sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

III Semana do Tempo do Advento, sexta-feira – Mt 1, 18-24

José era um homem justo. Ou seja, José era um homem que cumpria a Vontade do Senhor, pois a justiça, dentro do contexto bíblico, é a Vontade de Deus, pois só Deus é o Justo e Santo. "Cumprir toda a justiça", para a Sagrada Escritura, significa cumprir a Vontade daquele que é Justo e Santo.

Por isso, quando José fica confuso e quer fazer o que é certo (ou seja, o que Deus quer e espera dele), mas não consegue discernir em meio às circunstâncias o que é o certo (pois as aparências o confundem), então Deus vem em seu socorro, enviando o anjo para esclarecer-lhe tudo o que circunda a gravidez de Maria.

Quanto a nós, se quisermos sempre fazer a Vontade de Deus, ainda que seja difícil, sabemos que o Senhor virá em nosso socorro e não permitirá que as circunstâncias e as aparências nos confundam ou enganem.

O Senhor sempre vem em auxílio dos que O amam e querem em tudo fazer a Sua Vontade.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

III Semana do Tempo do Advento, terça-feira – Mt 21, 28-32

Vale mais diante do Senhor aquele que, convertendo-se de seus pecados, arrepende-se, pede perdão com sincera humildade e, de coração, luta por mudar de vida e seguir a Vontade de Deus. Vale mais esse do que aquele que pensa seguir um caminho sem pecado apenas porque cumpre formal e ritualisticamente alguns preceitos, embora sem amor, e não atende o que lhe pede o Senhor naquilo que é mais essencial em sua vida.

Por isso é que Jesus diz que os publicanos e as prostitutas (considerados os maiores pecadores públicos daquele tempo) precederiam, no Reino de Deus, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo (considerados justos).

Pois os primeiros arrependeram-se de seus pecados e mudaram de vida, convertendo-se para Deus. Enquanto os últimos obstinaram-se em sua arrogância e, crendo-se justos, deram as costas para Deus por causa de sua hipocrisia.

Ninguém é justo diante de Deus, ninguém está isento de pecado. Todos temos algo de que nos arrependermos.

Deus sabe que dificilmente algum de Seus filhos (nós, os homens) corresponde-Lhe imediatamente, sem titubeios, sem medo, sem resistências. Mas que alcancemos essa perfeição no amor, essa é a meta que Ele, nosso Pai, tem para nós, seus filhos queridos.

Enquanto nos esforçamos por chegar lá, eliminando todo orgulho, arrogância e hipocrisia, sejamos, ao menos, como o filho que disse "não", mas depois arrependeu-se e fez a Vontade do Pai.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

III Semana do Tempo do Advento, segunda-feira – Mt 21, 23-27

"Com que autoridade fazes estas coisas?", perguntam a Jesus os sumos sacerdotes e os anciãos, mestres e líderes espirituais do povo naquele tempo, incomodados com os ensinamentos e os sinais (milagres, curar, exorcismos) que Jesus fazia entre as multidões que O seguiam.

Ora, Jesus rebate a hipocrisia deles com outra pergunta, que os faz cair na própria armadilha, e são obrigados a recuar.

Desde aquela época até hoje, a soberba e a hipocrisia humanas interpelam Jesus com arrogância: "quem és Tu? De onde vem a Tua autoridade?". Mas o Senhor continua a negar-se a dar-lhes resposta.

Àquele, porém, que dEle se aproxima de coração aberto, com humildade, buscando sinceramente a Verdade para nela crer e pautar a própria vida, o Senhor jamais recusa responder.

Ao contrário, abrir-lhe-á os braços e dirá: "Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino" (Lc 12, 32).

Tudo o que o Senhor espera para abrir-nos de par em par as portas de Seu Coração é que nos acheguemos a Ele com sinceridade e humildade.

Se queremos ter acesso ao Coração de Deus, basta que Lhe entreguemos o nosso, pois "Deus resiste aos soberbos, mas dá Sua Graça aos humildes" (1Pd 5,5).

domingo, 13 de dezembro de 2009

III Domingo do Tempo do Advento – Lc 3, 10-18

"De muitos outros modos João anunciava a boa nova"

Qual é a boa nova? É a nova, a notícia de que o Messias prometido, o Salvador anunciado há incontáveis gerações está para chegar. E quem é Ele? É Jesus, o Cristo, o Filho do Deus vivo.

João anunciava a Sua vinda com alegria e expectativa, "de muitos modos", exortando o povo à conversão, a voltar-se para Deus.

Hoje, para nós, a liturgia deste terceiro domingo do tempo do Advento faz ressoar a voz de João, anunciando a vinda do Senhor: "virá aquele que é mais forte do que eu. (...) Ele voz batizará no Espírito Santo e no fogo. (...) Vai limpara a sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha, Ele a queimará (...)".

Este tempo de preparação para o Natal do Senhor exorta-nos à conversão, a reconhecer com amor e com humildade que o Menino no presépio é nosso Deus e Senhor e a entregar-Lhe toda a nossa vida, para nos tornarmos "trigo de Deus" com o qual Ele fará "pão de eternidade".

Porque o Senhor, há dois mil anos, já veio. E se nos é dado, mais uma vez, fazer memória e celebrar o Natal de Jesus Cristo, é na perspectiva de Sua vinda futura que devemos fazê-lo.

Nesse dia, o "Dia do Senhor, grande e terrível" (cf. Ml 3, 23), é que "Ele virá com a pá na mão: vai limpar a sua eira".

Movidos hoje, pois, pelo Amor do Senhor que nasce, tornemo-nos "trigo de Deus" para, naquele Dia, sermos recolhidos em Seu celeiro. Porque "a palha, Ele a queimará no fogo que não se apaga".

Ouçamos a voz de João Batista, que até hoje ressoa para anunciar a Palavra.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

II Semana do Tempo do Advento, sexta-feira – Mt 11,16-19

Os homens são como crianças caprichosas: querem que o Senhor Deus lhes satisfaça a todos os desejos e nada lhes peça; esperam que Deus lhes satisfaça às necessidades que imaginam ter, mas nem sempre se agradam quando o senhor satisfaz, com Sua Providência, ao que lhes é realmente necessário, porque isso, ordinariamente, lhes custa alguma renúncia ou sacrifício.

Assim são os homens de hoje e os de sempre. Não eram diferentes os homens do tempo em que Jesus andava sobre a terra.

Rejeitaram a João Batista, porque lhes pregava a penitência, o arrependimento de suas obras más e a conversão sincera de seus corações para Deus. Para eles, esse era um caminho duro demais.

Então veio Jesus, o Filho de Deus e Deus mesmo, ensinando a conversão para o Pai pelos caminhos do amor e da doação. Mas isso implicava renunciar a si mesmo, deixando o capricho e o egoísmo, e então também a Jesus rejeitaram.

No fim de tudo, porém, não haverá como fugir. O homem, mais cedo ou mais tarde, deve voltar-se para Deus, por quem e para quem foi criado, pois só em Deus o homem pode ser verdadeiramente amado e feliz. E para isso deve escolher um caminho, seja o de João, seja o de Jesus.

Todos os caminhos, porém, no fundo, são um só. Pois só existe um Caminho e esse é Jesus Cristo: "EU SOU o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14, 6).

Fora de Jesus Cristo (e de Sua Igreja) não há salvação, "pois não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4, 12), a não ser o nome de Jesus.

Nestes dias que nos foram dados para a nossa peregrinação espiritual rumo a Belém e ao Natal de Jesus Cristo, escolhamos o caminho de conversão que, através do Senhor que vai nascer, nos levará ao Coração do Pai.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

II Semana do Tempo do Advento, quarta-feira – Mt 11, 28-30

"O meu jugo é suave e o meu fardo é leve"

A humanidade carrega, desde o pecado de nossos primeiros pais (Adão e Eva, no Jardim do Éden), o fardo pesado e opressor do afastamento e da separação de Deus.

O homem, criado por Deus e para Deus, vive em absoluta solidão se está longe dEle. E todo o seu ser sofre pela falta de sentido da existência humana que não se projeta para Deus e não se funda no verdadeiro amor, que é a doação de si.

O ser humano não foi feito para fechar-se em si mesmo, de modo egoísta e mesquinho. Não foi feito para viver isolado, sem relação com o semelhante e com a transcendência. Faz parte da natureza humana a abertura à eternidade e, ao mesmo tempo, a abertura ao bem do outro, a doação do próprio ser para a satisfação das legítimas necessidades do próximo, tudo isso através da relação com Deus. Viver em desacordo a tudo isso é amarrar-se à infelicidade e condenar-se a carregar um fardo muito pesado de dor, de culpa e de absurdo existencial.

Este é o fardo de que o Senhor nos quer livrar. Jesus hoje propõe-nos uma troca: Ele assume o nosso fardo e dá-nos o Seu.

