sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vida de Santo Antão

I Semana do Tempo Comum, sexta-feira
Memória de Santo Antão (17 de janeiro)


Origem e formação cristã de Antão

Santo Antão é também conhecido por “Santo Antônio do Egito”, “Santo Antônio, o Grande”, “Santo Antônio Abade”, ou ainda “Santo Antão, o Eremita”. Ele é considerado como o fundador do monaquismo cristão.
Segundo Santo Atanásio, sobre quem falaremos mais adiante, Antão nasceu no Egito, no ano 251, num lugarejo chamado Coma, hoje Qemans, província de Beni Suef, na margem ocidental do Rio Nilo, e faleceu no ano 356, portanto, com 105 anos.
Para situar melhor o leitor, convém lembrar que o Egito é um País que fica no Nordeste da África, perto da terra onde Jesus nasceu, viveu e morreu. O Povo de Deus viveu por muito tempo no Egito, e de lá foi tirado por Moisés.  Jesus também viveu parte de sua infância no Egito, quando para lá foi levado por Maria e José, fugindo da perseguição de Herodes, e lá permaneceu até a morte deste.
O Egito é um País quente, onde chove pouco, e ali na região onde viviam os pais de Antão, a única fonte d’água existente era o Rio Nilo. A prosperidade ou a penúria dos lavradores do Egito dependiam do Nilo. E Antão viveu toda sua juventude dentro deste contexto. Como lavrador e criador, lutava com búfalos, com roda d’água, com agricultura.
Seus pais, egípcios de origem, eram ricos agricultores que cultivavam grande área de terras férteis, localizadas às margens do Rio Nilo.  Apesar de se falar muito da riqueza dos pais de Antão, Santo Atanásio, seu primeiro e principal biógrafo, apresenta-nos Antão como colono egípcio, praticamente iletrado, filho de pais abastados.  Talvez se fale muito na riqueza de seus pais para salientar mais ainda a grandeza de sua renúncia.
Os pais de Antão eram cristãos, apesar de viverem num País tradicionalmente politeísta, ou seja, onde o povo cultuava e adorava vários deuses falsos, sob forma de animal sagrado ou personagem divinizado.
Como cristãos, os pais de Antão procuravam educá-lo na doutrina de Cristo,
e seguindo os seus ensinamentos. Estavam sempre atentos para que seus filhos, pois Antão tinha uma irmã, não se deixassem envolver pelos costumes religiosos egípcios, nem pelos ensinamentos filosóficos pagãos dos gregos. Tão preocupados estavam com a educação cristã de Antão e atentos para que nenhum hábito ou influência menos cristã viessem macular a pureza de sua fé, que nem sequer mandaram Antão à escola, surgindo daí a crença de alguns de que ele tenha crescido analfabeto.  Porém, esta suposição talvez não seja totalmente correta, pois ainda hoje existe uma carta autêntica de Antão, endereçada ao Abade Teodoro e seus monges.  Sabe-se também que Antão respondeu algumas cartas que lhe foram enviadas pelo Imperador Constantino, e também tomou a iniciativa de escrever várias outras ao Imperador, pedindo para que reconduzisse seu amigo, o Bispo Atanásio, à sede de sua Diocese, Alexandria.  Consta ainda que escreveu várias vezes a seu discípulo Hilarião, que vivia na Palestina, e ainda teria escrito várias cartas e sermões para jovens eremitas. A vida de Santo Antão, escrita por Santo Atanásio, também salva muitos de seus sermões e discursos, pronunciados durante suas duas estadas em Alexandria. Uma regra monástica datada daquela época é creditada como tendo os seus ideais, suas idéias e suas crenças.  É possível, no entanto, que ele tenha ditado suas cartas para um de seus discípulos escrever.
Em todo caso, é certo que Antão não se dedicou muito aos estudos.  Contentou-se em saber ler e escrever a língua materna, e não quis aprender a literatura grega, o que era comum aos jovens ricos de sua época, para evitar a influência de outros costumes e outras culturas na sua vida. 
Antão era um jovem de grande piedade. Enquanto outros jovens de sua idade divertiam-se a valer, Antão trabalhava no campo, ou ficava em casa e passava suas horas livres em piedosas orações e lendo as Sagradas Escrituras, que eram fonte inspiradora de sua vida, na imitação de Cristo.  Agradava-lhe a vida tranqüila em casa, obediente aos pais e, sobretudo, aos sermões que escutava na Igreja, aos Domingos, cujas lições e princípios conservava no coração.  Herdara de seus pais uma fé incomum e uma obediência incondicional à lei de Deus.  Para Antão, a Lei de Deus não podia ser posta em discussão.  Também de seu pai ele aprendeu a rejeitar os prazeres enganosos que o mundo oferece.  A sabedoria de Antão não era fruto do saber humano nem de longos estudos, mas era um dom de Deus.  Sua bagagem espiritual e intelectual era resultado do que via e ouvia na Igreja, nos sermões do padre e nas leituras bíblicas.  Com a morte de seus pais, privado de suas orientaçãos, ouvia atentamente na Igreja, as lições tiradas da Bíblia e as tomava como ordens de um Pai cuja autoridade considerava maior do que a do outro, que havia morrido. Como filho obediente que sempre fora, esforçava-se, cada vez com mais zelo, cada vez com mais rigor, por viver fielmente, de acordo com os ensinamentos de seu Pai Celestial.    
Durante sua infância, esforçava-se por ser fiel a seu pai da terra, mas agora, visto que ele havia morrido, via cada vez mais claramente que era seu dever ser mais fiel ainda a seu Pai do Céu e tornar-se digno da graça de Deus, lutando por atingir um alto grau de perfeição.
Quando os pais do jovem Antão morreram, ele estava completando seus dezoito ou dezenove anos.

Fiel ao chamado de Deus

Quando Antão tinha 18 ou 19 anos, um acontecimento veio modificar toda sua vida. No ano 270, em rápida sucessão, morreram os seus pais, e ele ficou em companhia da única irmã que tinha. Não sabemos o nome da irmã de Antão, que era mais jovem do que ele, e logicamente de me­nor. Tudo o que era de seu pai, pertencia agora ao jovem Antão e sua irmã, pois herdaram os bens da família. Portanto, econo­micamente ficara em boa situação. Moralmente também, pois, de seus pais herdara uma boa educação cristã, e agora, como chefe da pe­quena família, aparecia diante da comunidade com uma vida moralmente correta e de economia sólida, apesar de sua pouca idade. Queria continuar a tradição familiar, por isso procurava administrar bem tudo o que o pai lhe deixara em he­rança, aumentando sempre mais o seu patrimônio, sem esque­cer a prática da fé, fruto da boa educação cristã que recebera.
O pai de Antão tinha vivido uma adesão incondicional aos Mandamentos de Deus e havia transmitido a seu filho esta sua obediência e piedade inatas.
Certa vez, seis meses depois da morte de seus pais, du­rante a Missa dominical, que Antão jamais perdia, escutou a lei­tura daquela passagem do Evangelho em que Nosso Senhor aconselhou um determinado jovem que desejava atingir a vida perfeita, a desapegar-se de todos os bens terrenos, dar tudo aos pobres e depois seguir a Jesus (Mt 19,16-22). Terminada a leitura do Evangelho, Antão se sentiu chamado. Começou então a refletir como tinham os Apóstolos abandonado tudo para seguir Jesus e como aqueles dos quais se fala nos Atos, 4,34-35, vendiam seus bens e levavam o produto aos pés dos Apóstolos, para ser repartido com os necessitados… Não precisou mais na­da. Deus lhe falava clara e diretamente pela leitura bíblica que escutara. O que ele acabava de ouvir eram ordens de seu Pai. E as ordens de seu Pai do Céu, Antão não discutia. Levantou-se, deixou a Igreja, vendeu suas terras e seus rebanhos, colocou sua irmã numa casa de senhoras piedosas, espécie de con­vento que abrigava jovens e senhoras que também queriam de­dicar sua vida a Deus, assegurando-lhe os meios necessários para seu sustento, depois distribuiu aos pobres da aldeia todo o dinheiro que lhe restava e cuidou em realizar seu ideal de po­breza absoluta e solidão.
Antão estava convencido de que as palavras que Cristo dissera ao moço rico da Galiléia, aplicavam-se a ele, o jovem ri­co de Coma, e por isso ele não duvidou em desembaraçar-se logo de tudo o que possuía e fazer-se pobre, voluntariamente, para toda a vida. Da noite para o dia o rico jovem de Coma tornara-se po­bre. Seu pão cotidiano não estava mais garantido. A partir de agora, ia enfrentar todas as privações da pobreza.
Não sabemos o que aconteceu com o moço rico da Galiléia, depois que ouviu as palavras de Jesus e retirou-­se triste, cabisbaixo, porque possuía muitos bens, no entanto sabemos, isto sim, que o jovem rico de Coma, o jovem Antão, que viveu no século III depois de Cristo, cumpriu à risca, sem pensar duas vezes, a exortação dirigida, tanto tempo antes, ao jovem da Galiléia: decidiu aceitar o desafio que Deus Ihe fazia e viver sua vida de acordo com o conselho de Jesus ao jovem rico da Galiléia.
Para nós que vivemos hoje, Antão é um belo exemplo, lamentavelmente pouco conhecido, do que acontece a alguém que se decide a seguir os conselhos do Evangelho, com suas plenas conseqüências.
A vocação de Antão tem um caráter evangélico, pois, foi a força regeneradora do Evangelho que o transformou, e é esta mesma força regeneradora que explica o fato de ter ele conser­vado em toda sua vida uma referência essencial à Sagrada Es­critura e à Igreja.
Vamos terminar este capítulo fazendo juntos a seguinte reflexão: Como é importante para a formação dos filhos, o exemplo dos pais!!! Os pais de Antão Ihe haviam transmitido, pela palavra e sobretudo pelo modo de viver, pelo exemplo, a fé cristã e através da escuta atenta da Palavra de Deus e de seu confronto com a vida, a fé que Antão herdara de seus pais se tornou comprometida, tornou-se vida…
E assim, a partir da herança espiritual que Ihe deixaram os seus pais, e da fidelidade ao chamado de Deus, começou a história de um santo; e assim começou e pode ainda começar a histó­ria de tantos outros santos de ontem e de hoje…

