segunda-feira, 30 de abril de 2012

Jesus, a Porta das Ovelhas, e os Seus Pastores

IV Semana do Tempo Pascal, segunda-feira
Jo 10, 1-10
Jesus Cristo, nosso Senhor, é a Porta das ovelhas, pela qual elas entram para o redil e saem para procurar pastagens e água. Só abrem a porta para chamar as ovelhas aqueles que são os verdadeiros pastores, constituídos por Jesus Cristo, para tomar conta de Seu rebanho - aqueles que são pastores no Único Pastor, que é Ele, Cristo. Os demais são mercenários, ladrões e assaltantes, que não se importam com as ovelhas, roubam-nos das mãos do Pastor e fazem-nas perder no deserto.
Como distinguir uns dos outros? Por sua fidelidade à Igreja. Os verdadeiros pastores são fieis à Igreja de Cristo, cuja voz anuncia, através dos tempos, a Redenção trazido pelo Senhor Jesus, sem adulterar a mensagem conforme as conveniências do mundo e sem se importar com a impopularidade que isso lhe traz. Os verdadeiros pastores dão a vida pelo rebanho que lhes foi confiado, como vez o Bom, Verdadeiro e Único Pastor, Jesus Cristo, Senhor nosso.
Rezemos, pois, e peçamos ao Senhor, humildemente, que nos envie muitos e santos sacerdotes, pastores segundo o Seu Coração!


Do Evangelho Quotidiano
Jean Tauler (1300-1361), dominicano em Estrasburgo - Sermão 27

"Eu sou a porta das ovelhas": Nosso Senhor afirma que é a porta do redil. O que é então este redil, este cercado de que Cristo é a porta? É o coração do Pai, no qual e do qual Cristo é verdadeiramente uma porta digna de ser amada, Ele que nos abriu o Seu coração, até então fechado para todos os homens. É neste aprisco que se encontram reunidos todos os santos. O Pastor é o Verbo eterno; a porta é a humanidade de Cristo; e as ovelhas desta casa são as almas humanas, mas também os anjos; [...] o porteiro é o Espírito Santo [...], porque toda a verdade compreendida e expressa provém d'Ele. [...]
Com que amor e com que bondade Ele nos abre a porta do coração do Pai e nos dá sem cessar acesso ao tesouro escondido, às habitações secretas e às riquezas desta casa! Ninguém pode imaginar nem compreender até que ponto Deus é acolhedor, está pronto a receber, desejoso, sedento de o fazer, e como vai à nossa frente a cada instante e a cada hora. [...] Oh meus filhos, quão surdos permanecemos a este convite amoroso [...], quantas vezes o recusamos. Quantos convites e apelos do Espírito Santo são recusados por causa das coisas deste mundo! Quantas vezes preferimos outras coisas a este local onde Deus nos quer!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

"Ofereçamos o Sacrifício do Nosso Amor"

III Semana do Tempo Pascal, sexta-feira

Ofício das Leituras, Segunda Leitura
Dos Sermões de Santo Efrém, diácono
Estamos no Tempo Pascal e, embora com alegria e sob a perspectiva da Ressurreição do Senhor, contemplamos a Cruz. Não nos detemos nela do mesmo modo que na Sexta-feira Santa, mas olhamos para a Cruz do Salvador e vemos nela o sinal de nossa vitória em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Vemos a morte, mas derrotada na Cruz. Olhamos para Maria, que nos recebeu como filhos diante da Cruz, mergulhada na dor que não sentiu no nascimento de seu divino Filho para dar-nos à luz para o Reino de Deus. Olhamos para a árvore da Cruz e dela podemos colher e provar de seu Fruto de Vida. Contemplamos o Senhor da vida, que aniquilou o pecado no corpo que assumiu de nossa humanidade, para transformá-lo no corpo redimido e glorioso que um dia revestirá a todos os filhos de Deus.
Do mesmo modo que o Senhor realizou a Sua Páscoa - por meio da Cruz - também nós realizaremos a nossa páscoa. Enxertados nEle, como os ramos à videira, também nós passaremos da morte para a vida, deste lugar de peregrinação para a cidade permanente na casa do Pai.
Por causa da Cruz de Jesus Cristo, Senhor nosso, podemos dizer com alegria que já vivemos para sempre e que aguardamos o dia em que teremos em plenitude a liberdade e a glória dos filhos de Deus, no Reino dos Céus.
A Cruz é o trono de glória de nosso Senhor. Ofereçamos a Ele, o Cordeiro imolado, com fé, alegria e esperança, o sacrifício do nosso amor, abraçando a nossa cruz na Sua Cruz bendita!