Ele, Jesus, manso e humilde de coração, quer ensinar-nos a ter um coração semelhante ao Seu, dando-nos a carregar um fardo de amor, que não cansa, nem atormenta ou oprime, mas dá alívio e descanso a quem se decide a assumi-lo.

Jesus é o Mestre e Senhor de jugo suave e fardo leve que se apresenta hoje diante de cada um de nós. Aquele que se decidir a segui-lO terá paz e descanso.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Solenidade da Imaculada Conceição de Maria – Lc 1, 26-38

"Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra"

Em vista da missão que preparou para Maria, ser a mãe do Filho de Deus, o Pai concedeu-lhe privilégios especiais. Na solenidade que a Igreja hoje celebra, recorda-se um desses privilégios: a Imaculada Conceição de Maria.

Isso quer dizer que Maria não foi concebida ou nasceu com o pecado original, ao contrário de todos os outros seres humanos, que carregamos conosco essa herança de nossos primeiros pais.

Mas, ao contrário do que erroneamente se pensa, esse privilégio não foi dado a Maria porque ela fosse, em si e por si, especial. Foi por causa do Filho de Deus que ela carregaria em seu seio. Pois Ele, o Verbo divino, não poderia habitar em um corpo de pecado.

Assim, Maria foi preservada de todo pecado para ser morada digna do Senhor. Por causa de Cristo, nela foram antecipados os efeitos da redenção operada pelo próprio Cristo e ela se tornou arca da Nova Aliança.

Isso tudo, porém, não tirou de Maria a liberdade. Pelo contrário, o "faça-se" pronunciado por ela depois das palavras do anjo, que lhe aguardava a resposta, foi um consentimento pleno e livre ao que Deus dela esperava e lhe pedia.

Por causa desse "faça-se" e porque foi fiel até o fim ao seu Senhor, diante da cruz de Jesus ela foi tornada Mãe de todos os homens (cfe. Jo 19, 25-27).

Festejemos, pois, hoje, com muita alegria este grande privilégio mariano da Imaculada Conceição. E sejamos bons filhos de Maria, imitando-a em todas as suas virtudes, em especial na humildade e na fidelidade a Deus, pois isso muito agrada ao Coração de Jesus Cristo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

II Semana do Tempo do Advento, segunda-feira – Memória de Santo Ambrósio, bispo – Lc 5, 17-26

"Para que saibais que o Filho do Homem tem poder de perdoar pecados"

O Evangelho que a liturgia nos apresenta hoje mostra Jesus perdoando os pecados de um paralítico e, em seguida, curando-o de sua paralisia. A cura física desse homem, Jesus a promove por dois principais motivos:

  • por causa da fé dos amigos do paralítico, tão grande que os levou a destelhar a casa onde Jesus se encontrava e fazer descer a maca do homem pelo teto para apresentá-lo a Jesus;
  • para que a cura desse homem servisse como um sinal aos mestres de Israel que o poder e a autoridade de Jesus provinham de Deus e que, portanto, Ele podia, sim, perdoar pecados.

No primeiro caso, vê-se a importância da oração de intercessão, isto é, de pedirmos a Deus uns pelos outros. Pois, se temos fé em Deus e em Seu poder e pedimos com amor pelas necessidades de nossos irmãos, o Senhor não nos deixará de atender.
Ainda, quanto à cura do homem paralítico, Jesus estabelece claramente a distinção entre o perdão dos pecados (que é a cura da alma) e o restabelecimento da saúde (que é a cura do corpo). Mais importante é curar a alma que o corpo – a cura física é dada como sinal da cura espiritual.
No segundo caso, Jesus declara e demonstra diante dos fariseus e dos mestres da lei que Sua autoridade é superior à deles. Em si, esses escribas e fariseus não estão errados, pois só Deus pode perdoar os pecados dos homens (que são, em última instância, dirigidos contra Deus, que é sempre o maior ofendido). Mas Jesus é Deus e, por isso, pode, por Sua própria autoridade e poder, perdoar aquele homem. A cura da paralisia, neste caso, serve como sinal externo e visível dessa autoridade do Senhor e da cura que Ele promove na alma do paralítico, talvez mais paralisada pelo pecado do que o corpo pela doença.
Para nós, hoje, a cura do paralítico também deve servir como sinal de que Deus pode curar-nos de nossos males e pecados, através do perdão que Ele nos concede através de Sua Igreja, por meio de Seus sacerdotes.

    sábado, 5 de dezembro de 2009

    I Semana do Tempo do Advento, sábado – Mt 9, 35 – 10, 1.6-8

    "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos"

    É significativo que Jesus se compadeça da multidão que estava "como ovelhas que não têm pastor" e imediatamente depois disso envie os seus discípulos para anunciar a todo o povo que "o reino dos céus está próximo".

    Enviando os discípulos a fazerem o que Ele mesmo estava fazendo, a participar de Sua missão com poderes para curar doentes, ressuscitar mortos e expulsar demônios, Jesus prepara-os, de certo modo, para serem os sacerdotes da Igreja que Ele irá mais tarde instituir.

    Mais ainda: Jesus declara expressamente a imensa necessidade que temos, desde os primeiros tempos da Igreja até hoje, de bons sacerdotes, que sejam pastores à semelhança do Pastor, que é Ele mesmo, Jesus Cristo. Pois as multidões que andam à procura de Cristo estão "cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor".

    O Senhor sublinha a necessidade dos sacerdotes e o dever que tem o Povo de Deus de orar ao Pai pedindo sacerdotes. Mais ainda, o Povo de Deus tem o dever de orar pelos seus sacerdotes, para que sejam santos e fiéis à sua vocação tão sublime e importante, que é ser outro Cristo para os homens.

    Da mesma forma como Jesus "percorria todas as cidades e povoados, ensinando (...), pregando o evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade", os sacerdotes, até o dia de hoje, estão chamados a fazer o mesmo, para conduzir o rebanho ao único Pastor. Meditemos, portanto, na importância da missão do sacerdote para nós e peçamos ao Pai que nos envie muitos e santos sacerdotes.

    segunda-feira, 30 de novembro de 2009

    Festa de Santo André, apóstolo (II Semana do Tempo do Advento) - Mt 4, 18-22

    "Imediatamente deixaram as redes e o seguiram"

    Jesus "viu" Pedro e André, Tiago e João. Viu-os fazendo seu trabalho de pescadores, nas tarefas de cada dia, como nos vê a todos nós. Jesus não vê massas, multidões... Nem mesmo indivíduos sem nome ou sem rosto. Ele vê pessoas concretas, com uma identidade pessoal. Ele vê a cada um de nós e a cada um ama de maneira distinta, pessoal, particular.

    Voltando a André (cuja festa celebramos hoje), Pedro, Tiago e João – o Senhor viu-os e chamou-os. E eles, "imediatamente", deixaram tudo e O seguiram.

    Jesus chamou a esses para serem apóstolos, "pescadores de homens"; a nós, poderá chamar para servi-lO de outra forma. Mas Ele continua chamando, hoje pela voz da Igreja, a cada um de nós, porque é a partir de nós que se dá a construção de Seu Reino.

    Importa que, quando nos chame, tenhamos a mesma disposição de espírito, a mesma diligência desses primeiros discípulos, que depois se tornaram apóstolos do Senhor. Importa que, ao ouvir a Sua Voz, "imediatamente" O sigamos.

    André, Pedro, Tiago e João, ao ouvirem o chamado do Amor que abrasou seus corações a partir daquele instante, corresponderam com amor. Neste tempo de Advento, iniciado ontem, deixemos que nossos corações também fiquem cheios do Amor que vem no Natal, para ouvirmos Sua Voz que nos chama com insistência todos os dias e "imediatamente" O seguirmos.

    sexta-feira, 27 de novembro de 2009

    XXXIV Semana do Tempo Comum, sexta-feira – Lc 21, 29-33

    "Quando virdes essas coisas, sabereis que o Reino de Deus está próximo"

    Estamos acostumados a pensar na vinda de Jesus como o "fim do mundo", o acontecimento final depois de uma série de catástrofes e acontecimentos grandiosos e terríveis que deverão dizimar boa parte da humanidade. E há dois mil anos ouvimos dizer que o "fim do mundo" está próximo, mais ou menos como sinônimo de proximidade da vinda de Jesus. Mais recentemente, se repararmos bem, tem sido dito que o "fim do mundo" está próximo, mas já não se fala (tanto) da vinda de Jesus.

    Antes, porém, de pensarmos no "fim do mundo", Jesus quer que pensemos na Sua vinda para nós. Porque, afinal de contas, é para Ele, para preparar-nos para a Sua chegada em nossos corações, que são direcionados todos os acontecimentos de nossas vidas. O que Ele nos pede, no Evangelho de hoje, é que saibamos discernir os sinais de Sua Presença, que nos acompanha a cada dia, em todos os momentos.