O Santo da Renúncia

A decisão de Antão significara completo rompimento com o passado. Nisto ele foi radical. Não fez concessões. A renúncia foi total. Às vezes não conseguimos avançar no caminho da santidade, porque fazemos concessões: concessões a costu­mes introduzidos por falsos progressos da sociedade, conces­sões a prazeres ilícitos, concessões a uma certa sociedade pa­gã, indiferente e às vezes até contrária aos ensinamentos do Evangelho.
De início, Antão se retirou a um lugar vizinho à sua aldeia, para levar vida de eremita, ou seja, vida solitária, toda consa­grada ao trabalho, à oração, e à leitura das Sagradas Escrituras.
Para realizar seu ideal, Antão necessitava dos conselhos e também do exemplo de alguém que tivesse sabedoria e experiência suficientes para ajudá-lo e guiá-lo nesta difícil caminhada que escolhera.  Perto do lugar para onde ele havia se retirado, vivia um ancião que levava vida solitária desde a sua moci­dade.  Ele fora forçado a fugir às perseguições do Império Ro­mano e vivia numa cabana não muito longe de Coma. Antão o procurou, e ele se tornou seu amigo e conselheiro.  Foi com ele que aprendeu a vencer as tentações que o perseguiram tanto a partir daquele momento.
Aquele ancião sugeriu a Antão que estivesse sempre uni­do a Deus pela oração; não ficasse ocioso, mas trabalhasse sempre; mortificasse o seu corpo, não satisfazendo os seus de­sejos sexuais desordenados; e jejuasse bastante, somente tomando o alimento necessário e suficiente para o sustento de seu corpo.
Antão obedeceu rigorosamente aos conselhos de seu amigo, levando uma vida de penitência rigorosa. Por exemplo: observava as vigílias noturnas com tal determinação, que a miúdo passava toda a noite sem dormir, e isso não só uma vez, mas muitas. Assim também comia só uma vez ao dia, depois do cair do sol; às vezes cada dois dias, e com freqüência tomava seu alimento só depois de quatro dias. Durante muito tempo sua alimentação consistia em pão e sal; como bebida tomava só água. Não necessitamos sequer mencionar carne ou vinho, porque tais coisas tampouco se encontravam entre os demais ascetas. Contentava-se em dormir sobre uma esteira, embora regularmente o fizesse sobre o simples chão. Tinha por modelo o Profeta Elias.  Foi um asceta perfeito, acabado, o tipo de asceta cristão. Asceta é aquele que treina seu corpo e seu espírito, por meio da penitência, para enfrentar e vencer as tentações, as tendências e inclinações menos no­bres do homem; é aquele que impõe a si mesmo, penitências, privações, trata com rigor o seu corpo, negando-se a satisfazer muitos dos seus desejos, não para destruí-lo, e sim para dominá-lo e fazê-lo obediente aos desejos mais nobres do homem.
Sabemos o que são cilícios: instrumentos de mortificação que muitos usaram, e alguns usam ainda hoje, para castigar, subjugar, domar o corpo rebelde, não permitindo que ele se transforme em instrumento de pecado.  Pois bem, os cilícios es­tiveram sempre presentes na vida de Antão. Na sua vida, o as­cetismo atingiu horizontes quase inatingíveis por uma criatura humana. A humildade, a pobreza, a renúncia torna­ram-se símbolos, e alcançaram uma dimensão quase heróica, de maneira que Antão, o asceta perfeito, passou para a história como um símbolo eternamente válido de abnegação universal; e possivelmente um dos personagens mais fascinantes e polêmicos da história dos santos.
Na época em que Antão resolveu levar vida de eremita, havia no Egito enormes sepulcros abandonados, que eram co­mo cavernas que podiam até oferecer um abrigo a quem não tivesse onde morar.  Nesta primeira etapa de vida solitária, Antão escolheu um desses sepulcros, dos mais afastados da cidade, e lá se recolheu, depois de pedir a um de seus amigos que, de tempos em tempos, não esquecesse de levar-lhe pão. Nessa ca­verna ele foi alvo das maiores e mais terríveis tentações do de­mônio, de tal maneira que não é possível falar da vida de Antão sem mencionar as tentações de todo tipo que perturbaram sua solidão no deserto.
Quando Antão se recolheu em uma daquelas tumbas, seu amigo fechou a entrada por fora, e assim ficou dentro, sozinho. Certa vez o demônio o açoitou tão implacavelmente que ficou lançado no chão, sem fala, pela dor. Afirmava que a dor era tão forte que os golpes não podiam ter sido infligidos por homem algum, para causar semelhante tormento. Pela Providência de Deus – porque o Senhor não abandona os que nele esperam – seu amigo chegou no dia seguinte trazendo-lhe pão. Quando abriu a porta e o viu atirado no chão, como morto, levantou-o e o levou até a Igreja da aldeia e o depositou sobre o solo. Muitos de seus parentes e da gente da aldeia sentaram-se em volta de Antão como para velar um cadáver. Mas, pela meia-noite, Antão recobrou os sentidos e despertou. Quando viu que todos estavam dormindo e o seu amigo se achava acordado, fez-lhe sinais para que se aproximasse e pediu-lhe que o levantasse e levasse de novo para os sepulcros, sem despertar ninguém. 
O homem levou-o de volta, a porta foi trancada como antes e de novo ficou dentro, sozinho. Pelos golpes recebidos, estava demasiado fraco para manter-se de pé; orava então, estendido no solo. Terminada sua oração, gritou: “Aqui estou eu, Antão, que não me acovardei com teus golpes, e ainda que mais me dês, nada me separará do amor de Cristo” (Rm 8,35). E começou a cantar: “Se um exército se acampar contra mim, meu coração não temerá” (Sl 26,3). As forças do mal lançaram contra ele todo seu poder para fazê-lo desistir.  Antão sustentou uma luta corpo a corpo com os espíritos do mal.  Com a graça e o poder de Deus, o jovem egípcio foi o vencedor. A cada tentação, po­rém, a cada ataque, Antão respondia com penitência mais rigo­rosa. Durante aproximadamente 16 anos foi terrivelmente tentado. Sabia que Deus estava com ele, porém não sentia, não experimentava a sua presença.  O tentador se apre­sentava ora sob forma humana, ora sob forma de animais e fe­ras: eram belas e sedutoras jovens que se apresentavam diante dele, oferecendo-lhe seus carinhos, e dispostas a satisfazer os seus desejos, fazendo lembrar as que ele conhecera quando ainda vivia na aldeia. Porém, Antão continuava firme e com mais rigor castigava o corpo, seguindo os conselhos do velho amigo. Tendo aprendido nas Escrituras quão diversos são os enganos do maligno (Ef 6,11), praticou seriamente a vida ascética e resolveu acostumar-se a um modo mais austero de vida. Mortificou seu corpo sempre mais, e o sujeitou, para não acontecer que, tendo vencido numa ocasião, perdesse em outra. O demônio, não satisfeito com o procedimento de Antão, arre­messava-se contra ele, e o atacava disfarçado em animais sil­vestres furiosos. Antão mal escapava com vida, porém, não de­sistia.
Por fim, depois de muitas lutas, tentações, sofrimentos, Antão teve uma visão confortadora.  Numa de suas lutas para se libertar de uma investida do tentador, de re­pente, viu-se cercado por um glorioso esplendor de luz radiante, que descia no meio das trevas do túmulo.  Erguendo os olhos, viu o teto abrir-se aparentemente e, de súbito, ele foi atingido por aquele raio de luz. As tentações cessaram, como se os demô­nios sumissem apavorados, as dores desapareceram. Logo Antão compreendeu que naquele raio de luz estava o seu Sal­vador que vinha libertá-lo. E, àquela altura, já calmo e cheio de paz, perguntou: “Onde estáveis vós, Senhor meu Jesus?  Por que não viestes mais cedo para me ajudar?”  E uma voz, saindo da luz, respondeu: “Eu estava aqui mesmo, Antão, perto de ti, todo o tempo.  Eu estava a teu lado e vi a tua luta, mas quis contemplar a tua coragem, e desde que enfrentaste com bravu­ra o teu inimigo, sempre haverei de proteger-te, e tu serás famo­so em toda a terra”. Ouvindo isto, Antão levantou-se, orou e ficou tão fortalecido que sentiu seu corpo mais vigoroso que antes. Tinha por aquele tempo uns trinta e cinco anos de idade.
De fato, Antão ficou famoso pelos terríveis combates que travou contra o demônio e pelas grandes penitências que se impôs a si mesmo, a fim de vencer aqueles combates e, com justiça, ficou conhecido como o Santo da Renúncia.