Jo 6, 52-59
O discurso de Jesus a respeito do Pão da Vida está se encaminhando para o fim. Os seus interlocutores  na sinagoga de Cafarnaum estão compreendendo que Ele, quando fala em dar Sua carne e Seu sangue, está se colocando como mediador da Aliança entre Deus e Seu Povo eleito. Jesus indica a Sua morte como fonte de vida para a humanidade. Aquele que crê em Jesus insere-se neste sacrifício, neste dom de Si mesmo que Ele faz para a salvação de todos os homens.
Hoje, porém, quando lemos este texto, não podemos deixar de fazer referência à Eucaristia, o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, que Ele instituiu na última ceia com os apóstolos, antes de sofrer, morrer e ressuscitar.
E, no entanto, não se trata do único e mesmo sacrifício? Quando Jesus institui a Eucaristia, não o faz como memorial de Sua Páscoa, de Seu Sacrifício por nós na Cruz? O Corpo e o Sangue que recebemos em cada Santa Missa não são o mesmo Corpo que foi pregado à Cruz e o mesmo Sangue nela derramado?
Por isso, todo aquele que toma lugar à Mesa do Senhor é inserido em Sua Cruz. Por isso, não deve aproximar-se para receber o Senhor na Eucaristia aquele que se recusa a ser por Ele recebido na Cruz.  "Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mt 16, 24) é o convite que o Senhor faz a cada um de nós e que, dito de outra forma, pode ser lido assim no Evangelho segundo São João: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia. (...) Aquele que como este pão viverá para sempre".

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Pão Vivo - Sustento e Remédio para as Nossas Almas

III Semana do Tempo Pascal, quinta-feira
Jo 6, 44-51
Jesus é o Pão vivo descido do Céu: quem dEle comer nunca morrerá. Mas Jesus está falando da morte da alma, ou seja, da condenação eterna, da radical separação de Deus, irreversível e causadora de indescritíveis tormentos para aqueles que se recusam a crer em Seu Nome. Para aqueles que creem, pelo contrário, a Eucaristia - Corpo e Sangue do Senhor - torna-se alimento de vida eterna, "sustento e remédio para nossas almas" a caminho do Céu.
Portanto, para poder receber Jesus, o Pão Vivo descido do Céu, e ter a vida eterna, é preciso crer nEle. E crer, aqui, significa aderir à Sua Pessoa, à Sua Palavra. Significa entregar a Ele todo o ser e toda a vida, sem reservar nada para Si.
O convite para participar da Mesa do Senhor é para todos. À primeira vista, parece que não, pois Jesus afirma que é preciso que a pessoa seja atraída pelo Pai, para que então possa ir ao Seu encontro. Mas, em seguida, nosso Senhor esclarece que todos serão tornados discípulos de Deus, que todos serão ensinados por Deus. Portanto, ninguém está excluído. O Pão Vivo descido do Céu quer dar-Se a todos, "para que todos tenham vida plena" em Seu Nome.

sábado, 21 de abril de 2012

"Enxergaram Jesus, andando sobre as águas"

II Semana do Tempo Pascal, sábado
Jo 6, 16-21
Jesus havia deixado a multidão que queria aclamá-lO rei e subiu ao monte, sozinho, para orar ao Pai. Os discípulos permanecem à Sua espera, mas o tempo passa: cai a tarde, fica escuro e Jesus não retorna. Sentindo-se confusos e perdidos sem a Presença do Senhor, eles entram na barca e navegam em direção da margem oposta.
Mas o mar se agita por causa do vento e a noite vai aumentando a escuridão, o que torna ainda maior o seu esforço, o cansaço e a angústia pela falta do Mestre.
Quando, por fim, enxergam Jesus caminhando sobre as águas ao seu encontro, já haviam esquecido da multiplicação dos pães que tinham visto em pleno dia, poucas horas antes, e sentem medo. Não são capazes de reconhecê-lO logo.
O Senhor, porém, tira-lhes o medo com Sua Palavra e eles O podem, então, reconhecer. A Sua Presença e esse reconhecimento fazem desaparecer todas as dificuldades e obstáculos e eles "imediatamente" chegam ao seu destino.
Quando nos parecer que Jesus se ausenta de nossas vidas, que nossos esforços são grandes e prolongados e até inúteis, quando não temos nenhum consolo e a solidão é a única e indesejada companheira, lembremos desse fato que nos conta São João em seu Evangelho. E compreendamos: o Senhor está sempre conosco, ainda que se oculte aos nossos olhos. E não há obstáculo, por maior que seja, que possa impedi-lo de vir até nós, de chegar mais perto, de mostrar a Sua Presença e fazer-se reconhecer.
E se buscamos reconhecê-lO na fé e cumprir sempre a Sua Vontade, Ele fará que cheguemos logo ao porto desejado, o Seu Reino, para onde navega - sempre vitoriosa mesmo em meio a tantas tempestades - a barca de Pedro, que é a Igreja.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Queriam aclamá-lo Rei