    Ele diz que "minhas palavras não passarão". E as palavras de Jesus são dirigidas a cada um de nós. Ele espera que as ouçamos e acolhamos no coração e sejamos como a figueira, que vai deixando ver seus frutos à medida que o verão se aproxima. Assim saberemos o quanto o Reino de Deus está próximo, o quanto o Senhor já fez a Sua morada em nós.

    quinta-feira, 26 de novembro de 2009

    XXXIV Semana do Tempo Comum, quinta-feira – Lc 21, 20-28

    "Eles verão o Filho do Homem"

    Vivemos, todos os dias, em uma tranqüilidade impressionante. Acordamos, comemos, trabalhamos e dormimos como se fôssemos viver para sempre ou como se o mundo em que vivemos fosse durar eternamente. Só nos damos conta da nossa fragilidade quando, em algum ponto do planeta, ocorre uma catástrofe natural que vitima dezenas ou centenas e até milhares de pessoas. Então compreendemos, pelo menos por alguns instantes, o quanto é precária a nossa situação.

    O Evangelho de hoje reforça essa noção de precariedade frágil, de contingência. Mas aponta para a esperança: "então eles verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória".

    Quando parece que a destruição é iminente, virá Jesus Cristo, o Filho do Homem. Ele porá fim a essa fragilidade que domina e consome nossos dias. É por isso que o desespero não tem lugar para quem crê no Filho de Deus. Ele mesmo encoraja e garante, depois de relatar todas as calamidades e desgraças que haverão de ocorrer nos últimos tempos (ali mais diretamente falando da destruição de Jerusalém que ocorreu no ano 70 d.C.): "quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima".

    É o paradoxo de Jesus Cristo: quando parece que tudo está por ruir, então é que se deve levantar a cabeça, com esperança e alegria, porque a libertação está próxima. Mas isso não nos deve surpreender: também foi assim com Ele (e primeiro com Ele), na cruz. Quando parecia que tudo estava perdido, que a derrota era inequívoca, que tudo havia acabado porque Jesus estava morto, Ele ressuscita dentre os mortos, completando a obra da nossa salvação.

    Quem quiser seguir Jesus, viverá pessoalmente este paradoxo, quando, em meio às tribulações da vida, tiver nEle as maiores alegrias. Até o dia em que o Senhor vier, "com grande poder e glória", para levar Consigo os Seus amados.

    quarta-feira, 25 de novembro de 2009

    XXXIV Semana do Tempo Comum, quarta-feira, - Lc 21, 12-19

    "Todos vos odiarão por causa do meu Nome"

    Jesus passou na terra fazendo o bem e ensinando a todos o caminho para viverem unidos a Deus, segundo a Sua Vontade e na felicidade completa. Por fim, morreu para nos livrar do peso da condenação que nos esmagava e ressuscitou, selando, assim, a Sua vitória contra os nossos opressores: o demônio, o pecado e a morte.

    Diante de Jesus, só é possível ter uma, de duas atitudes: amá-lO ou odiá-lO. Quem O ama, segue Seus passos. Assim como Ele tomou a própria cruz, também o discípulo de Jesus tomará a sua a cada dia, para seguir o Mestre (cfe. Mc 8, 34). E quem decide odiar a Jesus, vai rejeitá-lO e a tudo o que vem dEle.

    A cruz de Jesus Cristo é, portanto, o "divisor de águas" da humanidade. Não se pode seguir a Cristo sem abraçar a cruz, como Ele mesmo o fez. Esperam-nos a ressurreição e a felicidade sem fim com Cristo. Mas, antes, é necessário ser perseverante e fiel no seguimento do Senhor, trilhando o caminho que passa, inevitavelmente, pela cruz.

    Aquele que ama e segue a Jesus partilha com Ele de Sua Cruz e do caminho de sacrifício que Ele assumiu pela salvação dos homens. Por isso, se Jesus foi rejeitado por muitos, também Seu discípulo o será. No decorrer da história da humanidade, nos últimos dois mil anos, não houve um momento em que o verdadeiro discípulo de Cristo não tenha sido perseguido, das mais variadas formas, "pois todos os que quiserem viver piedosamente, em Jesus Cristo, terão de sofrer perseguição". (2Tm 3, 12).

    Mas, com os olhos voltados para o objeto de nossa esperança, que Deus preparou para os Seus amados (cfe. 1Cor 2, 9), devemos perseverar, sabendo que "tudo coopera para o bem dos que amam a Deus" (Rm 8, 28). Como diz o Senhor no Evangelho de hoje: "é permanecendo firmes que ireis ganhar a vida".

    terça-feira, 24 de novembro de 2009

    Memória de Santo André Dung-Lac e companheiros, mártires vietnamitas – Lc 21, 5-11

    Na leitura de hoje (Dn 2, 31-45), o profeta Daniel narra o sonho do rei Nabucodonosor, da Babilônia, e a sua interpretação. Mostra que os reinos e as nações da terra e o seu poderio são como pó e cinza diante de Deus. Os grandes impérios da terra se sucedem um após outro e nenhum deles permanece: todos têm o seu momento de ascensão e então caem e desaparecem, desde os reinos da Antiguidade até hoje.

    No sonho do rei, a pedra que rola da montanha derruba e reduz a pó o poderio das nações e toma a terra inteira, formando "um reino eterno que jamais será destruído". Tanto a pedra quanto a montanha, no Antigo Testamento, eram referências a Deus. Em vários salmos podemos ver Deus sendo chamado de "rocha" ou "rochedo". E, para falar com Deus e para receber as tábuas da Lei contendo os mandamentos, Moisés precisa subir à montanha (o monte Sinai) e lá passar quarenta dias e quarenta noites. Então, no sonho de Nabucodonosor, o reino que prevalece sobre todos os outros e que será firme e estável para sempre é um reino que vem de Deus, é o próprio Reino de Deus.

    Jesus Cristo, que veio ao mundo para anunciar exatamente a vinda desse Reino, quando está ensinando no Templo de Jerusalém chama a atenção das pessoas que o escutam para aquilo que é realmente importante. Mais do que a aparência externa, bela e imponente, do Templo, é preciso ver a sua caducidade – como todas as realidades terrenas, está destinado a passar.

    Importa, então, que Deus reine no coração do homem, o templo que Ele de fato deseja e onde quer estabelecer o Seu Reino. Esse Reino, que Jesus anunciou e inaugurou, cresce e se aperfeiçoa em nós, dentro de nós e ao nosso redor, ainda que não sejamos capazes de percebê-lo. Um dia, a realidade terrena (a "figura deste mundo", como dizia São Paulo) dará lugar definitivamente ao Reino de Deus que está entre nós, mas ainda não se manifestou em sua plenitude.

    Santo André Dung-Lac e seus companheiros, cuja memória celebramos hoje, permitiram que Deus estabelecesse Seu reinado sobre suas vidas e em seus corações. No século XIX deram testemunho com seu sangue desse Reino que não passa. Souberam escolher o mais importante, ver que as coisas da terra são apenas sombra das realidades definitivas e hoje reinam com Jesus Cristo no Céu.

    segunda-feira, 23 de novembro de 2009

    XXXIV Semana do Tempo Comum, segunda-feira – Lc 21, 1-4

    Ofertar a Ti, Senhor, tudo o que temos para viver; tudo o que, afinal, Tu mesmo nos deste. Considerar que nada nos pertence, nada é nosso de fato. Tudo nos vem de Ti. O que temos, foi-nos concedido por Tua misericórdia.

    Não somos mais do que aquela pobre viúva, que não tinha como sustentar-se e vivia da benevolência alheia. Porque também nós vivemos de Ti, Senhor. Se, por um breve instante, nos esqueceres, deixamos de existir.

    Por isso, Senhor, nossa existência só tem sentido se a entregamos a Ti, com amor e por amor; se Tu, Senhor, reinares sobre as nossas breves e efêmeras vidas, para que sejam, em nós, sementes de eternidade.

    Pois dar tudo o que se tem a Ti, morrer para si mesmo a cada dia, tomar a própria cruz e seguir-Te é ganhar a Vida imperecível e reinar Contigo no Céu.

    Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (XXXIV Domingo do Tempo Comum) – Jo 18, 33-37

    "Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz"

    Hoje a Igreja celebra a solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, e o Evangelho nos coloca frente às palavras de Jesus que declara, diante de Pilatos, poucas horas antes de morrer, que é rei.