Antão, Pai dos Monges

A partir de um certo momento, a fama de Antão saiu do deserto e chegou ao conhecimento dos moradores de povoados e cidades vizinhas; e eram muitos os que iam a ele a fim de pe­dir-lhe conselhos, orações, e até a cura de doentes.  E quando Antão se sentia muito incomodado pelos visitantes que inter­rompiam o seu retiro e a sua solidão voluntária, retirava-se às escondidas, penetrando ainda mais deserto a dentro.
Foi o que aconteceu no ano 285, quando já tinha 35 anos: interrompeu quase totalmente as relações humanas e retirou-se para o leste, em direção ao mar Vermelho, entre as montanhas de Pispir, no deserto da Tebaida.
Foi antes ao encontro daquele ancião que se tornara seu amigo e conselheiro e rogou-lhe que fosse viver com ele no deserto. O outro declinou do convite, sobretudo devido à sua idade. Então ele se foi sozinho para a montanha.
Estabeleceu-se perto de uma fonte, onde havia um velho castelo abandonado, ninho predileto de serpentes e víboras, on­de permaneceu por quase vinte anos.  Durante sua permanência ali não se apresentou a ninguém, nem mesmo a seu fiel amigo, que lhe lançava os alimentos por cima das muralhas, pois havia combinado com ele para, de seis em seis meses, levar-lhe pro­visão para a temporada.  No Egito se fabricava, na época, uma certa qualidade de pão que se conservava até um ano, sem se estragar.
Ali Antão fixou residência. As serpentes e víboras, como que expulsas por alguém, foram-se de repente. Antão bloqueou a entrada e depois de enterrar pão para seis meses – assim o fazem os tebanos, e muitas vezes os pães se mantêm frescos por todo um ano – e ainda tendo água perto, desapareceu como num santuário. Ficou sozinho, não saindo nunca e não vendo ninguém passar. Por muito tempo perseverou nesta prática ascética; só duas vezes por ano recebia pão, que lhe deixavam cair pelo teto.
Seus amigos vinham uma ou outra vez supondo encontrá-lo morto, mas o ouviam cantar: “Levanta-se Deus e seus inimigos se dispersam; fogem de sua presença os que o odeiam. Como a fumaça, eles se dissipam; como se derrete a cera ante o fogo, assim perecem os ímpios diante de Deus” (Sl 67,2). E ainda: “Todos os povos me rodeavam, em nome do Senhor eu os expulsei” (Sl 117,10).
Nesse período da vida de Antão, difundiu-se ainda mais a fama de suas virtudes, até que, depois de muitos anos de colóquio íntimo com Deus, resolveu apresentar-se aos visitantes e rece­bê-los.  Sempre tranqüilo e alegre, recebia todos os que vinham a ele e, naqueles encontros, Deus, usando Antão como instrumento, curava doentes, consolava aflitos, reconciliava inimigos. Era paciente por disposição e humilde de coração. Sendo homem de tanta fama, mostrava, no entanto, o mais profundo respeito aos ministros da Igreja e exigia que a todo clérigo se desse maior honra do que a ele. Não se envergonhava de inclinar a cabeça diante de bispos e de sacerdotes que o procuravam. Seu rosto tinha grande e indescritível encanto. O Salvador lhe tinha dado, por acréscimo, este dom. Não eram nem sua estatura nem sua figura que o destacavam entre os demais, mas seu caráter sossegado e a pureza de sua alma. Ela era imperturbável e assim sua aparência externa era tranqüila. O gozo de sua alma transparecia na alegria de seu rosto, e pela forma de expressão de seu corpo se sabia e conhecia a estabilidade de sua alma, como o diz a Escritura: “O coração contente alegra o semblante, o coração triste deprime o espírito” (Pr 15,13).
E muitos admiradores, edificados com seu exemplo de vida si­lenciosa e de união com Deus, resolviam também abraçar aquele gênero de vida, em busca da perfeição.  Fugindo das per­seguições do Império Romano e, atraídos pelo exemplo de An­tão, mais de 5.000 homens resolveram levar também uma vida de renúncia e oração, no deserto, e assim a força do exemplo fi­zera com que eles se organizassem em comunidades de mon­ges, tendo Antão como seu orientador espiritual e pai. A partir daquele momento, o deserto começou a ser povoado por monges, que construíam suas cabanas nas proximidades da moradia de Antão, de quem recebiam orientação. Antão, já com mais de 35 anos de idade, abandona a solidão absoluta e se converte em pai e mestre de monges. Em torno dele formam-se pequenas colônias de ascetas.  Por volta do ano 300 é possível encontrar eremitas em todos os lugares, no deserto, muitos deles discípulos de Antão.
Monges, na época, eram eremitas que viviam em cabanas, não muito distantes uma das outras, quase sempre sob a direção e orientação de um deles.  Trabalhavam com as próprias mãos, produzindo seu próprio alimento e rezavam.  Com o passar dos tempos, passaram a vi­ver em comum, em mosteiros, como acontece hoje em dia.
Foi assim que começou a vida monástica, no deserto.  Tendo já terminado o tempo dos mártires, vítimas dos Imperadores Romanos, nascia na Igreja esta nova maneira de testemunhar: a dos monges, que surgiam por toda parte, nos desertos, e posteriormente nas cidades, e procuravam viver de uma maneira radical e fervorosa, os conselhos evangélicos.
Antão jamais fundou mosteiros, nem mesmo organizou a vida dos monges.  Ele, apenas com sua vida e seu exemplo, deixou uma idéia, plantou uma semente, que em breve brotaria e daria frutos.  De fato, o exemplo de vida ascética de Antão difun­diu-se e espalhou-se, cresceu e amadureceu por toda parte, começando pelo Oriente, atingindo também depois o Ocidente.  Foram os seus discípulos e admiradores Pacômio e Hilarião que mais se destacaram na organização e difusão de grupos mo­násticos.
Quando a idéia e exemplo do santo eremita começaram a ser postos em prática, ele ainda vivia; e depois de sua morte, agigantou-se de tal maneira aquela idéia que influenciou muitas e muitas gerações, tornando-se uma luz para os séculos futuros.
Com o passar dos anos, as colônias de eremitas, nas ca­vernas e túmulos do deserto, iam se transformando em mostei­ros e conventos, semelhantes a fortalezas, tão numerosas na Idade Média, algumas das quais continuando ainda hoje de pé, testemunhando. Depois de Antão o mundo viu se multiplicarem os mosteiros e comunidades de homens e mulheres que passa­ram a viver no deserto e nas cidades, a vida de renúncia, de trabalho, de união com Deus, que o santo do deserto ensinara a viver com o seu exemplo.
Tão ligado ficou Antão à vida dos monges, como seu ins­pirador e orientador espiritual, que até hoje ele é chamado e conhecido como  “Pai dos Monges”, e até é considerado como o monge mais ilustre da Igreja antiga, no Oriente, o primeiro Abade.