II Semana do Tempo Pascal, sexta-feira
Jo 6, 1-15
"Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que Ele operava em favor dos doentes". As pessoas buscavam em Jesus a cura de suas enfermidades, não porque vissem que Ele era o Salvador esperado ou porque quisessem aprender o caminho que leva ao Reino dos Céus. Entendiam que Jesus não era mais do que um profeta e que, como tal, operava sinais e prodígios. E eram os sinais e prodígios que procuravam.
Depois que Jesus multiplica os pães e peixes, começam a reconhecer nEle os sinais do Messias. Porque, de uns poucos pães e peixes, agora há alimento de sobra para todos e a abundância era um sinal dos tempos messiânicos.
Ainda assim, enganam-se. Querem um messias terreno, político. Querem proclamar Jesus como rei para que Ele, então, multiplicasse sempre o alimento, dando-lhes pão em abundância e, ainda, curando-os de todas as suas doenças físicas.
Sim, Jesus é Rei, mas o Seu Reino não é deste mundo. Por isso, Jesus deixa a multidão e retira-Se para o monte para ficar a sós com o Pai.
Ora, o comportamento daquele povo não se parece bastante com o nosso? Procuramos a Jesus, muitíssimas vezes, por causa das nossas necessidades, queremos e esperamos que resolva todos os nossos problemas, mas não queremos crer nEle como o Filho de Deus que veio a este mundo para redimir-nos, porque isso implica em mudança de vida, conversão para Deus. Se realmente acreditássemos em Jesus, entregaríamos a Ele toda a nossa vida e procuraríamos uma só coisa: fazer a Sua Vontade.
O Reino de Deus, que Jesus veio proclamar, não se realiza plenamente neste mundo, mas no outro, pois é o Reino dos Céus. Jesus não é um libertador político. Ele veio libertar-nos, sim, mas do demônio, do pecado e da morte. E o pão que Ele veio nos dar não é feito de trigo, não é simplesmente um alimento para o nosso corpo físico, mas o Seu próprio Corpo, entregue por nós, para que nEle, Cristo, recebamos a Vida eterna, Vida em abundância.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"Quem age conforme a verdade, aproxima-se da luz"

II Semana do Tempo Pascal, quarta-feira
Jo 3, 16-21
Jesus Cristo, o Filho Unigênito do Pai, já nos obteve a salvação quando foi "levantado da terra", isto é, crucificado e morto por nós, ressuscitando ao terceiro dia.
Mas a salvação não nos é imposta; pelo contrário, o Senhor a propõe para nós. Se a aceitamos, somos salvos; se a rejeitamos, somos condenados. A condição, portanto, para receber a salvação que já nos foi efetivamente obtida por Jesus Cristo é uma resposta na fé. É preciso crer no Filho.
Crê no Filho que age conforme a Verdade e se aproxima sem temor da Luz de Cristo, que revela suas obras e que elas são realizadas em Deus. Crê no Filho aquele que O acolhe como a revelação plena do Pai, a Verdade que vem a este mundo. Para este, não há conflito, discrepância ou incoerência entre fé e vida, pois estas se tornam uma coisa só. O amor de Deus está em seus lábios, do mesmo modo como está em sua mente e em seu coração.
Pelo contrário, aquele que não vive segundo Deus prefere as trevas do erro e rejeita o Filho, condenando-se a si mesmo. Suas obras são más porque vive na ilusão e na mentira. Não escolheu a vida e não quis acreditar na Verdade que veio a este mundo. Por isso não pode receber a salvação que lhe é oferecida por Deus. Condena-se porque não quer crer.
Sabemos que Deus morreu (e ressuscitou) por nós. "Eis a Luz de Cristo", proclama a liturgia do Sábado Santo. Diante disso, precisamos escolher: aproximar-nos da Luz e glorificar a Deus com nossa vida ou mergulhar nas trevas e deixar que o mal vá nos separando para sempre de nosso Rei e Senhor, Jesus Cristo, o Cordeiro sem mancha que tira o pecado do mundo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