    Estranha realeza, essa, que coloca Jesus, o Rei, sob a autoridade de um funcionário romano e de algumas autoridades judaicas, elas mesmas submetidas ao poderio de Roma. Estranha realeza essa, de um Rei indefeso e aparentemente sem exércitos para socorrê-lo quando é violentamente torturado e morto. Estranha realeza essa, de um Rei que, ao menos em aparência, reina sobre nada e sobre ninguém e morre sozinho, condenado à morte dos escravos e traidores.

    No entanto, Ele diz: "Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz".

    O testemunho da verdade, que Jesus veio dar, conduz necessariamente à cruz. Para que Seu testemunho seja completo, para que a missão de dar a conhecer aos homens a Verdade (sobre Deus e sobre eles mesmos) seja consumada, Jesus deve dar, até o fim, um testemunho fiel, um testemunho de amor.

    Mas se a cruz marcasse o fim de Sua missão, Jesus não seria Rei. A cruz é o trono de glória desse Rei a quem todas as coisas estão submetidas, porque, ao morrer, Ele venceu a morte e, ressuscitando, deu-nos a Vida plena. Pela ressurreição consuma-se a Sua vitória e a Sua realeza.

    Celebremos, pois, com alegria e esperança a solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Submetamo-nos de todo o coração ao Rei e deixemos que Ele reine sobre nós e sobre as nossas vidas. Vivamos na verdade, ouçamos a Sua voz e deixemos que Ele nos faça verdadeiramente livres, conforme a Sua palavra: "Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo 8, 31-32).

    sábado, 21 de novembro de 2009

    Apresentação de Nossa Senhora – Mt 12, 46-50

    A Igreja celebra hoje a entrega que Maria faz de si mesma a Deus, sua dedicação total, fiel e perseverante à Vontade do Pai, consagrada que era a Deus desde a infância.

    O Evangelho põe em relevo a visão de Jesus a respeito disso, pois Suas palavras colocam em primeiro lugar o vínculo espiritual e, subordinado a este, o vínculo biológico. Se lermos com mais atenção e cuidado veremos que, em lugar de ofensivas, as palavras do Senhor são uma forma de exaltar Sua Mãe. Afinal, quem, dentre os homens e mulheres da terra, mais do que ela ou melhor do que ela cumpriu a Vontade de Deus?

    A esse respeito, diz Santo Agostinho: "Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nascesse a salvação e que foi criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Sim! Ela o fez! Santa Maria fez totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou ela em ser discípula do que mãe de Cristo".

    Para nós, as palavras do Evangelho de hoje devem ser fonte de alegria e de esperança. Podemos ser irmãos de Cristo, se fizermos a Vontade do Pai que está nos céus. Podemos ser discípulos de Cristo se, a exemplo de Maria, ouvirmos a Palavra de Deus e a pusermos em prática (cfe. Lc 11, 28).

    Ao fazermos memória da consagração e da dedicação de Nossa Senhora a Deus, permitamos que ela, mais uma vez, nos aponte Jesus Cristo e nos indique o caminho do cumprimento fiel da Vontade do Pai. Por seu exemplo, podemos ter a esperança e a alegria de que também a nós façam referência as palavras do Senhor quando fala dos seus irmãos, aqueles que procuram fazer em suas vidas o que deles deseja o Pai que está nos céus.

    sexta-feira, 20 de novembro de 2009

    XXXIII Semana do Tempo Comum, sexta-feira – Lc 19, 45-48

    Todos os que fomos batizados formamos parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja, o Templo de Deus por excelência, a grande "casa de oração" para todos os que desejam formar comunhão com o Senhor.

    Também nosso coração é um templo de Deus, uma casa de oração interior que carregamos permanentemente. Não importa o que aconteça, nesta casa de oração interior podemos sempre estar em paz, em silêncio, contemplando e ouvindo a Deus, unidos a Ele.

    Mas a nossa liberdade poderá corromper esta casa de Deus, enchê-la de "vendedores" que atrapalham o seu silêncio e perturbam a nossa oração. E assim Deus será afastado de Sua casa, do nosso coração humano que deveria pertencer-Lhe.

    Jesus Cristo quer expulsar do nosso coração tudo aquilo que nos afasta dEle, para que seja devolvido a Deus aquilo que é Seu. Se permitirmos que nos limpe, que expulse os "vendedores", ficaremos como o povo que O cercava, maravilhado com as Palavras de Seus lábios.

    quinta-feira, 19 de novembro de 2009

    XXXIII Semana do Tempo Comum, quinta-feira - Lc 19, 41-44

    Jesus chorou... É surpreendente, talvez perturbador para alguns, mas Deus chorou... E, no entanto, deveria ser, sobretudo, consolador, porque Deus chorou por nós.
    Ao chorar sobre Jerusalém, Jesus lamenta o fato dos habitantes de Jerusalém (e da Palestina da época, de modo geral) não haverem reconhecido o tempo de sua visitação e Aquele que lhes podia trazer a paz! Pois Deus veio visitar Seu Povo, "veio para os seus, mas os seus não o receberam" (Jo 1, 11), veio trazer-lhes a paz verdadeira, que só Ele pode oferecer. Mas não O quiseram...
    Anos mais tarde, Jerusalém foi devastada pelos romanos e desde essa época até hoje é cenário de morte, desolação, guerra e destruição. Diriam alguns: Deus castigou a cidade e o povo por terem rejeitado e crucificado Seu Filho. Mas não é assim. Deus não quer castigar, muito menos destruir os homens que criou e o povo de Israel, que escolheu como povo de Sua predileção. A devastação sofrida foi a consequência da opção daquele povo, foi o que eles mesmos escolheram ao rejeitar a Deus que os visitava com amor.
    Hoje nós também, tanto quanto o povo de Jerusalém, somos visitados por Deus, por Jesus Cristo. Também a nós, a todo instante, o Senhor oferece paz e consolação, como só Ele pode fazê-lo.
    Quem sabe, algumas vezes no decorrer de nossas vidas, Lhe tenhamos dado motivo para chorar por nós, como chorou por Jerusalém.
    Mas se estamos agora novamente ouvindo ou lendo as Suas Palavras, quem sabe podemos fazer o caminho de volta ao Coração de Deus, quem sabe podemos recebê-lO e reconhecer as muitas vezes, como agora, em nos veio visitar e oferecer a Paz!...
    Não queiramos sofrer, como tantos hoje em dia, a desolação, a falta de sentido para a vida, a angústia, a tristeza que a rejeição a Deus nos traz. A presença de Deus põe fim a todo esse sofrimento inútil e sem sentido e nos dá paz e forças para enfrentarmos com coragem e ânimo o caminho desta vida, rumo à eternidade.
    Voltemo-nos hoje ao Senhor, para consolá-lO das lágrimas que Lhe fizemos chorar e viveremos na Paz e no Amor do Coração de Jesus.

    quarta-feira, 18 de novembro de 2009

    XXXIII Semana do Tempo Comum – Lc 19, 11-28

    Quem é o "homem nobre" que "partiu para um país distante a fim de ser coroado rei e depois voltar"? É Jesus, o Filho de Deus, o Verbo que "se fez carne e habitou entre nós" (cfe. Jo 1, 14). A Sua "coroação" ocorreu na Paixão, quando Ele foi crucificado. Depois disso, Ele "voltou", isto é, ressuscitou e subiu novamente ao Céu para sentar-se à direita de Deus Pai.

    Muitos entre os homens, porém, ao reconhecem a realeza de Jesus e, em seus corações e em suas vidas, rejeitam-nO, dizendo: "nós não queremos que esse homem reine sobre nós".

    Dar ao Senhor o reinado sobre as nossas vidas é, antes de tudo, dar a Ele o que Lhe pertence de direito, pois Jesus é o Rei e Senhor de todo o universo.

    Para nós, concretamente, significa colocar nossas vidas ao dispor de Deus, em Suas mãos, sabendo que Ele, mais do que qualquer um (inclusive nós mesmos), sabe qual é o nosso bem, o que é o melhor para nós. Significa seguir os passos de Jesus Cristo, imitando seus gestos e atitudes; ouvir e assimilar os Seus ensinamentos; amar como Ele amou; e levar aos demais o conhecimento de Sua Pessoa e de Seu Amor, para que muitos lhe dêem o reinado sobre suas vidas.

    Isso é servir ao Senhor, procurar lucrar com as moedas que Ele nos confiou para fazer render.

    segunda-feira, 16 de novembro de 2009

    XXXIII Semana do Tempo Comum, segunda-feira – Lc 18, 15-43

    "Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim"

    O cego, que não enxergava, "via" em Jesus o Filho de Davi, o Messias prometido, mais do que a multidão que acompanhava o Senhor.

    Ele grita por piedade e, ao ser repreendido, grita ainda mais, sabendo-se necessitado da compaixão de Jesus, que é poderoso para livrá-lo da cegueira.