Homem de Deus a serviço dos homens

Antão se tornou assim pai espiritual e conselheiro de gru­pos de pessoas que, a seu exemplo, resolveram levar vida reli­giosa perfeita.  Suas lições sobre a perfeição eram avidamente desejadas.  Mesmo contemplativo e sempre unido a Deus, soube encontrar tempo para orientar e animar seus seguidores, com ensinamentos ao mesmo tempo simples e profundos.  Quando, certa vez, perguntaram-lhe o que fazer para combater o mal e avançar no caminho da perfeição, Antão deu uma lição de sim­plicidade e respondeu que era necessário, entre outras coisas, ser muito discreto, sem exibição.
Apesar de sua grande austeridade para consigo mesmo, era muito humano e compreensivo para com os outros.  Nos seus últimos anos, Antão tinha se tornado muito paciente e con­descendente para com aqueles que o procura­vam, e sobretudo com os que caíam e queriam levantar-se.
Certo dia, um dos monges do deserto foi ter com Antão.  Seus irmãos de comunidade o haviam expulsado porque tinha fracassado, vítima de muitas e violentas tentações.  Antão o acolheu, confortou, aconselhou, e mandou-o de volta para que fosse readmitido na comunidade.  Tempos depois ele reapareceu mais uma vez diante de Antão, queixando-se: “eles se recusa­ram a aceitar-me”.  E de novo Antão mandou que ele voltasse, encarregando-o de levar a seguinte mensagem: “Um navio ameaçava naufragar.  Jogaram ao mar toda a carga que levava e, assim, à custa de muito esforço e sacrifício, o navio vazio conseguiu afinal salvar-se.  É desejo vosso afundar o navio que voltou a salvo do mar?” E diante do argumento, os irmãos resolveram readmitir na comunidade aquele que havia sido afastado porque errara.
Antão não viveu só para si, não foi egoísta, nem se aco­modou. Apesar de passar quase toda sua vida no deserto, longe dos homens, ele foi um apóstolo, e o seu grande apostolado foi o aconselhamento.
A sua fidelidade a Deus, sua austeridade de vida, suas lutas e vitórias contra o mal, sobretudo contra as tentações a que foi submetido, a harmonia primitiva e verdadeira da natureza do homem, em que a carne obedece ao espírito e não se rebela contra ele, Antão conquistara à força de uma prá­tica ascética rigorosa. Tudo isso o credenciou e deu-lhe credibili­dade para ser o conselheiro e orientador espiritual de uma imensa legião de pessoas que acorriam a ele e nele confiavam, como vimos anteriormente.
O aconselhamento veio a ser para Antão uma devoção tão importante quanto suas orações lá no silêncio de sua gruta.  No amor a Deus aprendera a amar os homens. Não tinha ne­nhum receio que, gastando o seu tempo como conselheiro e orientador dos que o procuravam e de seus discípulos, viesse a negligenciar o Senhor  e,  por isso,  com  muita paciência e dedi­cação, atendia a todos os que o procuravam. O Senhor dava a Antão uma graça toda especial através de sua palavra, de maneira que consolava muitos aflitos e reconciliava entre si muitos que estavam em conflito. Também, por meio dele, curou muitos daqueles que o procuravam. Mais adiante falaremos de alguns milagres que Deus realizou por intermédio de Antão, ainda vivo.
Certa vez, recebeu a visita de alguns filósofos, que são pessoas sábias ou que se julgam sábias e estão sempre inves­tigando o porquê, a razão de ser de todas as coisas, pensando que podiam divertir-se com Antão. Antes que os visitantes dissessem qualquer coisa, Antão lhes perguntou, por meio de um intérprete: “Por que fizeram tão grande sacrifício para vir até aqui visitar um pobre coitado, um louco?” Antão ouvira falar que eles o conside­ravam louco porque tinha abandonado um futuro promissor para viver aquela vida “louca”.  E eles, admirados e desconcertados com a recepção, responderam que não o julgavam louco, mas estavam convencidos de que ele era um sábio.  Aproveitando a oportunidade, Antão lhes disse: “Se vocês acreditam que eu sou um sábio, então imitem a minha sabedoria”. Aqueles filósofos, antes incrédulos, voltaram convertidos para casa.
Diante do orgulho e incredulidade daqueles intelectuais e de tantos intelectuais de nossos dias, o estilo de vida de Antão quer salientar o primado dos simples, que constitui um dos aspectos essenciais da mensagem evangélica.
O Imperador Constantino e seus filhos gostavam de escrever a Antão.  Este, poucas vezes respondia.  Certa vez, numa de suas cartas, Antão mandou dizer ao Imperador que estava muito feliz de saber que ele e sua família adoravam a Je­sus Cristo e exortou-os a não se prevalecerem muito de seu poder, mas a se lembrarem sempre que eram criaturas hu­manas.  Recomendou ainda que fossem bondosos, justos, e que ti­vessem uma atenção especial com os pobres e acima de tudo se lembrassem que o único Rei verdadeiro e eterno é Jesus Cristo.  De outra vez, Constantino mandou que emissários levassem carta para Antão, pedindo conselhos para bem governar o povo, dentro do espírito cristão. E Antão respondeu: “Praticai a humildade e desprezai o mundo; lembrai-­vos de que no dia do juízo, tereis de prestar contas de todos os vossos atos”.
Depois que o Imperador mandou pedir conselhos a Antão, foram muitos os que fizeram o mesmo. Pessoas de todas as classes sociais, desde os mais simples cidadãos até aqueles cristãos nobres e ricos, vinham pedir a Antão sua bênção sobre suas pessoas, seus familiares, e até seus negócios seculares.
Nessa época, Antão estava em Pispir.  Depois de certo tempo, desgostoso e fatigado de uma certa publicidade que tantas visitas criavam em torno de sua pessoa, resolveu mais uma vez partir e procurar um outro lugar mais retirado, on­de pudesse retomar sua vida de solidão.  Sentia-se muito inco­modado pelos visitantes.
Partiu então, sem nada dizer a ninguém, e depois de se afastar um dia de caminhada do seu refúgio de Pispir, resolveu acompanhar um grupo de sarracenos, que eram nômades beduínos e habitavam o deserto entre a Síria e a Arábia. Antão lhes pediu para ir com eles, no que foi atendido. Eles iam de mu­dança em busca de novas pastagens para seus rebanhos, e estavam seguindo por aquele mesmo caminho.  Beduínos eram árabes, sem moradia fixa (nômades), que viviam da criação de animais, nos desertos, sempre procurando melho­res pastagens para seus rebanhos.  Eram muito comuns no norte da África e na Arábia.
Depois de cruzarem a vastidão central do deserto árabe, caminharam três dias e três noites e chegaram ao pé do monte Colzin, onde pararam para descan­sar.  Depois de refeitos, os beduínos prosseguiram viagem, porém Antão ali ficou, depois de conseguir uns pães de seus companheiros de viagem.  Agradara-se do lugar.  Aquela era a morada que Deus lhe havia destinado, pensava ele.  Havia ali uma fonte, junto da fonte uma caverna, e nela poderia ele viver o resto de sua vida, numa absoluta reclusão, tendo por companhia Deus somente. Segundo descrição de São Jerônimo, era uma gruta for­mada por uma alta rocha, com uma depressão que servia de abrigo para Antão e, de onde descia um veio d’água, formando um riacho que tornava a área fértil e útil para o plantio. Quanto aos sarracenos, notando o entusiasmo de Antão, fizeram do lugar um ponto de parada para descanso, em suas travessias e se comprometeram a levar-lhe sempre pão. Naquela nova morada de Antão havia umas tamareiras que lhe davam uma pequena e frugal mudança de dieta.
Antão permaneceu ali seus últimos anos de vida.  Foram 20 anos de sossego e de íntima união com Deus.