"É Necessário que o Filho do Homem Seja Levantado"

II Semana do Tempo Pascal, terça-feira
Jo 3, 7-15
Na continuação do diálogo com Nicodemos, Jesus o repreende: "és mestre em Israel e não sabes estas coisas?"
Pois Nicodemos devia compreender que o derramamento do Espírito, que promove e permite o nascimento espiritual do homem, renovando-o segundo Deus, já havia sido predito pelos profetas (cf. Jr 31; Ez 36; Sl 87). Nicodemos conhecia as Escrituras e, ainda assim, não havia entendido e nem relacionado os sinais que Jesus fazia (e que ele mesmo menciona quando inicia o diálogo com o Senhor) com a vinda do Espírito que Deus já havia anunciado tanto tempo antes.
Mas Jesus quer fazer Nicodemos avançar mais no entendimento de Sua Pessoa, no reconhecimento de quem Ele é - o Messias prometido, ansiosamente aguardado por Israel. Fala-lhe, então, sobre as "coisas da terra" (isto é, o que já havia sido predito nas Escrituras) e sobre as "coisas do alto", aquilo que Ele, Jesus, ainda iria realizar: a Redenção de toda a humanidade pelo sangue derramado na cruz, onde seria Ele mesmo levantado da terra, atraindo todos a Si.
O Senhor faz um paralelo de Si mesmo, na cruz, com a serpente de bronze que Moisés ergueu numa haste para que o povo, picado mortalmente pelas serpentes venenosas que eram o castigo de sua descrença e infidelidade a Deus, olhando para a serpente, ficasse curado (cf. Nm 21). E afirma a Nicodemos que a Sua Palavra é digna de crédito porque Ele é a testemunha do Pai, o único que desceu do Céu, de junto de Deus, para revelá-lO aos homens.
Ora, se Nicodemos mereceu de Jesus uma repreensão por não compreender o que estava vendo e ouvindo, será que nós, hoje, não somos igualmente merecedores de advertência?
Não vimos e nem ouvimos a Jesus pessoalmente. Mas temos o testemunho dos apóstolos (as testemunhas escolhidas pelo Senhor) e que nos foi fielmente transmitido pela Igreja no decorrer dos séculos. Podemos desconhecer tudo isso? Podemos ainda querer e até mesmo pedir outros sinais de Deus?


Noite Santa
Meu Senhor e meu Deus, 
Tu me guiaste por um longo e obscuro caminho, pedregoso e duro. 
Estava quase já sem forças, tanto que não esperava mais ver a luz do dia. 
O meu coração estava duro como pedra devido ao sofrimento 
Quando, diante dos meus olhos, se levantou a claridade suave duma estrela 
E me guiou, fiel, e eu segui-a, primeiro com passos tímidos, depois mais seguros. 
E cheguei por fim à porta da Igreja, 
Que se abriu, e pedi para entrar. 
Fui acolhida pela Tua bênção proferida pelo Teu sacerdote. 
No seu interior sucedem-se as estrelas,  
Estrelas de flores vermelhas que me indicam o caminho até Ti, 
Que a Tua bondade permite que me conduzam no meu caminho até Ti. 
O mistério que me faltava guardar, escondido no íntimo do coração, 
Agora posso finalmente anunciá-lo em alta voz: 
Eu creio, e confesso a minha fé! 
O sacerdote conduz-me aos degraus do altar, 
Inclino a cabeça, e a água santa escorre pela fronte abaixo. 