    Não será justamente essa perseverança que o Senhor espera de nós? Que gritemos, sem cessar e sem nos importar com quem nos manda calar, pela piedade de Deus em relação às nossas mazelas, a tudo o que nos afasta de Seu caminho e nos deixa à margem?

    Por sua confiança e perseverança, o cego foi recompensado: Jesus manda que o levem até ele e o cura.

    Parte importante nessa cura também têm o que levam o cego a Jesus; se não o tivessem feito, o milagre teria ocorrido? Muitas vezes seremos nós esses que devem levar a Jesus os que ele deseja curar, porque o Senhor quer que tomemos parte no bem que Ele quer fazer a todos os que dEle necessitam e por ele clamam. Não nos recusemos, pois, a esse serviço. Mas, por nossas orações e ações, levemos para o Senhor muitos irmãos, para que Ele os cure. Assim fazendo, também nós seremos curados.

    domingo, 15 de novembro de 2009

    XXXIII Domingo do Tempo Comum – Mc 13, 24-32

    Jesus, no Evangelho deste Domingo, afirma: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão". As palavras do Senhor são perenes, eternas, não têm data de validade ou vencimento. Mudam as civilizações e as culturas, mudam os gostos e as modas dos homens, muda a forma de pensar e de ver a vida nas gerações que se sucedem; mas o que Jesus, o Filho de Deus e Filho do Homem, disse, ensinou e fez permanece e permanecerá sempre, atravessando séculos e gerações, divina e inesgotavelmente.

    E a Palavra do Senhor é exatamente o nosso critério de vida diante de Deus.

    Um dia o Senhor virá novamente, como Ele mesmo diz, para "reunir os eleitos de Deus de uma extremidade à outra da terra". Ele virá, nesse dia, "com grande poder e glória". Na primeira vez, Jesus veio pequeno, humilde, um entre os homens, para anunciar a boa nova do Reino dos Céus, para ensinar e conduzir os filhos de Deus dispersos, que andavam perdidos, para a unidade de sua família, a Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica, número 1). Nessa segunda e última vez, Jesus virá como Rei e como Juiz, para a instauração definitiva desse mesmo Reino.

    Muitos especularam e especulam, no correr da história humana, quando será esse "Dia do Senhor". Já foram escritos muitos livros; muitos se intitularam profetas e tentaram fazer previsões (todas fracassadas); e hoje muitos filmes de ficção usam esse tema, a maioria prescindindo da explicação religiosa e falando do "fim do mundo"(?). O fato é que "ninguém sabe" quando será esse dia, "somente o Pai", conforme as próprias palavras de Jesus.

    Mas é certo que Jesus, Filho de Deus e Filho do Homem, virá ainda uma vez, seja para cada um de nós no dia em que morrermos, seja para todos os que estiverem vivos no dia em que vier "reunir os seus eleitos".

    E, quando Ele vier, presidirá o nosso julgamento, de todos nós, vivos e mortos, tendo como critério a Sua Palavra, que não passa, e o amor que tivermos vivido à semelhança do Seu Amor, capaz de dar a vida pelos amigos, por todos nós.

    quarta-feira, 11 de novembro de 2009

    Memória de São Martinho de Tours, bispo – Lc 17,11-19

    "Dez leprosos vieram ao seu encontro": a humanidade, com suas misérias, vai ao encontro de Jesus. "Pararam à distância", como convinha a leprosos, pois a lepra é altamente contagiosa e destruidora e, na época, não tinha cura. E gritaram a Jesus, pedindo compaixão (é o homem ferido de morte que grita e pede ao Senhor que dele se compadeça).

    Jesus não faz nenhum gesto. Apenas olha para eles e manda que se apresentem aos sacerdotes para comprovar que estão curados. É digna de nota a fé desses homens, pois vão, mesmo sem ainda terem notado sinais externos de cura. Enquanto andam, sustentados e movidos unicamente pela fé na palavra de Jesus, vão sendo curados. O Senhor quis fazer crescer na fé o espírito desses leprosos, para então dar saúde ao corpo.

    Mas dentre dez que tinha fé, apenas um soube ser reconhecido e grato. Apenas um voltou "glorificando a Deus" e agradeceu a Jesus. Este, entre os dez, foi o que o passo maior na fé.

    Quem de nós não é também um leproso, não tem misérias, fragilidades, pecados? Quem de nós não é necessitado da compaixão de Deus? A quem de nós Deus não oferece constantemente os Seus favores, curas espirituais e físicas, de alma e de corpo? Porém, quantos de nós sabem ser agradecidos?

    Memória de São Leão Magno, papa – Lc 17, 7-10

    "Somos Servos Inúteis"

    Mesmo quando realizamos perfeitamente a Vontade de Deus em nossas vidas é a graça que nos possibilita isso. Então, não podemos ter a presunção de pensar que é mérito nosso se fazemos o que Deus nos pede. Pois, se a Sua graça, isso nos seria impossível. Como disse São Paulo: "o que tens que não tenhas recebido?" (1Cor 4, 7).

    Ainda assim, grande é a misericórdia do Senhor, que tudo nos credita como merecimento, em virtude da Cruz de Cristo. Por isso Ele mesmo, aqui, já nos serve à mesa, nessa antecipação do Céu, que é a Eucaristia; e mais ainda nos servirá quando estivermos com Ele na Vida definitiva, cumulando-nos de felicidade.

    "Que é o homem, Senhor, para nele pensardes e o tratardes com tanto carinho?" (cf. Sl 8,5)

    segunda-feira, 9 de novembro de 2009

    Festa da Dedicação da Basílica de Latrão – Jo 2, 13-22

    Jesus fala de Seu corpo como o Templo de Deus por excelência, visto que Ele é Deus e homem e é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo. Seu corpo, uma vez destruído pelas torturas e pela crucifixão, ressuscitará, pois não pode permanecer em poder da morte.

    Pelo Batismo que recebemos (muitos, quando crianças; outros, já adultos) nosso corpo também se torna templo de Deus, morada do Espírito Santo. Pelo Batismo, a Trindade habita em nós e o Deus único, que se revelou em Jesus Cristo, é o Senhor de nosso corpo. Não devemos, por isso, mantê-lo puro para Deus?

    Jesus expulsou os vendedores e os cambistas. Pode parecer estranho o fato de haver esse tipo de pessoas no Templo. Na verdade, havendo muitos judeus que vinham de regiões distantes à Jerusalém para as festas religiosas judaicas, em especial para a festa da Páscoa, não podiam esses peregrinos percorrer longas distâncias trazendo consigo os animais que deveriam ser oferecidos em sacrifício. Os comerciantes estavam lá para vender aos peregrinos esses animais. Quanto aos cambistas, eram necessários porque os peregrinos deviam fazer o pagamento do tributo do Templo, mas isso não podia ser feito com moedas pagãs, que continham as efígies dos reis e imperadores estrangeiros – então os cambistas faziam a troca das moedas estrangeiras para a moeda do Templo, com a qual se pagava o imposto. Portanto, a presença dos cambistas e dos vendedores era necessária. No entanto, a área destinada a eles ficava fora do pátio do Templo. Eles, porém, superlotavam essa área e invadiam também as dependências do Templo, que deveriam ser locais exclusivamente de oração e oferta de sacrifícios. Invertiam, assim, a ordem das coisas (e subvertiam o Templo), tornando mais importante o comércio do que a oração e os sacrifícios a Deus.

    Quanto a nós: que "vendedores" e "cambistas" deixamos ocupar nosso coração, dando a eles mais espaço que ao Deus vivo, do qual nosso corpo deve ser um templo santo? Procuremos, pois, hoje, descobrir quem ocupa o lugar preferencial em nosso coração e em nossa vida. Façamos, como Jesus, um "chicote de cordas" e expulsemos todos esses invasores para dar o lugar devido ao Senhor, nosso Deus.

    domingo, 8 de novembro de 2009

    XXXII Domingo do Tempo Comum – Mc 12, 38-44

    Generosidade é a palavra deste domingo. Generosidade para com Deus, generosidade para com o próximo.

    A generosidade para com o próximo merece uma superabundante recompensa por parte de Deus, como se vê na história da viúva que recebe o profeta Elias e com ele reparte o minguado pão que lhe resta (1Rs 17, 10-16). Porque a viúva deu tudo o que lhe restava para viver, Deus lhe deu em abundância farinha e óleo para que o pão não lhe faltasse, durante todo o tempo em que Elias esteve em sua casa e durou a seca que castigava aquela região.