Ao completar cem anos, Antão era senhor de seu corpo e de seu espírito, graças ao temor de Deus que o tinha levado pa­ra o deserto e tinha-lhe imposto uma severa renúncia e jejum.  Ele que tinha abandonado a vida do mundo, conseguira, no en­tanto, abundância de vida.  Nele está revelada a eterna verdade de um dos segredos da existência humana: as energias mais plenas e mais profundas só podem ser libertadas pela solidão e pela renúncia.
Os oitenta anos de deserto, na oração, a longa e profunda intimidade com Deus, os pesados sacrifícios e severa renúncia que se tinha imposto voluntariamente, a luta contra as tenta­ções, tinham transformado o rígido asceta em um santo, tinham amadurecido em Antão uma sabedoria e santidade tais que fa­ziam dele um ancião bondoso, sereno, compreensivo, transbordando alegria.  Ele tinha ficado tão marcado pelas tentações que o massacraram durante tantos anos, que tinha se acostumado a ver em tudo, no deserto, nas pedras, na areia, o tentador.  Agora ele procedia de outra maneira.  A batalha contra o mal tinha sido prolongada e acarretara muito sofrimento, po­rém Antão tinha vencido. Ele colocara Satanás debaixo dos pés, graças à renúncia, ao jejum, e sobretudo à grande confiança em Deus, de quem se fizera íntimo pela oração.  Ele se tornara um modelo de vida consagrada a Deus. Todo o mundo oriental foi sacudido pela santidade e vida admirável de Antão.  Todos os que o procuravam, voltavam confortados por terem conhecido e convivido com um homem sereno, de fácil trato, um HOMEM DE DEUS.
Agora, Antão podia dizer: “Eu não temo a Deus, eu o amo; e porque amo a Deus, nada temo”.  Ele, que havia jejuado durante to­da sua vida, ensina agora que o amor vale mais do que o jejum.  Ele que havia mortificado o seu corpo durante oitenta anos, ago­ra aconselhava aos que lhe pediam conselho: “Alimentai-vos bem, porque quando o arco está muito esticado, pode partir-se”. Depois daquele longo período de reclusão e afastamento dos homens, agora Antão via, em cada coisa criada, uma revelação de Deus.  Enquanto temia mais do que amava, Antão via o de­serto cheio de demônios e, nos homens via um empecilho para sua união com Deus. Agora que ele amava mais do que temia, o deserto tornou-se uma revelação do Criador, e os homens pas­saram a ser vistos como seus irmãos e criaturas quase perfei­tas do Criador.  A natureza tornou-se o primeiro livro que o santo – quase iletrado – podia ler.  Por isso ficava horas e horas ab­sorvido na contemplação do deserto e via inscritos, nas rochas e na areia, na nuvem e na palmeira, grandes pensamentos, os pen­samentos de Deus.
Um certo sábio de Alexandria foi ver, certo dia, o homem do deserto, que, segundo ouvira falar, era um sábio eremita.  E, diante de Antão, disse-lhe: “Compreendo que um homem prefira viver afastado dos outros homens, mas não posso compreender como seja possível viver sem o conforto dos livros”.  E Antão lhe respondeu: “Meu livro é o mundo de todas as coisas criadas, e quando desejo ler as palavras de Deus nele, encontro-o aberto diante de mim”.  O amor havia transformado Antão.  De re­pente, já vivendo seus últimos anos, ele compreendeu que, aquele que tem medo, vê as coisas de maneira diferente daquele que ama.
Agora Antão via em tudo a bondade, a grandeza de Deus.  Tudo havia se transformado em prova do grande amor de Deus para com os homens.
Certa manhã, Antão se dirigiu à fonte para refrescar os lá­bios ressequidos pelo calor causticante do deserto egípcio.  De repente, ele compreendeu, como se tivesse recebido uma revelação de Deus, que aquela água que bebia, era uma men­sagem divina de bênção e de fertilidade.  Ao voltar à sua gruta­-residência, a mensagem da água tinha invadido e iluminado o seu coração. Enquanto caminhava por aquelas terras áridas, ia refletindo e compreendendo que a água, dom de Deus, podia transformar aquelas terras improdutivas em férteis campos.  E assim aconteceu.  É como se ele tivesse ouvido de Deus a se­guinte ordem: Antão, lavra a minha terra!  E ele se lembrou dos tempos de sua juventude, quando, em companhia de seu pai, la­vrava a terra.  Logo, obteve de alguns peregrinos, instrumentos de trabalho e sementes.  Preparou o terreno, até então árido e, por meio de irrigação, que ele providenciou, cavando valetas, como ainda hoje fazem muitos agricultores, conseguiu transfor­mar o solo árido do deserto em um pomar.  Era o deserto que flo­rescia.  Duas mãos solitárias, acostumadas a se unir só para a oração, meteram a enxada no solo, semearam a semente e, as­sim transformaram áreas estéreis em campos de trigo.  A oração solitária do homem da renúncia, fizera Antão aprender um outro tipo de oração. Sem abandonar seus colóquios com Deus, suas renúncias e mortificações, aprendera agora a cultivar a oração criadora do trabalho.
Agora, aqueles que iam ao deserto visitar o santo eremita, eram recebidos pelo lavrador de Deus, um santo que semeava e rezava, colhia o fruto de seu trabalho e cozia o seu pão; encon­travam um homem que, embora idoso já de mais de cem anos, tinha ainda o vigor da juventude e dedicava-se ao trabalho, não só para comer, mas também para ajudar os irmãos, de modo particular os pobres e necessitados que o visitavam.  Estes vol­tavam para casa com a paz no coração, e as mãos carregadas com o pão e as hortaliças que Antão produzia. E assim seus visitantes recebiam algo mais para restaurar suas forças depois de tão cansativa e pesada viagem.
Apesar de mais de oitenta anos de privações, mortificações da carne e de uma vida exposta ao sol causticante do deserto africano, seu corpo ainda se conservava ereto, o passo firme e ligeiro, os olhos claros e penetrantes, a voz poderosa e resso­nante. Quando ele morreu, já com cento e cinco anos, estava ainda em plena posse de seu vigor físico; nenhuma doença, ne­nhum declínio de vitalidade, anunciavam o fim de sua caminha­da.
Após a morte de Antão, visitando aqueles lugares onde ele tinha vivido seus últimos anos, Santo Hilário se fez acompa­nhar de alguns dos discípulos do santo eremita, e eles, com muita ternura iam indicando os diversos lugares onde seu mes­tre espiritual costumava realizar suas diversas atividades diá­rias: “Aqui ele cantava os salmos, ali ele se entretinha com Deus na oração.  Aqui ele se dedicava ao trabalho, ali ele tomava um pouco de descanso e repouso, quando se sentia cansado. Ele mesmo plantou esta horta e estas árvores, construiu este reservatório de água para irrigação de sua horta…”
Foram os discípulos de Antão que, durante aquela visita, contaram a Santo Hilário que, certo dia, alguns burros selva­gens, tendo vindo saciar a sede no reservatório construído por Antão, começaram a devastar as plantações de trigo.  Antão or­denou ao primeiro animal que parasse, e lhe batendo suave­mente nos quartos, com o cajado, disse-lhe: “Por que você vem comer o que não plantou?”  Os animais começaram a se afastar; e a partir de então, nunca mais estragaram as plantações.  Alguns biógrafos de Santo Antão vêem neste episódio, mais uma astú­cia do demônio, disfarçado em animais selvagens, tentando irri­tar o santo eremita e roubar-lhe a paz. No entanto, Antão, o homem de Deus, sem se aborrecer, apenas conjurou aqueles burros selvagens a afastarem-se, em nome do mesmo Deus de Quem se tornara tão íntimo pela oração e a Quem servira com tanta dedicação durante toda sua vida.