Senhor, será possível renascer uma vez passada metade da vida (Jo 3,4)? 
Assim o disseste, e para mim tornou-se realidade. 
Já não sinto o peso das faltas e das minhas penas dessa vida longa. 
De pé, recebi sobre os ombros o manto branco, 
Símbolo luminoso da pureza. 
Trouxe à mão o círio cuja chama anuncia a Tua vida santa a brilhar em mim. 
E o meu coração transformou-se na manjedoura que por Ti espera. 
Por pouco tempo! 
Maria, Tua Mãe, e também minha, deu-me o nome. 
À meia-noite depõe no meu coração o seu bebé, recém-nascido. 
Oh! Não há coração humano que possa imaginar 
O que Tu preparas para aqueles que Te amam (1Cor 2,9). 
És meu para sempre e nunca Te deixarei. 
Seja qual for o caminho que venha a trilhar estás sempre comigo. 
E nada mais poderá separar-me do Teu amor (Rm 8,39).

Santa Teresa Benedita da Cruz (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa
http://www.evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 16 de abril de 2012

"Nicodemos... foi ter com Jesus de noite"

II Semana do Tempo Pascal, segunda-feira - Jo 3, 1-8
Pressentindo que Jesus era a Luz vinda a este mundo, mas ainda inseguro, como que tateando no escuro, um tanto incerto, Nicodemos vai falar com o Senhor. Como muitos de nós, que vamos a Jesus na noite de nossas vidas, com a expectativa (mas sem certeza) de que Ele seja o Senhor que nos traz a vida e ilumina os nossos dias, fazendo a nossa caminhada neste mundo alegre, plena de sentido e cheia de esperança.
Mas, assim como Nicodemos não pode ir além de seus questionamentos por sua própria inteligência, também nós não podemos conhecer Jesus como Senhor e Deus se Ele mesmo não se der a conhecer. O ser humano deve dar um pequeno passo - a abertura de coração e a humildade, mas é Deus quem o conduz no restante do caminho, que ele não pode percorrer por suas próprias forças, concedendo-lhe a fé e abrindo-lhe os olhos para que possa enxergar na claridade da verdadeira Luz.
Esse é o nascimento do alto, realizado pelo Espírito Santo, que paira sobre as águas do Batismo, na nova criação, como outrora pairava sobre as águas de um mundo recém criado onde ainda não habitava o homem, único ser feito à imagem e semelhança de seu Criador.
É o Espírito Santo que comunica ao homem a vida divina, restaurando-o para Deus, renovando seu coração para que possa ver o Reino de Deus, discernir os seus sinais, ansiar por ele e, finalmente, transposto o limiar de sua vida terrena, entrar nesse Reino tão desejado.
Esse é o homem gerado pelo Espírito, nascido de Deus e que para Ele vive e caminha neste mundo. O homem novo, renovado pelo Espírito e nascido do alto, é incompreensível para os que ainda vivem na noite deste mundo.
Eis o grande mistério que comporta todo aquele que crê no Senhor: movido pelo Espírito, ele sabe que "não tem aqui cidade permanente, mas está à espera daquela que está para vir" (cf. Hb 13, 14), a Jerusalém celeste, onde Deus "enxugará toda lágrima de seus olhos" (Ap 21, 4).

domingo, 15 de abril de 2012

II Domingo do Tempo Pascal - Festa da Divina Misericórdia - Jo 20, 19-31

O Bem-aventurado Papa João Paulo II instituiu para toda a Igreja o segundo Domingo do Tempo Pascal como Festa da Divina Misericórdia.
Neste dia, o Evangelho segundo São João relata como Jesus ressuscitado, em Sua primeira aparição ao grupo dos apóstolos, prometeu a eles o envio do Espírito Santo e deu-lhes o poder de, em Seu Nome, perdoar os pecados aos homens.
Com este poder e encargo conferido à Igreja, o Senhor a torna dispensadora de Sua Misericórdia, através do sacramento da Penitência, por meio do qual o homem reconhece e confessa os seus pecados e, se estiver sinceramente arrependido, recebe de Deus o perdão de sua culpa.
Por meio deste sacramento, o Senhor quer curar as feridas da alma, libertando-a da escravidão na qual o pecado a encerra, para dar-lhe "a liberdade e a glória dos filhos de Deus".
***
Minha filha, fala a todo o mundo da Minha inconcebível misericórdia. Desejo que a Festa da Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores. Neste dia, estão abertas as entranhas da Minha misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre as almas que se aproximam da fonte da Minha misericórdia. A alma que se confessar e comungar alcançará o perdão das culpas e das penas. Nesse dia, estão abertas todas as comportas divinas, pelas quais fluem as graças. Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de Mim, ainda que seus pecados sejam como o escarlate. A Minha misericórdia é tão grande que, por toda a eternidade, nenhuma mente, nem humana, nem angélica a aprofundará. Tudo o que existe saiu das entranhas da Minha misericórdia. Toda alma contemplará em relação a Mim, por toda a eternidade, todo o Meu amor e a Minha misericórdia. A Festa da Misericórdia saiu das Minhas entranhas. Desejo que seja celebrada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa. A humanidade não terá paz enquanto não se voltar à fonte da Minha misericórdia”.
***
Saiba mais sobre João Paulo II e a Misericórdia divina aqui