    E a generosidade para com Deus recebe de Jesus um elogio, como se vê na história da viúva do Evangelho deste domingo, a segunda viúva das leituras de hoje. Ela, pobre e sem recursos, deposita no cofre de esmolas do Templo de Jerusalém duas pequenas moedas, que são tudo o que possui. Isso não passa despercebido ao Coração de Jesus, que se comove com tamanha prova de amor e de fidelidade a Deus e declara que a oferta da viúva, tão pequena e pobre, supera em valor a de todos os outros que depositam no mesmo cofre as sobras do que têm em abundância. Embora o Evangelho não relate, certamente a viúva foi recompensada e não lhe permitiu o Senhor que faltasse o necessário para o seu sustento.

    A partir da história dessas duas viúvas, tão generosas em sua pobreza, as leituras de hoje nos interrogam sobre a mesquinhez ou a generosidade de nosso coração. E nos convidam, qualquer que tenha sido nossa atitude até hoje, a tornar-nos generosos para com Deus e para com o próximo a partir de agora, na certeza de que é o Senhor quem não se deixa vencer em generosidade, destinando-nos uma grande recompensa, aqui e na outra vida.

    sábado, 7 de novembro de 2009

    XXXI Semana do Tempo Comum, sábado – Lc 16, 9-15

    "Usai o dinheiro injusto para fazer amigos..."

    Pois o dinheiro, que aqui representa todo tipo de bens materiais e riquezas aos quais se apega o coração do homem, não é um fim em si mesmo.

    O dinheiro, os bens, as riquezas, se corretamente usados, também são um meio para chegar ao Céu. Por isso é que Jesus recomenda fazer amigos com o dinheiro injusto, "pois, quando acabar [o dinheiro], eles vos receberão nas moradas eternas".

    Mas que "amigos" são esses? Todo o bem que fizermos nos recomendará diante de Deus. E, principalmente, todos aqueles a quem fizermos o bem serão os defensores de nossa causa quando tivermos de nos apresentar no tribunal do Senhor. São esses os amigos que nos receberão nas moradas eternas, porque "o amor cobre uma multidão de pecados" (1Pd 4,8).

    Importa, porém, que observemos a quem queremos servir. Se escolhermos servir a Deus, rejeitaremos servir ao dinheiro, aos bens, às riquezas, enfim, diremos "não" a todo tipo de apego material. Ao contrário, se decidirmos servir às riquezas, apegar nosso coração ao que é material, teremos de deixar a Deus de lado, abandoná-lO, recusar servi-lO, impedir que entre e transforme nossas vidas para melhor. Porque a ambos (Deus e o dinheiro), diz Jesus, não se pode servir.

    Diz mais ou menos assim uma canção de Bob Dylan, conforme a versão de Vitor Ramil: "seja ao diabo, ou seja a Deus, você sempre vai servir a alguém".

    Nada impede que os bens e as riquezas sejam meios colocados à disposição para o serviço de Deus. Ao contrário, é bom que seja assim. É o que Jesus nos fala no Evangelho de hoje e assim também pensavam santos como Teresa de Jesus, que nada aceitava para si, mas sabia usar o dinheiro das doações que recebia para melhor servir ao Senhor. O mesmo já fazia Francisco de Assis, o santo da pobreza, séculos antes.

    Mas não esqueçamos as palavras de advertência de Jesus no final do Evangelho de hoje: "Deus conhece vossos corações. (...) O que é importante para os homens é detestável para Deus".

    sexta-feira, 6 de novembro de 2009

    XXXI Semana do Tempo Comum, sexta-feira – Lc 16, 1-8

    Um homem rico acusa seu administrador de infidelidade na administração de seus bens e exige-lhe a prestação de contas. O administrador sabe que a acusação de seu senhor é verdadeira, por isso nem sequer perde tempo tentando defender-se. Mas vai rapidamente arranjar uma forma, embora desonesta, de garantir seu sustento, para não ficar na miséria quando o senhor o mandar embora.

    Todos somos administradores dos bens que Deus nos concede, a começar pela vida, que é dom primeiro e fundamental sem o qual não receberíamos os demais.

    Se o Senhor nos chamasse hoje para prestar constas de nossa administração, que Lhe poderíamos dizer? Admitiríamos também a nossa infidelidade?

    Cumpre-nos, porém, olhar a esperteza com que o administrador ajeitou seus negócios para não ficar sem nada, pois até o patrão o elogiou nesse aspecto. Cumpre olhar a esperteza e imitá-la, mas não a desonestidade.

    Sejamos espertos em "invocar o Senhor enquanto Ele está perto, buscá-lO enquanto se pode achar" (cf. Is 55, 6): mudando de conduta e convertendo nosso coração a Deus; procurando nossos amigos entre os anjos e os santos, que estão perto de Deus e podem interceder por nós.

    Assim, no dia da prestação de contas, o que tivermos lucrado com a boa administração compensará a infidelidade anterior e o Senhor haverá de elogiar a esperteza com que procuramos ganhar a Vida nas moradas eternas.

    quinta-feira, 5 de novembro de 2009

    XXXI Semana do Tempo Comum, quinta-feira – Lc 15, 1-10

    "Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles".

    A posição em que os fariseus e os mestres da lei se colocavam era de estarem acima das outras pessoas e de serem eles os justos, enquanto os demais não eram (em especial os publicanos, que cobravam impostos em nome dos dominadores romanos).

    Jesus, porém, inverte a lógica: ao invés de um olhar de condenação, Ele manifesta a alegria quem sente quando alguém se aproxima dEle buscando palavras de Vida eterna e querendo mudar de vida.

    Não quer dizer que não se alegra com aqueles que já estão no caminho, mas que é grande a Sua alegria quando um pecador se converte e busca a justiça e a misericórdia de Deus.

    E quem de nós pode dizer que não tem pecado? Quem pode dizer que é justo, que vive inteiramente de acordo com a Vontade de Deus? Quem pode dizer que jamais pecou? Ou que não tem alguma coisa, grande ou pequena, de que se arrepender?

    Sabendo, pois, que o Senhor não condena o pecador arrependido, antes, quer que se arrependa e se converta para poder salvá-lo, procuremos repassar as nossas vidas, hoje, sob o olhar de Deus. Assim, arrependidos e contritos, busquemos a mudança de vida e voltemos para o Senhor.

    Seremos como a ovelha que se extraviou do rebanho e que Jesus reencontrou e daremos muita alegria ao Coração de Cristo.

    quarta-feira, 4 de novembro de 2009

    Memória de São Carlos Borromeu – Lc 14, 25-33

    Diz São Paulo que "o amor é o cumprimento perfeito da lei" (Rm 13, 10) e recomenda: "não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo – pois quem ama o próximo está cumprindo a lei" (Rm 13, 8).

    O amor de que São Paulo fala não é um mero sentimentalismo. É o amor que decorre de querer o bem do outro, de promover o bem do outro, de reconhecer as reais e legítimas necessidades (materiais e espirituais) do outro e procurar satisfazê-las, de querer fazer o outro feliz. É o amor que se fundamenta na doação de si mesmo.

    Não foi outro o amor de Jesus Cristo por nós: Ele renunciou até mesmo à honra e à glória devidas à Sua divindade para fazer-se um conosco, para doar-se a nós até a última gota de sangue e, assim, dar-nos a Vida.

    Por isso, quem quiser ser discípulo de Jesus Cristo, quem quiser segui-lO, não pode fazer menos do que Ele fez, porque o verdadeiro amor exige de quem ama a total entrega de si. Se Jesus carregou a Sua Cruz, nós, que queremos ser Seus discípulos, devemos carregar do mesmo modo a nossa cruz.

    Mas isso significa "calcular os gastos" para a construção da torre, como explica o Senhor no Evangelho de hoje ("para ver se tem o suficiente para terminar"); ou, antes de "sair para guerrear com o outro", se as forças do exército não são suficientes, enviar mensageiros para "negociar condições de paz". O que Jesus quer indicar com isso? Que o Seu seguimento é um caminho, que se constrói dia após dia; que a formação do discípulo de Cristo não é instantânea, pelo contrário, é um processo. É o que Jesus quer indicar quando diz que é preciso tomar a própria cruz a cada dia.

    Nesse caminho para ser discípulo é preciso cultivar a vida espiritual, buscando a solidez e a união com Deus na oração e na formação das virtudes; procurar a própria formação, o conhecimento da doutrina da fé, para que o amor a Deus tenha bases firmes e coerentes; e doar-se ao próximo, praticando a misericórdia para com ele, a fim de que a imitação de Cristo se concretize no irmão. Por fim, a renúncia de si mesmo implica em esperar tudo de Deus e nada esperar de si; colocar tudo nas mãos do Senhor e confiar inteiramente nEle.

    terça-feira, 3 de novembro de 2009

    XXXI Semana do Tempo Comum, terça-feira – Lc 14, 15-24

    Parece óbvio que é feliz "aquele que come o pão no Reino de Deus" (Lc 14, 15). Afinal, quem não há de querer participar desse Reino e ser feliz com Deus para sempre?