Orientador e guia espiritual de outros monges

A partir de um certo momento, atendendo a um desejo de peregrinos que o visitavam, Antão abandona a solidão e se torna conselheiro e pai espiritual, já que muitos admiravam e desejavam imitar sua santa vida. Chegou mesmo a induzir muitos a abraçar a vida monástica. Foi então que o deserto se povoou de monges que abandonavam os seus e se inscreviam como cidadãos do céu (Hb 12,23).
Certa vez, vieram alguns monges e pediram que lhes falasse sobre as virtudes e sobretudo sobre a renúncia. Queriam também que lhes falasse um pouco de suas lutas contra as tentações e como vencê-las.  E Antão, entre outras coisas, começou a lhes falar, em língua copta:
“Para começar, tenhamos todos o mesmo zelo e perseverança, para não renunciar ao que começamos, para não perder o ânimo, para não dizer: ‘Passamos demasiado tempo nesta vida ascética’. Não, começando de novo cada dia, aumentemos nosso zelo. Toda a vida do homem é muito breve, comparada ao tempo vindouro, de modo que todo o nosso tempo é nada, comparado com a vida eterna. A Escritura diz: ‘Ainda que alguém viva setenta anos, e o mais robusto até oitenta, a maior parte é fadiga inútil’ (Sl 89,10). Se, pois, vivemos todos os nossos oitenta ou mesmo cem anos na prática da vida ascética, não iremos reinar no Reino dos Céus, na glória futura, o mesmo período de cem anos, mas, em vez dos cem, reinaremos para sempre. E ainda que nosso esforço seja na terra, não receberemos nossa herança na terra, mas, como nos foi prometido, no céu. Mais ainda, ‘vamos abandonar nosso corpo corruptível e recebê-lo-emos incorruptível’ (1Cor 15,42).
Assim, filhinhos, não nos cansemos, nem vamos pensar que estamos fazendo algo extraordinário. Pois ‘os sofrimentos da vida presente não podem comparar-se com a glória futura que nos será revelada’ (Rm 8,18). Não olhemos tampouco para trás, para o mundo, crendo que renunciamos a grandes coisas, pois também o mundo é muito trivial, vulgar, comparado com o céu. E ainda que fôssemos donos de toda a terra e renunciássemos a toda ela, nada seria isto, comparado com o Reino dos Céus. Assim como uma pessoa desprezaria uma moeda de cobre para ganhar cem moedas de ouro, assim o que é dono de toda a terra e a ela renuncia, dá realmente pouco e recebe cem vezes mais (Mt 19,29). Se, pois, nem sequer toda a terra equivale ao Céu, certamente o que entrega uma porção de terra, não deve penalizar-se. O que abandona é praticamente nada, ainda que seja um lar ou uma soma considerável de dinheiro, aquilo de que se separa.
Devemos, além disso, ter em conta que se não deixamos estas coisas por amor à virtude, teremos de abandoná-las depois, de qualquer modo e freqüentemente também, a pessoas às quais não teríamos querido deixá-las, como nos recorda o Eclesiastes (2,18; 4,8; 6,2), Então, por que não transformar a necessidade em virtude e entregá-las de modo a podermos herdar um reino por acréscimo? Por isso, nenhum de nós tenha nem ao menos o desejo de possuir riquezas. De que nos serve possuir o que não podemos levar conosco? Por que não possuir antes aquelas coisas que podemos levar conosco: prudência, justiça, temperança, fortaleza, entendimento, caridade, amor aos pobres, fé em Cristo, humildade, hospitalidade? Uma vez possuindo-as, veremos que elas vão adiante de nós,  preparando-nos as boas-vindas na terra dos mansos (Lc 16,9; Mt 5,4).
Com estes pensamentos, cada qual deve convencer-se de que não deve descuidar-se, mas considerar-se servo do Senhor e preso ao serviço de seu Mestre. Um servo, porém, não se atreve a dizer: ‘Já que trabalhei ontem, não vou trabalhar hoje’. Tampouco vai se pôr a calcular o tempo em que já serviu e descansar durante os dias que lhe ficam pela frente; não, dia após dia, mostra a mesma boa vontade para que possa agradar a seu patrão e não causar nenhum incômodo. Perseveremos, pois, na prática diária da vida ascética, sabendo que se somos negligentes um só dia, Ele não nos vai perdoar, em consideração ao tempo anterior, mas vai aborrecer-se conosco, por nosso descuido. Assim o ouvimos em Ezequiel (Ez 18,24-26); assim Judas, numa só noite, destruiu o trabalho de todo o seu passado.
Por isso, filhos, perseveremos na prática do ascetismo e não desanimemos. Também nisso temos o Senhor que nos ajuda, diz a Escritura: ‘Deus coopera para o bem de todos os que o amam’ (Rm 8,28). E quanto a não devermos descuidar-nos, é bom meditar no que diz o Apóstolo: ‘Morro cada dia’ (1Cor 15,31). Realmente se também nós vivêssemos como se cada novo dia fôssemos morrer, não pecaríamos. Quanto à citação, seu sentido é este: ao despertarmos cada dia, deveríamos pensar que não vamos viver até à tarde; e de novo, quando vamos dormir, deveríamos pensar que não chegaremos a despertar. Nossa vida é insegura por natureza, e diariamente nos é medida pela Providência. Se com esta disposição vivemos nossa vida diária, não cometeremos pecado, nada cobiçaremos, não nos mancharemos com ninguém, não acumularemos tesouros na terra, mas, como quem, cada dia, espera morrer, seremos pobres e perdoaremos tudo a todos. Desejar mulheres ou outros prazeres desonestos, tampouco teremos semelhantes desejos, mas voltar-lhes-emos as costas como coisas transitórias, combatendo sempre e tendo ante os olhos o dia do juízo. O maior temor ao juízo e o desassossego pelos tormentos dissipam invariavelmente a fascinação do prazer e fortalecem o ânimo vacilante.
Agora que temos um começo e estamos no caminho da virtude, alarguemos ainda mais nosso passo para alcançar o que temos adiante ( Fl 3,13). Não olhemos para trás, como o fez a mulher de Lot (Gn 19,26), sobretudo porque o Senhor disse: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino dos Céus’ (Lc 9,62). E este olhar para trás não é outra coisa senão arrepender-se do que foi começado e lembrar-se de novo do que deixara no mundo.
Quando ouvirem falar da virtude, não se assustem nem a tratem como palavra estranha. Realmente não está longe de nós, nem seu lugar está fora de nós, mas, está dentro de nós, e sua realização é fácil, contanto que tenhamos vontade (Dt 30, 11ss). Os gregos viajam e cruzam os mares para estudar as letras; nós, porém, não temos necessidade de pôr-nos a caminho pelo Reino dos Céus, nem de cruzar o mar para alcançar a virtude. O Senhor no-lo disse de antemão: ‘O Reino dos Céus está dentro de vós’ (Lc 17,21). Por isso, a virtude só necessita de nossa vontade, já que está dentro de nós e brota de nós. A virtude existe quando a alma se mantém em seu estado natural. É mantida nesse estado natural quando permanece como veio a ser. E a alma veio a ser limpa e perfeitamente íntegra. Por isso Josué, o filho de Nun, exortou ao povo com estas palavras: ‘Mantenham íntegros seus corações diante do Senhor, o Deus de Israel (Jos 24, 23); e João: ‘Endireitem seus caminhos’ (Mt 3,3). A alma é reta quando a mente se mantém no estado em que foi criada. Mas, quando se desvia e se afasta de sua condição natural, isso se chama vício da alma.
A tarefa não é difícil. Se ficamos como fomos criados, estamos no estado de virtude; mas, se entregamos nossa mente a coisas baixas, somos considerados perversos. Se esse trabalho tivesse de ser realizado de fora, seria em verdade difícil; mas, estando dentro de nós, acautelemo-nos contra os pensamentos maus. E tendo recebido a alma como sendo confiada a nós, guardemo-la para o Senhor, a fim de que Ele possa reconhecer sua obra, tal qual a fez”.
Quanto a suas experiências com os demônios e à maneira de combatê-los, Santo Antão, entre outras coisas, disse-lhes:
“Enquanto o Senhor estiver conosco, nossos inimigos não nos causarão dano. Pois, quando vêm, atuam como nos encontram; e, no estado de alma em que nos encontrem, apresentam suas ilusões. Se nos vêem cheios de medo, de pânico, imediatamente tomam posse como bandidos que encontram a praça desguarnecida. Se nos vêem temerosos e acovardados, aumentam nosso medo o mais que possam, em forma de imaginações e ameaças, e assim a pobre alma é atormentada para o futuro. Se nos encontram, porém, alegrando-nos no Senhor, meditando nos bens futuros e contemplando as coisas que são do Senhor, então, vendo a alma salvaguardada com tais pensamentos, envergonham-se e voltam atrás. Assim, quando o inimigo viu Jó fortificado, retirou-se dele, enquanto que encontrando Judas desprovido de toda defesa, aprisionou-o.
Por isso, se quisermos desprezar o inimigo, mantenhamos sempre nosso pensamento nas coisas do Senhor e que nossa alma goze com a esperança (Rm 12,12). Veremos então como os enganos do demônio se desvanecem como fumo e vê-lo-emos fugir em lugar de perseguir-nos. Eles são, como disse, covardes, sempre receosos do fogo preparado para eles” (Mt 25,41).
Enquanto Antão discorria sobre esses assuntos, todos se regozijavam com eles. Aumentava em uns o amor à virtude, em outros desaparecia a negligência, e em outros era reprimida a vanglória. Todos prestavam atenção a seus conselhos sobre os ardis do inimigo, e admiravam-se da graça dada a Antão pelo Senhor, para discernir os espíritos.
Para todos os monges que chegavam até ele, tinha sempre o mesmo conselho: “pôr sua confiança no Senhor e amá-lo, guardar-se a si mesmo dos maus pensamentos e dos prazeres da carne, fugir da vanglória e orar continuamente, cantar salmos antes e depois do sono, guardar no coração os mandamentos propostos nas Escrituras e recordar os feitos dos santos, de modo que a alma, ao recordá-los, possa inflamar-se ante o exemplo de seu zelo”. Aconselhava-os sobretudo recordar sempre a palavra do Apóstolo: “Que o sol não se ponha sobre vossa ira” (Ef 4,26), e a considerar estas palavras como ditas em relação a todos os mandamentos: o sol não se deve pôr não apenas sobre nossa ira, como sobre nenhum outro pecado.
Dizia ainda Antão: “É inteiramente necessário que o sol não nos condene por nenhum pecado cometido durante o dia, nem a lua por nenhuma falta noturna. Para assegurar-nos disso, é bom ouvir e guardar o que diz o apóstolo: ´Julguem-se e provem-se a si mesmos´ (2 Cor 13,5). Por isso, cada um deve fazer diariamente um exame do que fez de dia e de noite; se pecou, deixe de pecar; se não pecou, não se orgulhe disso. Persevere antes na prática do bem e não deixe de estar em guarda. Não julgue o próximo nem se declare justo a si mesmo, como diz o santo apóstolo Paulo, ‘até que venha o Senhor e traga à luz o que está escondido’ (1 Cor 4,5; Rm 2,16). Muitas vezes não temos consciência do que fazemos; nós não o sabemos, mas o Senhor conhece tudo. Por isso, deixando a Ele o julgamento, compadeçamo-nos mutuamente e ‘levemos as cargas uns dos outros’ (Gl 6,2). Julguemo-nos a nós mesmos e, se nos vemos diminuídos, esforcemo-nos com toda a seriedade por reparar nossa deficiência. Que esta observação seja nossa salvaguarda contra o pecado. Anotemos nossos atos e impulsos da alma como se tivéssemos de informar a outro. Podem estar seguros de que, em razão da vergonha de que isto seja conhecido, deixaremos de pecar e de prosseguir com pensamentos pecaminosos. Quem gosta que o vejam pecando? Quem, depois de pecar, não preferiria mentir, esperando escapar assim de que o descubram? Assim como não quiséramos abandonar-nos ao prazer, à vista de outros, assim também se tivéssemos de escrever nossos pensamentos para dizê-los a outro, muito nos guardaríamos de maus pensamentos, por vergonha que alguém os soubesse. Que essa informação escrita seja, pois, como os olhos de nossos irmãos ascetas, de modo que, ao nos envergonharmos de escrever como se nos estivessem vendo, jamais nos demos ao mal. Modelando-nos desta maneira, seremos capazes de ‘levar nossos corpos a obedecer-nos’ (1 Cor 9,27), para agradar ao Senhor e calcar aos pés as maquinações do inimigo”.
Estas palestras de Santo Antão, como outros discursos espirituais que Santo Atanásio coloca nos lábios de seu biografado, refletem a sabedoria experimental dos monges, como também as reflexões e sabedoria pastoral do patriarca alexandrino, de maneira que, lendo as preleções de Santo Antão, ficamos conhecendo também o pensamento de Santo Atanásio.
Terminando este capítulo, ficamos a pensar e interrogar-nos:  Estas preleções e conselhos são mesmo de Santo Antão ou de Santo Atanásio?  Pois é na “Vita Antonii” escrita por Santo Atanásio que encontramos todos estes ensinamentos cheios de sabedoria.