sábado, 14 de abril de 2012

Sábado na Oitava da Páscoa - Mc 16, 9-15

Fracos na fé, duros de coração
Jesus aparece aos onze apóstolos, mas só depois de ter aparecido como Ressuscitado dos mortos a Maria Madalena, em primeiro lugar, e depois aos dois discípulos que iam para o campo (provavelmente os discípulos de Emaús, conforme o relato de Lucas - Lc 24, 13-35). Pelo evangelista Lucas também sabemos que, antes de aparecer aos onze apóstolos reunidos, Jesus teria aparecido a Pedro.
Assim, antes de aparecer ao grupo dos apóstolos, Jesus constitui testemunhas qualificadas de Sua Ressurreição - Maria Madalena, os dois discípulos, Pedro - para que os demais acreditassem antes de O verem com os próprios olhos. Pois do mesmo modo deveriam crer todos os que receberiam a pregação pela palavra dos apóstolos.
Mas não é o que acontece: o grupo dos onze não crê nos testemunho dos que viram o Senhor ressuscitado. Por isso, quando Jesus enfim lhes aparece, repreende-os, chamando-os de fracos na fé e duros de coração.
Desse momento em diante, porém, tornam-se eles as testemunhas da Ressurreição, porque viram e tocaram o Senhor ressuscitado, assim como antes O tinham visto sofrer e morrer.
Por causa do testemunho de Maria Madalenas e dos dois discípulos, mas, sobretudo, por causa do testemunho de Pedro, de Paulo (que se tornou, mais tarde, testemunha e apóstolo do Senhor) e dos outros onze apóstolos, gerações de cristãos creram e creem no Nome de Jesus, o único dado a nós pelo qual podemos ser salvos.
Por isso, se pessoalmente não cremos no testemunho dos apóstolos - de que o Senhor Jesus foi morto, mas ressuscitou verdadeiramente e vive pelos séculos, sentado à direita do Pai em Sua glória - testemunho este que foi confiado à Igreja e tem sido por ela fielmente transmitido há mais de dois mil anos, a repreensão de Jesus vale para nós: somos fracos na fé e duros de coração.
Pois o Senhor constituiu as suas testemunhas e tornou-as digna de crédito, para que os homens chegassem à fé por meio delas.
A Igreja, portanto, dá testemunho de que o Senhor Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação e o seu testemunho é verdadeiro. Se não quisermos crer na Igreja, também não devemos esperar que Jesus apareça para nós, a fim de satisfazer nossa soberba e presunção. "Porque Deus resiste aos soberbos, mas dá Sua graça aos humildes" (IPd 5,5).
Mas, se confiamos no testemunho da Igreja, então também nós nos tornamos discípulos do Senhor e testemunhas de Sua ressurreição. E é também para nós o mandato de Jesus: "ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura".

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quarta-feira na Oitava da Páscoa - Lc 24, 13-35

Reconheceram-nO ao partir o Pão
A Eucaristia faz a Igreja. A caminhada dos dois discípulos que abandonam Jerusalém desanimados, abatidos, fechados em si mesmos e depois retornam cheios de alegria e de esperança é o retrato disso.
Por que voltaram? Por que se alegraram? Porque encontraram Jesus ressuscitado pelo caminho, o Cordeiro Pascal por nós imolado e que vive para sempre.
E o Senhor lhes explicou as Escrituras e abriu-lhes o coração para compreendê-las e, por fim, deu-Se a eles na Eucaristia, permanecendo em seus corações enquanto tornava-Se invisível aos seus olhos. Deram-se conta, então, que seu coração ardia, tendo reconhecido o Senhor ainda quando seus olhos eram incapazes de fazê-lo.
Podemos fazer a experiência dos discípulos de Emaús todos os dias, na Missa. Pois o caminho de Emaús é, em resumo, o caminho que liturgicamente percorremos na celebração eucarística: Jesus mesmo vem ao nosso encontro, explica-nos as Escrituras e então parte o Pão (que é o Seu Corpo) para nós.
Para viver esse encontro eucarístico com o Senhor morto e ressuscitado, razão de nossa vida, basta que o queiramos. A partir dele nos tornaremos, para os que convivem conosco, testemunhas da ressurreição do Senhor.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Segunda-feira na Oitava da Páscoa - Mt 28, 8-15