    Assim como parece óbvio que os convidados deveriam querer ir ao banquete que lhes está sendo oferecido. Quem não quer comer, beber e festejar à vontade e sem pagar nada? Mas, diz o Evangelho, "todos, um a um, começaram a dar desculpas" e não quiseram comparecer.

    O fato é que para participar do banquete do Reino existem exigências; não basta ser convidado, pois convidados todos somos. Aceitar o convite significa conformar a vida a Jesus Cristo e à Vontade do Pai por Ele revelada. Isto nem sempre é fácil e implica em fazer renúncias, esquecer de si mesmo, tomar a própria cruz a cada dia para seguir ao Senhor.

    O "dono da casa", isto é, Deus, que oferece o banquete, conhece nossas fragilidades. Ainda assim, Ele nos convida e faz questão da nossa presença.

    Quando Jesus diz que o homem manda o empregado chamar "os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos", não está justamente querendo mostrar que Deus chama a cada um de nós, imperfeitos e fracos, para o banquete de Seu Reino?

    E quando diz que o homem quer obrigar a todos a irem ao seu banquete, para que sua casa fique cheia, não está querendo com isso mostrar o quanto Deus nos ama e deseja a nossa salvação?

    Pois é preciso, apenas, que paremos de dar desculpas e comecemos, agora, a amar a Deus. Enquanto vivemos esta vida, temos tempo de aceitar o convite e nos dirigirmos à mesa no Reino de Deus.

    FINADOS – Mt 25, 31-46

    Tanto nós quanto os falecidos, cujo destino eterno desconhecemos (exceto por aqueles que a Igreja declarou santos, isto é, que já estão no Céu com Deus), temos o mesmo critério de julgamento: o amor. O amor a Deus que se manifesta no amor ao irmão, pois Deus é invisível.

    As obras enumeradas por Jesus, justo Juiz assentado em seu trono de glória, são todas bem concretas: dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; acolher ao peregrino e ao estrangeiro, aos viajantes e migrantes em geral; vestir a quem está nu; assistir e cuidar dos enfermos; visitar os encarcerados.

    São as chamadas obras de misericórdia corporal, através das quais se manifesta concretamente o amor ao próximo, com quem Jesus se identifica.

    O critério do Senhor para medir o nosso amor por Ele já está dado. Se queremos amar a Deus, a quem não vemos, devemos amar o nosso irmão, a quem podemos ver (cf. 1Jo 4, 20). Pois "a fé sem obras é morta" (cf. Tg 2, 26) e o amor que não se traduz em obras concretas, resultantes do desejo de agradar ao Amado, não existe.

    Ao rezarmos hoje e em toda esta semana de modo especial pelos falecidos e confiá-los à misericórdia divina, lembremos que o julgamento deles (que já ocorreu) e o nosso (que um dia virá) será baseado nas mesmas premissas.

    Dizia São João da Cruz, carmelita: "no entardecer da vida sereis julgados quanto ao amor".

    Solenidade de Todos os Santos – Mt 5, 1-12

    São João relata que viu (no livro do Apocalipse) um anjo marcando com o selo de Deus aqueles que Lhe pertencem. E que eram "uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas e que ninguém podia contar". Diz ainda que "estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão".

    Estar de pé diante do Senhor, que é o Cordeiro imolado do Apocalipse, significa poder apresentar-se como justo diante dEle, como "servo bom e fiel", que não tem o que temer da parte do Senhor, pois cumpriu a Sua Vontade. As vestes brancas indicam a pureza e a santidade, enquanto as palmas na mão significam o martírio, o testemunho da fé dado com o sacrifício de si mesmo.

    E esses, conforme São João, eram "uma multidão imensa", "que ninguém podia contar".Eles são a multidão dos santos, daqueles que fizeram das palavras de Jesus no Evangelho o seu programa de vida: "bem-aventurados...".

    As bem-aventuranças são, antes de mais nada, um programa de santidade dado pelo Filho de Deus, que "se fez carne e habitou entre nós".

    E isto é o que todos somos chamados a ser: santos, isto é, aqueles que desejam amar e servir fielmente ao Senhor e em tudo fazer a Sua Vontade. As bem-aventuranças dão o tom e o critério dessa vida de perfeição à qual Deus nos chama.

    E ser chamado a ser santo, a ser perfeito quer dizer, simplesmente, que a perfeição ou santidade (que é amar e querer cumprir sempre a Vontade de Deus) deve ser o objetivo maior de nossas vidas.

    Quem aceitar essa proposta do Senhor tem, nas bem-aventuranças, um programa de vida espiritual e humana, que vai lutar por atingir a cada dia, um passo de cada vez.

    Jesus sabe que teremos algumas vitórias e também muitas dificuldades e derrotas. Ele conta com isso e, por isso, nos dá a força do Espírito Santo. Pois, mais que tudo, o que Ele espera é a nossa perseverança.

    sábado, 31 de outubro de 2009

    XXX Semana do Tempo Comum, sábado – Lc 14, 1.7-11

    "Eu sou o que sou diante de Deus", já dizia um santo do século XX.

    Deus sabe quem somos e o que há no mais profundo de nossos corações; conhece todos os nossos pensamentos, até os mais íntimos; vê a intenção com que realizamos todas as nossas ações. Para Deus, nada está oculto.

    A "festa de casamento" significa o Reino dos Céus. No Reino, ninguém pode ocupar o lugar que não é seu. E os primeiros lugares estão reservados àqueles que mais e melhor serviram ao Senhor em suas vidas, com toda a humildade, isto é, reconhecendo o que verdadeiramente são: criaturas limitadas, imperfeitas, fracas, falíveis e pecadoras diante de seu Criador todo poderoso, infinitamente bom e justo, que é Amor.

    Jesus incentiva, então, a que deixemos as honras para Deus e não busquemos senão a Sua glória em tudo o que fizermos. Que procuremos servir a Deus e aos homens, fazendo o bem a todos e buscando o bem de todos, sem desejarmos ser servidos ou receber honra própria. Que sejamos instrumentos discretos e silenciosos do Amor de Deus para a salvação dos demais. Que só de Deus esperemos recompensa e que esta seja Ele mesmo.

    XXX Semana do Tempo Comum, sexta-feira – Lc 14, 1-6

    Na maioria dos casos de curas realizadas por Jesus, no Evangelho, são os doentes que vão em busca do Senhor e Lhe pedem a cura. Mas nesta refeição, na casa do fariseu, o hidrópico não Lhe pede nada, é Jesus quem toma a iniciativa de curá-lo.

    Se estamos sós, desanimados, sofrendo física ou espiritualmente, como o hidrópico do Evangelho, Jesus vem ao nosso encontro. Porque somos os Seus filhos caídos no poço e Ele não hesitará em vir socorrer-nos, mesmo que seja em "dia de sábado", ou seja, mesmo que a situação seja desfavorável, mesmo que estejamos longe dEle, mesmo que haja qualquer impedimento.

    Pois mesmo se fôssemos tão valiosos quanto um boi, Ele não nos deixaria abandonados. Nós, porém, somos os Seus filhos amados, pelos quais Jesus deu a própria vida na cruz.Temos muito valor, porque somos filhos. Em Seu imenso Amor, nosso Senhor sempre vem em nosso socorro, ao encontro de nossas necessidades e continuamente vela por nós.

    quinta-feira, 29 de outubro de 2009

    XXX Semana do Tempo Comum, quinta-feira – Lc 13, 31-35

    No Evangelho de hoje, Jesus afirma que fará tudo o que veio fazer (ensinar, curar, expulsar demônios) e que terminará o Seu trabalho (pela Paixão, Morte e Ressurreição, completando assim a obra da Redenção), "no terceiro dia".

    Ou seja, o Senhor fará tudo o que deve fazer, sem deixar nada incompleto ou inacabado, e o fará no tempo estabelecido segundo os desígnios de Deus.

    Nenhum poder humano conseguirá interromper o Seu trabalho. Ninguém poderá impedir Jesus de consumar a Salvação dos homens.

    Entretanto, Jesus lamenta por Jerusalém. Não só pela Jerusalém daquele tempo, representativa da casa de Israel, que não quis recebê-lO. Na lamentação por Jerusalém o Senhor lamenta por todos os homens, de todos os tempos, que se recusam a recebê-lO na pessoa daqueles que Ele envia.

    Jesus lamenta por todos os homens, em todos os tempos, de quem, em virtude de sua rejeição à Salvação que o Senhor lhes oferece, se poderá dizer: "eis que vossa casa ficará abandonada".