Antão, Taumaturgo de Deus e Médico das Almas

A fama da santidade de Antão, como tivemos oportunidade de ver anteriormente, já se espalhara não somente em Alexandria mas também pelos povoados vizinhos, de maneira que ele era procurado para realizar curas, pois, confiavam nas suas orações junto a Deus. E realmente Santo Antanásio nos fala de muitas curas realizadas por Santo Antão, quando ainda estava vivo. Vejamos algumas:
Certa vez os monges convidaram Antão para passar algum tempo com eles, no que foram atendidos.  Saíram então em viagem, Antão e os monges que vieram a seu encontro. Um camelo ia carregado com pão e água, já que em todo esse deserto não havia água, e a única potável estava na montanha onde ficava sua cela-caverna, de onde haviam saído.   
A partir de certo momento, acabou-se a água, e estavam todos em perigo, pois o calor era muito grande. Foram procurar água e voltaram sem a terem encontrado, ficando caídos no chão, entregues ao desespero e por demais fracos para poderem continuar a viagem. O camelo continuou caminhando. Vendo, então, o perigo em que todos se encontravam, o ancião encheu-se de aflição. Suspirando profundamente, apartou-se um pouco deles. Ajoelhou-se, estendeu as mãos e orou. De repente, o Senhor fez brotar uma fonte no lugar onde estava orando, e todos puderam beber e refrescar-se. Encheram os odres e puseram-se a buscar o camelo até que o encontraram. Levaram-no a beber e carregando-o com os odres, concluíram sua viagem, sem mais prejuízos ou acidentes.
Em outra ocasião, quando Antão esteve pela segunda vez em Alexandria e estava se despedindo para voltar ao seu retiro do Monte Pispir, ao chagar à porta da Cidade, conta-nos Atanásio que uma mulher, correndo atrás de Antão, gritava: “Espera, homem de Deus, minha filha está sendo terrivelmente atormentada por um demônio! Espera, por favor, ou eu vou morrer!” O ancião, escutando os apelos daquela mulher, deteve-se e atendeu a seu pedido, sem se aborrecer. Quando a mulher se aproximou, sua filha estava arrojada ao chão. Antão orou, invocando sobre ela o nome de Cristo. A moça levantou-se sã e o espírito impuro a deixou. Todos renderam graças a Deus. E Antão continuou sua viagem, para o seu próprio lar.
Antão foi sempre um bom conselheiro. Até mesmo os imperadores romanos da época buscavam os conselhos e orações do santo eremita. Com os que sofriam unia-se em oração, e com muita freqüência o Senhor ouvia seus pedidos. Nunca, porém, se vangloriava quando era atendido, nem se queixava não o sendo. Sempre deu graças ao Senhor e animava os que sofriam, a terem paciência e a se aperceberem de que a cura não era prerrogativa dele nem de ninguém, mas somente de Deus, que a opera quando quer e em benefício de quem Ele quer. Os que sofriam, ficavam satisfeitos, só em receber os conselhos do ancião, pois aprendiam a ter paciência e a suportar o sofrimento. E os que eram curados aprendiam a dar graças, não a Antão, mas a Deus.
Um certo homem, chamado Frontão, oficial romano, que vivia a serviço do prefeito romano de Alexandria, tinha uma enfermidade horrível: mordia continuamente a língua e sua vista ia se encurtando. Chegou à montanha e pediu a Antão que intercedesse por ele junto a Deus. Antão lhe disse: “Volte para casa; você será curado”. Ele porém, insistiu e ficou durante dias, enquanto Antão prosseguia dizendo-lhe: “Você não ficará curado enquanto ficar aqui. Vá para casa e quando lá chegar, verá o milagre realizado”. O homem resolveu obedecer às ordens do santo eremita e, ao chegar em casa, sua enfermidade havia desaparecido. Ele ficou curado graças às orações que Antão havia feito ao Senhor.
Impressionante é também o caso de uma menina de Busiris. Ela padecia de uma enfermidade repugnante: uma supuração nos olhos, nariz e ouvidos transformava-se em vermes quando caía no chão. Além disso, tinha o corpo paralisado, e seus olhos eram defeituosos. Seus pais ouviram falar de Antão por alguns monges que iam vê-lo, e tendo fé no Senhor que curou a hemorroísa (Mt 9,20), pediram aos monges para irem com eles, levando também sua filha, e eles consentiram. Os pais e a menina ficaram ao pé da montanha com Pafnúcio, que era também monge e confessor. Os monges  subiram, e quando se dispunham a falar-lhe da menina, Antão adiantou-se e  falou-lhes tudo sobre os sofrimentos dela, e de como havia feito com eles a viagem. Então, quando lhe perguntaram se os pais com a menina podiam subir, não lhes permitiu e disse: “Podem voltar e irão encontrá-la curada. Não é nenhum mérito meu; não, em verdade, sua cura é obra do Salvador que mostra sua misericórdia em todo lugar aos que o invocam. O Senhou ouviu a oração de seus pais, e me revelou que curará a enfermidade da menina onde ela está”. O milagre realizou-se: quando desceram, encontraram os pais felizes e a menina em perfeita saúde.
Noutra ocasião, o conde Arquelau foi até Antão, na montanha onde morava e pediu-lhe somente que rezasse por Policrácia, uma seguidora de Jesus, residente em Laodicéia. Sofria muito do estômago e das costas, devido à sua excessiva austeridade. O seu corpo estava reduzido a grande debilidade. Antão pediu a Deus por ela e o conde anotou o dia dessa oração. Ao voltar a Laodicéia, encontrou a seguidora de Jesus curada. Perguntou então a Policrácia quando se sentira curada, e ao receber  a resposta, todos se maravilharam ao reconhecerem que o Senhor a havia curado de sua doença no próprio momento em que Antão estava orando e invocando a bondade do Salvador, em seu auxílio.
Outra vez, certo jovem, possuído por um demônio, foi levado até Antão. O demônio era tão terrível que o possesso não estava consciente de que ia a Antão. Chegava mesmo a devorar seus próprios excrementos. Aqueles que o levaram, pediram ao santo eremita que rezasse por ele. Antão se compadeceu do jovem, orou e passou com ele toda a noite. Ao amanhecer, o jovem lançou-se de repente sobre Antão, empurrando-o. Seus companheiros indignaram-se diante disso, mas o ancião acalmou-os, dizendo: “Não se aborreçam com o jovem, pois não é ele o responsável, e sim o demônio que nele está. Ao ser repreendido, ficou furioso e fez isto (Mc 5,1ss). Dêem graças ao Senhor, pois o atacar-me deste modo é um sinal da partida do demônio”. E enquanto Antão dizia isto, o jovem voltou a seu estado normal; deu-se conta de onde estava, abraçou o ancião e deu graças a Deus.
Aconteceram também, na vida de Santo Antão, certas revelações de fatos que ainda iam acontecer ou que estavam acontecendo bem distante do lugar onde ele se encontrava, como visitas que ia receber ou perigos por que estavam passando certas pessoas. Vejamos alguns desses casos. 
Uma certa ocasião em que estava sentado na montanha, olhando para cima, Antão viu no ar alguém levado para o alto, entre grande regozijo de outros que lhe saíam ao encontro. Admirando-se de tão grande multidão e vendo quão felizes eram, orou para saber quem podia ser este. De repente uma voz se dirigiu a ele dizendo-lhe que era a alma do monge Amon de Nítria, que levou vida ascética até idade avançada. Pois bem, a distância de Nítria à montanha onde Antão estava, era de treze dias de viagem. Os que estavam com Antão, vendo o ancião tão extasiado, perguntaram-lhe o motivo e ele lhes contou que Amon acabava de morrer. Este era bem conhecido, pois vinha aí freqüentemente e muitos milagres foram operados por seu intermédio. Os monges aos quais Antão falou sobre a morte de Amon, anotaram o dia. Um mês depois, quando os irmãos voltaram a Nítria, perguntaram e souberam que Amon havia dormido no mesmo dia e hora em que Antão viu sua alma levada para o alto. E tanto eles como os outros ficaram estupefatos ante a santidade de Antão, que recebia tais revelações.
Sucedeu também que, quando dois dos irmãos estavam em viagem para vê-lo, acabou-se a água que levavam; um morreu, e o outro estava a ponto de morrer. Já não tinha forças para andar. Jazia no chão, esperando também a morte. Sentado na montanha, Antão chamou dois monges que casualmente estavam ali e mandou que se apressassem, dizendo: “Tomem um jarro d’água e corram, descendo pelo caminho de Alexandria; vinham dois, um acaba de morrer e o outro também morrerá se vocês não se apressarem. Foi-me revelado isto agora na oração”. Foram-se os monges, acharam um morto e o enterraram. Ao outro fizeram-no reviver com água e o levaram ao ancião. A distância era de um dia de viagem. O admirável em tudo isso é que, enquanto estava na montanha com seu coração tranqüilo, mostrou-lhe o Senhor coisas distantes.
Certa vez, um comandante chamado Balácio, por ser partidário dos arianos, perseguia duramente os cristãos. Em sua barbárie chegava até a espancar as virgens e desnudar e açoitar os monges. Então, Antão enviou-lhe uma carta dizendo-lhe o seguinte; “Vejo que o juízo de Deus se aproxima de ti; deixa pois de perseguir os cristãos para que não te surpreenda o juízo, que agora está a ponto de cair sobre ti”. Balácio, entretanto, pôs-se a rir, jogou a carta no chão e nela cuspiu; maltratou os mensageiros e ordenou-lhes que levassem a Antão a seguinte mensagem: “Vejo que estás muito preocupado com os monges; chegará o teu dia”. Não haviam passado cinco dias quando o juízo de Deus caiu sobre ele. Balácio e Nestório, prefeito do Egito, haviam saído para Alexandria; ambos iam a cavalo. Os cavalos pertenciam a Balácio e eram os mais mansos que ele tinha. Ainda não haviam chegado, quando os cavalos, como costumam fazer, começaram a retrucar um contra o outro, e de repente o mais manso dos dois, cavalgado por Nestório, mordeu Balácio, lançou-o por terra e o atacou. Rasgou-lhe de tal modo os músculos, com seus dentes, que tiveram de levá-lo de volta à cidade, onde morreu depois de três dias. Todos se admiraram de que se cumprisse tão rapidamente o que Antão predissera.
Quanto a seus visitantes, predizia freqüentemente sua vinda, dias e, às vezes, um mês antes, indicando o motivo da visita. Alguns vinham só para vê-lo, outros, devido a enfermidades, e outros, atormentados pelos demônios. E ninguém considerava a viagem demasiadamente cansativa ou que fosse tempo perdido; cada um voltava, sentindo que fora ajudado.    
Ainda que Antão tivesse esses poderes de palavra e visão, no entanto, suplicava que ninguém o admirasse por essa razão, mas admirasse antes o Senhor, porque Ele nos ouve a nós, que somos apenas criaturas humanas.
Tudo isso aconteceu, e muito mais, na vida de Antão. Não deveríamos ficar tão admirados ou mesmo descrentes por se terem sucedido esses grandes milagres por intermédio de um homem ainda vivo, pois tal é a promessa do Salvador: “Se tiverem fé ainda que seja como um grão de mostarda, dirão a este monte: ‘Passa-te daqui para lá’ e ele passará; nada lhes será impossível” (Mt 17,19b). E também: “Em verdade lhes digo: tudo o que pedirem ao Pai em meu Nome, Ele lhes dará… Peçam e receberão (Jo 16, 23ss). É Ele quem diz a seus discípulos e a todos os que nele crêem: “Curem os enfermos…. lancem fora os demônios; de graça o receberam, grátis devem dá-lo” (Mt 10,8).
Quem recorreu a Antão, na dor, sem voltar com alegria? Quem chegou chorando por seus mortos e não se libertou imediatamente de seu pesar? Houve alguém que chegasse com ira e não a transformasse em amizade? Quem, pobre ou arruinado, foi a ele e, ao vê-lo e ouvi-lo não desprezou a riqueza, sentindo-se consolado em sua pobreza? Que monge negligente não ganhou novo fervor ao visitá-lo? Que jovem, chegando à montanha e vendo Antão, não renunciou logo ao prazer, começando a amar a castidade? Quem se lhe acercou atormentado por um demônio e não foi liberto? Quem chegou com a alma torturada e não encontrou a paz do coração?
De tal modo Antão se interessava e mesmo lutava pela causa dos ofendidos e por aqueles que sofriam ou que precisavam de sua ajuda que se podia pensar ser ele mesmo e não outros a parte agravada.
Antão curava e socorria os necessitados, orando e invocando o nome de Cristo, de modo que para todos era claro que não era ele quem atuava, mas o Senhor, que mostrava seu amor pelos homens, curando os que sofriam, por intermédio de Antão. Este, na sua simplicidade e humildade, não se afastava de sua vida de oração e da prática da ascese e, por esta razão levava sua vida na montanha, feliz na contemplação das coisas divinas, no entanto, pesaroso de que tantos o perturbassem e o forçassem a sair de seu retiro.
Por esses fatos e por tantos outros é que Santo Atanásio o chama na sua “Vita Antonii”, Taumaturgo de Deus e Médico das almas.