Alegrai-vos!
As mulheres sentem medo. É a reação natural do ser humano quando Deus se manifesta. Elas, porém, com o medo, também sentem grande alegria, porque verdadeiramente amam o seu Senhor e anseiam por Sua Presença.
E eis que vem Jesus ao seu encontro, para libertá-las do medo, deixando-Se ver por elas.
Quando, pois, Deus se nos revela, manifestando a Sua Vontade, é natural que sintamos medo. Mas é importante, fundamental mesmo, que esse medo não nos paralise e que, apesar do receio natural do que escapa ao nosso entendimento e controle (o querer de Deus, sempre misterioso para nós), cuidemos de fazer logo e da melhor forma possível aquilo que Deus nos pede, com o máximo de empenho, cuidado e amor.
E o Senhor virá para dar-nos a Sua alegria e fazer-nos andar sem medo por Seus caminhos.
A alternativa que temos a isso é agir como os sumos sacerdotes e anciãos de Israel daquele tempo. Conhecendo a verdade por meio do relato dos guardas, preferiram continuar a viver na mentira, enganando-se a si mesmos e a todo o povo.
Podemos enganar-nos, dizer a nós mesmos que Jesus não ressuscitou, que continua morto e que a Igreja, testemunha fiel de Sua ressurreição, tem pregado e vivido uma mentira há dois mil anos, chegando mesmo a deixar-se perseguir e matar por causa dela. Mas pode alguém, de fato, enganar-se a si mesmo e convencer-se de sua mentira, vivendo em paz? Pode a paz conviver com o erro e com a mentira? Se Jesus ressuscitou e está vivo, só há verdadeira paz e alegria nEle, porque Ele é a Verdade.
Para aqueles que, enfrentando o medo, querem viver na verdade, na alegria e na paz, vale a palavra do Senhor Ressuscitado: "Alegrai-vos! Não tenhais medo!"

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Quinta-feira Santa - Jo 13, 1-15


"Amou-os até o fim"
Contemplemos hoje, mais do que tudo, o Amor infinito e misericordioso de Deus por nós.
O que somos nós, seres humanos, diante de Deus? Se, como diz o salmo, as montanhas pesam menos que o pó diante dEle, o que somos nós?
Somos, apesar de nossa insignificância, a obra de Suas mãos. Deus ama o homem que criou, com um amor mais que admirável e incompreensível. Porque beira o absurdo que o Tudo, o Absoluto, "Aquele que É" possa amar o nada - e o ame de forma tão extremada.
Por amor, o Logos, o Filho de Deus, que existe desde toda a eternidade e é Deus com o Pai e o Espírito Santo, fez-se carne, pessoa humana. Rebaixou-se ao ponto de assumir a nossa condição - nada, grãos de poeira cósmica movendo-se no tempo. Não contente com isso, padeceu, morreu e ressuscitou por nós, elevando-nos em Sua carne.
Contemplando tudo isto, demos glória ao Senhor e O amemos de todo o coração e acima de tudo. E decidamo-nos a servi-lO, de uma vez por todas.
Depois, permitamos que Ele, Jesus, o Mestre e Senhor, nos lave hoje os pés, confessando a Ele os nossos pecados pelo sacramento da Reconciliação. Lembremo-nos do que Ele disse a Pedro: "se Eu não te lavar, não terás parte comigo".

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Semana Santa, quarta-feira - Mt 26, 14-25

"Um de vós vai me trair"
- E quem é, Senhor?
- Aquele que comigo põe a mão no prato.
- Mestre, serei eu?
- Tu o dizes.