    Quando nosso Senhor bater à nossa porta, não O rejeitemos. Não sejamos nós, para ele, motivo de lamentação. Pelo contrário: seja o nosso coração uma casa para Jesus, um lugar onde Lhe agrade habitar. Sejamos para Ele motivo de alegria, no dia em que vier nos visitar.

    quarta-feira, 28 de outubro de 2009

    Festa de São Simão e São Judas Tadeu, apóstolos – Lc 6, 12-19

    Depois de libertar os hebreus da escravidão do Egito, quando ainda os conduzia pelo deserto, Deus chamou Moisés à montanha, ao monte de Deus, o Sinai, para dar-lhe a Lei, o conjunto dos seus mandamentos, e fazer dos hebreus um povo, o povo de Israel, o Povo de Deus.

    A montanha, desde o Antigo Testamento, é o lugar da manifestação de Deus, para onde Ele chama os seus representantes quando quer lhes transmitir as ordens e as palavras mais importantes.

    Da mesma forma como Moisés subiu a montanha para receber de Deus a Lei e transmiti-la ao antigo Povo de Deus, permanecendo a sós com Iahweh durante quarenta dias e noites, assim agora Jesus sobre sozinho a montanha, permanecendo a noite inteira com o Pai, em oração. Chama, então, para estar com Ele, doze entre os discípulos que O seguiam, para constituí-los apóstolos (enviados) e formar, a partir deles, o novo Povo de Deus, que é a Igreja.

    Depois de fazer isso, Jesus desce a um "lugar plano", isto é, vai ao encontro da multidão que espera por Ele e que dEle necessita. Ensina a todos, dá-lhes a Sua Palavra, cura-os fisicamente de suas doenças e também lhes dá a cura espiritual, expulsando os demônios que os atormentavam.

    Note-se, porém, que Jesus faz isso depois de ter escolhido os apóstolos. Por que não o faz antes? Para mostrar-nos que é através da Igreja, construída sobre o fundamento dos apóstolos, que o Senhor quer ensinar, alimentar, curar e conduzir o Seu Povo.

    É por meio da Igreja que o Senhor chega a todos os homens, em todos os tempos, que vão à Sua procura e buscam nEle o remédio para as suas almas e a vida que não perece.

    Jesus, através de Sua Igreja, continua até hoje ensinando, pregando a Palavra, curando física e espiritualmente, expulsando os demônios dos que por eles são atormentados.

    A ação do Senhor não se realizou apenas há dois mil anos, na Palestina. Continua até hoje, em todos os lugares, atualíssima e atuante, onde se encontra a Igreja de Cristo.

    Se alguém, hoje, quer ver Jesus, quer ir até Ele para ouvi-lO e para ser curado, como a multidão daquele tempo o fez, vá até a Igreja: procure a Igreja e encontrará o Senhor. A quem o procura de coração sincero e aberto, Jesus jamais decepciona.

    terça-feira, 27 de outubro de 2009

    XXX Semana do Tempo Comum, terça-feira – Lc 13, 18-21

    A porção de fermento, se comparada com a quantidade de farinha usada no cozimento do pão, é insignificante. Mas basta essa pequena quantidade, bem misturada à farinha e aos demais ingredientes, para que o pão cresça e se torne macio e gostos, agradável ao paladar, indispensável como alimento.

    A pequena semente de mostarda, apesar da dimensão tão ínfima, discretamente se desenvolve e cresce, até tornar-se um arbusto tão grande que os passarinhos nele podem fazer seus ninhos.

    O Reino de Deus tem, aparentemente, a pequena dimensão da semente de mostarda. Mas essa minúscula semente já foi semeada no jardim de Deus, que é a terra onde vivem os homens, Seus filhos, por Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem. No correr dos séculos, a semente se desenvolve e cresce, lenta e discretamente, até que se torne a grande árvore que a todos abriga.

    Mas não só exteriormente o Reino de Deus cresce. Assim como o fermento, que se mistura à massa por dentro para dar gosto e fazer do pão verdadeiro alimento, o Reino de Deus entra no coração do homem, fermenta-o e nele cresce e se desenvolve, interiormente, até que o homem todo, até que toda a sua vida seja parte indivisível do Reino de Deus.

    Sem triunfalismo, sem ostentação, devagar e em silêncio, o Reino de Deus cresce, no interior do homem, em todos os homens, na sociedade humana, segundo a Vontade do Senhor, até que tudo pertença ao Reino e tudo lhe esteja conformado.

    Nessa medida do Reino, que começa pequenino e depois toma conta de tudo, devem entrar os nossos corações. Que também eles sejam "fermentados" pelo Reino de Deus e se tornem solo fértil para suas sementes de vida plena.

    segunda-feira, 26 de outubro de 2009

    XXX Semana do Tempo Comum, segunda-feira – Lc 13, 10-17

    Todos os dias são dias em que Deus manifesta o Seu Amor e as Suas maravilhas entre os homens. A misericórdia de Deus se derrama sobre nós a cada momento.

    Não pode o ser humano ter a presunção de determinar a ação de Deus ou dar-lhe limites. O homem, sim, porque é um ser contingente, precisa de tempo, ritmos, limites e regras.

    Não foi por outro motivo que o Senhor, no tempo de Moisés, havia prescrito os dias de semana para o trabalho e o sábado para o descanso e para a adoração e o louvor de Deus: deve haver um tempo para cada coisa na vida humana, a fim de que o homem possa viver bem, com equilíbrio.

    Mas se a prescrição de Moisés era ainda válida, no tempo de Jesus (tanto quanto é até hoje para os cristãos a prescrição do domingo), não por isso dever-se-ia esperar passar o sábado para manifestar-se o Amor e a Misericórdia divinas. O Filho do Homem, Jesus Cristo, é Senhor do sábado, como diria em outra ocasião.

    Jesus não tira o valor e a importância do sábado (que, para os cristãos, passa a ser o domingo, por causa da ressurreição do Senhor). O que Ele condena é o ritualismo daqueles homens, que colocam a observância do sábado acima da compaixão humana e do amor ao próximo, do socorro às necessidades dos demais.

    Não é possível deixar desatendido o irmão que bate à nossa porta em nome de um suposto amor a Deus que é, muito mais, um atender de nossa própria conveniência.

    Jesus se identifica com aqueles que veio salvar (nós, os homens e as mulheres da terra). Por isso, a atitude que tivermos em relação ao outro, teremos em relação a Ele mesmo ("cada vez que o fizestes a um destes... a Mim o fizestes", "todas as vezes que o deixastes de fazer..., foi a Mim que o deixastes de fazer", cf. Mt 26, 40.45) e dará autenticidade ao nosso culto a Deus e à observância do domingo, o Dia do Senhor.

    domingo, 25 de outubro de 2009

    XXX Domingo do Tempo Comum - Mc 10, 46-52

    Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho, isto é, estava à margem da vida: sua cegueira era considerada um castigo divino, dado em razão de um pecado seu ou de seus pais; também era maldição, pois o impossibilitava de ler a Torá, tornava-o impuro e impedia-o, por isso, de participar das cerimônias religiosas e de oferecer sacrifícios ou mesmo entrar no Templo de Jerusalém.

    Mas Jesus passa por seu caminho e ele grita por piedade. Jesus, então, o cura e Bartimeu passa a seguir ao Senhor, tornando-se seu discípulo.

    De que lhe adiantaria recuperar a visão física, se não fosse primeiro curado dos olhos da alma? Bartimeu joga fora o manto antes de lhe serem abertos os olhos do corpo, porque naquele instantes Jesus lhe concede o mais importante: a visão espiritual, sobrenatural, a visão da fé. Ainda cego, Bartimeu já pode ver com clareza Aquele que é o Senhor.

    Não mais inerte, semimorto, à margem, Bartimeu abandona o "homem velho", a sua antiga vida de amaldiçoado, levanta-se e anda em direção a Jesus. Então recebe dEle a cura física.

    Mas a cura de Bartimeu não termina aí. Aquele que há poucos segundos era cego já não pode mais voltar ao que deixou para trás, pois recebeu de Cristo uma vida nova. Começa, então, a segui-lO. Torna-se discípulo de Jesus.

    O evangelista, depois, não fala mais de Bartimeu. Mas Jesus está subindo a Jerusalém para sofrer a Paixão, morrer e ressuscitar. Se Bartimeu tornou-se um discípulo fiel, seguiu o Senhor também em Seu caminho de dor.

    No fundo, o itinerário de Bartimeu também é o de cada um de nós. Esse discípulo sem nome (diz o Evangelho apenas que é "filho de Timeu") começa sua jornada na escuridão, mas o encontro com Jesus leva-o à luz e ao seguimento do Senhor. O que aconteceu (e acontece conosco) depois está em aberto: o Senhor deixa livres os que ama, cura e chama, para que O amem e, nessa liberdade, continuem a segui-lO também nos momentos difíceis.

    Virá o dia, para os que Lhe forem fiéis e perseverarem no Caminho, em que "Ele enxugará toda lágrima de seus olhos" (cf. Ap 21, 4).
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