do Reino.
Para outros, porém, o Reino dos Céus é o desejo do coração e a sede da alma - a pérola mais preciosa. Estes buscam o Reino incessantemente, trabalham e afadigam-se por ele e não descansam até achá-lo.
Depois de terem empregado todas as suas forças, encontram finalmente o Reino dos Céus e entregam tudo o que possuem por causa dele.
O que há em comum entre os que encontram o Reino nas encruzilhadas da vida e os que empregam todos os seus esforços para encontrá-lo? É que, quando encontram o Reino dos Céus, fazem a mesma coisa: vão, vendem todos os seus bens e compram o campo onde está o tesouro ou a própria pérola.
Mas podem todos os bens de uma pessoa comprar o Reino dos Céus? Mesmo que dê a própria vida, isso não lhe seria possível. Em Jesus Cristo, porém, tudo o somos e temos adquire valor de eternidade. Se nos entregarmos inteiramente a Ele, tornando-nos Seus discípulos, sem nada reservar para nós mesmos,  então poderemos entrar na posse do Reino que Ele adquiriu para nós com o Seu Sangue derramado na Cruz.
Foi isso o que fez Santa Rosa de Lima, que hoje festejamos.
***

Do Evangelho Quotidiano:


Isabel Flores y de Oliva era o nome de baptismo de Santa Rosa de Lima que nasceu em 1586 em Lima, Peru. Os seus pais eram espanhois, que se haviam mudado para a rica colônia do Peru. O nome Rosa foi-lhe dado carinhosamente por uma empregada índia, Mariana, pois a mulher, maravilhada pela extraordinária beleza da menina, exclamou admirada: Você é bonita como uma rosa!
Levada à miséria com a sua família, ganhou a vida com duro trabalho da lavoura e costura, até alta noite. Aos vinte anos, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco, pediu e obteve licença de fazer os votos religiosos em sua própria casa, como terceira dominicana. Construiu para si uma pequena cela no fundo do quintal da casa de seus pais. A cama era um saco de estopa, levando uma vida de austeridade, de mortificação, de abandono à vontade de Deus. Vivia em contínuo contacto com Deus, alcançando um alto grau de vida contemplativa e de experiência mística. Soube compreender em profundidade o mistério da paixão, morte de Jesus, completando na sua própria carne o que faltava à redenção de Cristo. Era muito caridosa e em especial com os índios e com os negros.
Todos os anos, na festa de São Bartolomeu, passava o dia inteiro em oração: "Este é o dia das minhas núpcias eternas", dizia. E foi exatamente assim. Morreu depois de grave enfermidade no dia 24 de agosto de 1617, com apenas 31 anos de idade.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Alegra-te, Cheia de Graça"

Memória de Nossa Senhora Rainha
Lc 1, 26-38

Associada à grande solenidade da Assunção de Nossa Senhora, que, no Brasil, comemoramos no último domingo, está a memória que hoje fazemos da coroação de Maria, a Virgem Santíssima, como Rainha do Céu e da terra. É a glorificação de Maria, a humilde serva do Senhor, levada por Deus ao Céu de corpo e alma e por seu Filho coroada!

"Alegra-te", diz o arcanjo Gabriel à Maria quando vai anunciar-lhe que será a Mãe do Salvador. Alegremo-nos hoje, todos, com ela!
Talvez, olhando para a realidade do mundo, pensemos que não há motivo para a alegria. No entanto, acima e além das coisas deste mundo que passa, nosso Deus e Senhor é vencedor! E a glorificação de Sua Mãe santíssima é um prenúncio de que também nós participaremos um dia de Sua vitória e seremos, como ela, glorificados.
Conforme disse o arcanjo: "Ele reinará para sempre (...) e o Seu Reino não terá fim". E acrescentou depois: "... para Deus nada é impossível".
Não percamos a esperança, apesar de toda dor e sofrimento, apesar das perseguições, apesar das inúmeras dificuldades que se colocam no caminho dos que queremos ser fieis discípulos de Jesus Cristo. Muitos e poderosos são os inimigos, neste mundo visível como no mundo invisível. A todos, porém, já os venceu Nosso Senhor. Façamos nossa, pois, a resposta de Maria ao arcanjo a ela enviado: "Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra".

***

"Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo e é também por Ela que deve reinar no mundo."

(São Luís Maria Grignion de Monfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem)


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"Por Causa do Reino dos Céus"

XIX Semana do Tempo Comum, sexta-feira
Mt 19, 3-12


A aliança matrimonial é imagem da união entre Cristo e a Sua Igreja. Assim como o corpo e a cabeça não podem se separar, Cristo e a Igreja estão indissoluvelmente unidos. A esse nível de vínculo, indissolúvel, entre si e com Cristo, estão chamados os esposos quando se unem em matrimônio.
Mais ainda: a esse nível de vínculo são chamados aqueles que consagram suas vidas a Deus, quer pelo sacerdócio, quer pela vida religiosa. De tal modo devem estes estar unidos a Cristo, que já não lhes seja possível unir-se a qualquer outra pessoa humana, pois pertencem (ou são chamados a pertencer, entregando-se livremente) a Deus com um coração indiviso.


O celibato "por causa do Reino dos Céus" é sinal e reflexo, portanto, desse coração indiviso, chamado a amar a Deus com exclusividade e a amar a todos os homens por amor de seu único Senhor.
Nosso Senhor espera e pede corações virginais, puros, somente a Ele dedicados. Onde os encontrará? Quem responderá ao Seu chamado?
***

Sobre o celibato sacerdotal, leia também o excelente artigo publicado no site do Prof. Felipe Aquino.
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