Não só Judas, mas também eu. Judas foi só o primeiro da longa lista de "amigos" e "discípulos" de Jesus, de todos os lugares, tempos e estados de vida - leigos, religiosos, sacerdotes e bispos - que traíram ao Senhor e O traem até os dias de hoje. Nessa lista estamos todos nós.
Porque todos "colocamos a mão no prato" com o Senhor. Todos comemos de Sua mesa, quando participamos da Missa, do Sacrifício Eucarístico. E todos pecamos, alguns mais e outros menos. Com mais ou menos luta, com mais ou menos consentimento, mas todos pecamos. Todos "vendemos", "entregamos" o Senhor, sejam quais forem as "trinta moedas de prata" que nos compram. E todos nós, quando pecamos, crucificamos novamente a Cristo.
Mas se, ao pecar, somos todos como Judas, não permaneçamos, como ele, em nosso pecado. Façamos como Pedro, que também pecou gravemente, traindo ao Senhor pela negação, mas soube arrepender-se, buscar o perdão de Deus e, por fim, voltar ao Amor e à Paz de Jesus.
Este é um tempo muito especial de arrependimento e de conversão. Pois o Senhor ressuscitado, o Cordeiro imolado, espera-nos na praia para perguntar-nos: "tu me amas?"

terça-feira, 3 de abril de 2012

Semana Santa, terça-feira - Jo 13, 21-33.36-38


"Era Noite..."
Quando Jesus anuncia a traição de Judas, um de Seus amigos e discípulos mais próximos, é noite. Quando Judas sai para consumar seu ato de traição, entregando o Senhor aos que O querem matar, é noite. Quando Pedro, impulsivamente, diz que dará a vida pelo Mestre, sem sinceridade e coragem em seu coração mesquinho, é noite.
A noite, embora física e real, também simboliza a hora do poder das trevas; a hora em que o demônio, inimigo de Deus, estende suas garras. E aqueles que agem conforme Satanás, voltando as costas para Cristo, deixam a verdadeira Luz e, nesta hora, mergulham nas trevas, trocando a Vida pela morte.
Assim também conosco, quando pecamos. Rejeitamos a Deus e arrastamo-nos para as trevas, acorrentando-nos voluntariamente aos grilhões do inimigo, que tudo fará para perder-nos definitivamente e nos tornemos seus escravos por toda a eternidade. E cai a noite sobre as nossas almas.
Porém, basta que o queiramos e a Luz de Cristo voltará a brilhar em nós e para nós. É preciso, apenas, que retornemos a Ele com o coração contrito e humilhado e Ele não nos desprezará (cf. Sl 50).
Pois o Senhor atravessou por nós as trevas daquela noite, vencendo-as. NEle também nós podemos ser vencedores das trevas. Basta olhar para Jesus, que padeceu por nós, e entregar-nos à Sua Misericórdia infinita e invencível.
Judas recusou-se a voltar atrás. Não quis arrepender-se, entregou-se ao desespero e morreu imerso em trevas. Pedro, ao contrário, deixou seu coração despedaçar-se no olhar amoroso do Senhor, arrependeu-se vivamente de seu pecado e, perdoado, tornou-se a Rocha sobre a qual o Senhor edificou a Sua Igreja.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Semana Santa, segunda-feira - Jo 12,1-11


"... a Mim, nem sempre Me tereis"
Em primeiro plano, porém discretamente, está a ação de Maria, irmã de Lázaro de Betânia, que não poupa recursos e unge os pés de Jesus com bálsamo perfumado e caríssimo. Ela o faz sem dizer uma palavra, mas, por causa de seu gesto, a casa fica toda perfumada.
Do mesmo modo, quando realizamos alguma coisa por amor a Deus, pura e simplesmente, ainda que não pareça ter valor aos olhos utilitaristas deste mundo cada vez mais paganizado, o "perfume" do amor enche toda a nossa casa, isto é: nossa vida, em todos os seus aspectos, fica cheia do amor de Deus.
Quando diz que "pobres, sempre os tereis convosco", Jesus mostra claramente que não é possível reduzir a verdadeira religião à realização de boas ações, ainda que sistemáticas, em favor do próximo. O verdadeiro culto a Deus se dá "em espírito e verdade", tornando o amor ao próximo um culto de adoração a Deus unicamente se for a concretização, a manifestação e o transbordamento do amor a Deus.
Se não for assim, o culto ao Deus verdadeiro (que se revelou em Jesus Cristo) perverte-se, tornando-se idolatria do pobre, ideologia ou anestesia da consciência.
É preciso fazer a leitura também para nós, hoje, das palavras do Senhor: "... a Mim, nem sempre Me tereis".
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