O Missionário de Alexandria

Antão viveu o seu retiro solitário no deserto durante oi­tenta e poucos anos.  Não que ele desprezasse a vida, dom de Deus; muito menos desprezava o homem, a criatura mais perfeita criada por Deus à sua imagem e semelhança.  Ele foi para o de­serto por livre escolha: não fugiu de nada nem de ninguém.  Sua opção foi totalmente positiva. Fazia os maiores esforços rumo à perfeição. Ele queria atingir a perfeição da obra-prima de seu Criador: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá tudo aos pobres, e depois vem e segue-me” Mt 19,21.  Para realizar esta verdadeira revolução na sua vida, ele precisava vencer as inclinações menos nobres que sentia dentro de si, e domi­nar seu corpo, que só pedia conforto, prazeres, etc.  E para dominar o corpo e vencer aquelas inclinações, ele só enxer­gava um instrumento de alta eficiência: a renúncia, a penitência.  Por isso, Antão se desfez de todos os seus haveres, deu tudo aos pobres e partiu para o deserto.  Lá ele travaria a grande ba­talha contra as inclinações menos nobres e passaria a domar o seu corpo animal.  Antão não buscava destruição, ele perseguia a perfeição.  E conseguiu o seu intento.  Pode-se argumentar: ele poderia conseguir o seu objetivo sem tanto rigor, usando outros processos.  Certamente que sim: poderia ter tomado outros caminhos.  Porém, foi o caminho da renúncia e da penitência o que ele escolheu.  Aliás, alguém já disse que, sempre que indivíduos ou grupos de indivíduos tentaram erguer-se acima do nível da natureza comum, escolheram a solidão como seu novo lar, fizeram da abstinência e da pobreza real seu novo modo de vida.  E Ernesto Bertram afirma que os pioneiros, os exploradores, os inventores, os reformadores sociais, todos eles insistem em suas autobiografias e confissões que o pré-requisito de toda a verdadeira grandeza é a solidão, a pobreza, a humildade; e tudo isso faz parte de uma forma monástica de vida. 
Foi então o deserto o grande cenário e a grande testemunha dessa verdadeira epopéia religiosa que foi a vida do grande e extraordinário Antão.  Devido à sua experiência de vida santa no deserto, mesmo sem contar com os atuais meios de comunicação, sua fama ia se espalhando por toda parte: Bispos, padres, peregrinos de todos os lugares e até o Imperador Constantino e seus filhos, como já vimos, iam em busca de seus conselhos. 
Durante o longo período fora da convivência da sociedade, nosso herói teve oportunidade de se encontrar várias vezes com os homens, porém, houve dois encontros que Antão teve com a sociedade que assumiram maior importância. Isso aconteceu por duas vezes, quando ele deixou o deserto e foi a Alexandria, como missionário.
Antão deixou o deserto pela primeira vez quando já tinha completado 61 anos. Alguns cristãos o chamaram para confortar e encorajar seus irmãos, que estavam sendo perseguidos, presos, torturados, e por fim martirizados, por ordem do Imperador Maximino Daia, que queria forçar os cristãos prisioneiros a negar e abjurar o único Deus verdadeiro e prestar culto aos falsos deuses romanos.
A princípio, Antão não queria deixar o deserto e negou-se a interromper o seu retiro, porém, depois resolveu atender ao pedido de seus irmãos, os cristãos de Alexandria, dizendo ao emissário: “Diga-lhes que eu irei”.
Tendo como única veste uma túnica surrada, na mão direita um pesado e grosseiro cajado, barba longa e cabelos desgrenhados, Antão deixou o deserto e entrou na cidade de Alexandria sob a admiração e respeito de todos.  Era a primeira vez que ele via uma cidade grande.  Até então, a única povoação que ele conhecera tinha sido a sua pequena Coma.
Logo ao chegar a Alexandria, Antão se dirigiu aos seus irmãos sofredores. As prisões onde estavam os cristãos, esperando a hora do martírio, eram fortemente guardadas por guardas vigorosos e carcereiros desumanos, que mantinham uma forte vigilância sobre os prisioneiros.  Ninguém tinha permissão para entrar, porém, os guardas não conseguiam impedir o estranho ancião de entrar e sair quando queria e saudar os fiéis com o então proibido sinal-da-cruz.  Quando se aproximava a estranha figura de Antão, tendo no rosto uma expressão de serenidade triunfante, os guardas enchiam-se de respeitoso temor e em vez de detê-lo, afastavam-se para um lado e deixavam-no passar.  E Antão levava a seus irmãos na fé, o conforto e a Palavra de Deus que lhes foram negados por tanto tempo, pois seus padres estavam na prisão, fechados estavam seus lugares de encontro e de oração e seus escritos sagrados queimados em público.  E Antão dizia aos prisioneiros: “Sede fortes na fé!  A vitória é vossa, pois, dentro em breve, vossas cadeias serão partidas; gozareis da glória celeste”.  E àqueles que eram condenados a trabalhos forçados, o santo do deserto dizia: “Sede perseverantes!  Vossa marcha para o exílio vos conduzirá ao triunfo e à vitória!” Os olhos dos prisioneiros cristãos tornavam-se brilhantes e, cantando, partiam felizes como quem caminha para uma jornada de prazer e alegria, de glória e vitória. Quando os prisioneiros eram levados para o lugar da execução, a fim de serem martirizados, Antão dizia: “Vamos também nós tomar parte no combate, ou pelo menos, presenciar a vitória dos combatentes.” Ele tinha grande desejo de sofrer o martírio, porém, não querendo entregar-se, para não desobedecer às autoridades religiosas, servia aos confessores da fé, nas prisões e nas minas. Em fins do século II, a excessiva exaltação do martírio, relacionada em parte com a crença na iminência da Parusia (Volta gloriosa de Jesus, no final dos tempos), e sobretudo impulsionada por toda uma literatura em torno do martírio e dos mártires, havia criado uma “mística do martírio”. Às vezes, apresentavam-se cristãos, em grupos, espontaneamente, perante os prefeitos, para serem julgados, pois desejavam ser martirizados. Isso levou a Igreja a intervir, proibindo a apresentação voluntária dos cristãos, às autoridades.
Quando os prisioneiros eram chamados para serem julgados, Antão posicionava-se com entusiasmo no tribunal, estimulando a fidelidade dos cristãos e escoltando-os, quando iam para o mártírio, ficando junto deles até que expirassem. Por isso o juiz, vendo sua intrepidez e a de seus companheiros e seu zelo nestas coisas, deu ordem para que nenhum monge aparecesse no tribunal ou ficasse na cidade, quando houvesse julgamento. Todos julgaram conveniente esconder-se nesses dias; Antão, porém, não se preocupava com essa ordem do juiz. No momento do julgamento, vestido com uma branca pele de carneiro que descia até os pés, à maneira de um civil egípcio, mudando sua aparência monástica, talvez como disfarce, colocava-se à frente de todos, num lugar proeminente, à vista do prefeito. No entando o disfarce de Santo Antão não era muito eficaz, pois, o prefeito sempre o reconhecia, ainda que não o prendesse. Enquanto todos se admiravam e o prefeito mesmo o via ao aproximar-se com todos os seus funcionários, ele estava ali de pé, sem medo, solidário, transmitindo força e coragem aos seus irmãos cristãos, que estavam sendo julgados. Como já disse antes, orava para que também ele pudesse ser martirizado, sem violar a legislação eclesiástica e, ao mesmo tempo, penalizava-se por não ter sido mártir.
Passado o momento culminante e mais doloroso daquela perseguição, Antão regressou para o seu retiro do Monte Pispir, com o propósito de nunca mais deixar o deserto.
No entanto, as coisas não aconteceram como ele pensava, pois, alguns anos antes de sua morte, Antão voltou a Alexandria, e desta vez a pedido de seu ilustre amigo e discípulo, Atanásio.  Ele foi levar aos Bispos, o apoio de seu prestígio pessoal, auxiliando-os no combate ao Arianismo, em defesa da verdadeira fé; foi prestar seu apoio à verdadeira fé, na luta contra o Arianismo; foi para afirmar, contra os arianos, que Jesus é verdadeiro Filho de Deus, portanto Deus também com o Pai e o Espírito Santo; foi para exortar os cristãos a se manterem fiéis à doutrina do Concílio de Nicéia, que afirmava a divindade de Cristo.  O Concílio de Nicéia foi o primeiro Concílio Ecumênico e realizou-se no ano 325, em Nicéia da Bitínia, na Ásia Menor, atual Turquia Asiática.
É que, por aqueles dias, estava se espalhando por todo o Oriente,  uma heresia, ou seja, uma falsa doutrina, que negava a divindade de Jesus. Era o “Arianismo”, e assim se chamava porque tinha como principal defensor um presbítero de Alexandria, chamado Ario e consistia numa tomada de posi­ção em torno de uma controvérsia a respeito da natureza de Cristo: “Jesus é verdadeiramente Deus, assumindo forma huma­na, ou simplesmente um homem que atingiu perfeição quase di­vina?”  O Arianismo afirmava que Ele era apenas um homem, com qualidades e dotes excepcionais, que tinha atingido uma perfeição quase divina, era um Deus criado, um ser ‹‹intermediário›› entre Deus e o homem. E essa doutrina estava se espalhando por toda parte.
Reunidos em Nicéia, os Bispos conciliares responderam a essa heresia que estava nascendo, preparando e fixando o ‹‹Símbolo da fé›› que, completado mais tarde pelo primeiro Concílio de Constantinopla, permaneceu na tradição dos cristãos católicos e ortodoxos e na Liturgia, como o “Símbolo niceno-constantinopolitano”. Neste texto fundamental, que expressa a fé da Igreja, e que recitamos ainda hoje, em alguns domingos, na Celebração Eucarística, encontra-se a palavra grega “homooúsios”, em latim, “consubstancialis”, que, traduzida para o português, quer indicar que o Filho é da mesma substância do Pai, é Deus de Deus, é a sua substância; e assim é posta em realce a plena divindade do Filho, que tinha sido negada pelos arianos.  
Santo Atanásio se sentia impotente para conter o avanço dessa nova heresia, pois, àquela altura, já muitos Bispos, padres, o povo em geral, e mesmo o Imperador eram partidários do Arianismo.  Então, Santo Atanásio se lembrou de recorrer ao testemunho de Antão, que tinha conhecido, por experiência, a divindade de Cristo, quando Este lhe falara por ocasião de uma visão de luz sobrenatural.  E foi para o santo do deserto que o grande Bispo Atanásio apelou naquela hora de grande aflição, pois, na verdade, Antão era um testemunho vivo da divindade de Cristo, era assim a pessoa mais importante na defesa da fé de Santo Atanásio.
Desde que Antão saíra de Pispir, praticamente ninguém sabia onde ele se encontrava. E nessa incerteza saíram alguns emissários de Atanásio, em busca de um homem que decidira viver isolado, ninguém sabia onde, nem mesmo os seus amigos. Era uma aventura difícil, quase impossível, mas eles não perde­ram a esperança.  A ordem era encontrar e trazer o santo do de­serto. Na caminhada tiveram que vencer muitos obstáculos. De quando em vez, encontravam outros eremitas em suas cabanas, porém nada sabiam informar.  Até que, por fim, encontraram-no, graças às informações de um beduíno.  Este se lembrara de que já há muito tempo, quando ainda era criança, acompanhando seus parentes pelo deserto, à procura de novas pastagens para seus rebanhos, tinham levado consigo um velho silencioso que havia ficado no sopé de uma montanha.  E o beduíno os condu­ziu ao lugar tão procurado e desejado.
Antão já tinha quase 90 anos.  Sua barba branca como a neve, chegava até os pés.  E Macário, um dos emissários, já conhecido de Antão, disse-lhe: “A Igreja do Senhor vos chama para dar testemunho da divindade de Cristo”.  Antão era filho obediente da Igreja e os pedidos dela eram ordens para ele.  Os emissários explicaram o que estava acontecendo, porém, Antão não podia entender como se podia negar a divindade de Cristo.  Para ele era mesmo que negar o brilho do sol.  E ele exclamava: “Ora, ora!  Eles não vêem?”  E se recusava a partir.  De repente, Antão se lembrou de um sonho que tivera certa vez: ele via um altar, cercado por jumentos que tentavam derrubá-lo.  E quando os emissários de Atanásio quiseram novamente explicar-lhe a heresia, ele exclamou: “Vocês não precisam mais explicar nada.  Já compreendi tudo: os jumentos estão tentando derrubar o al­tar.  Eu irei”.
Antão já tinha conhecimento da heresia e detestava o Arianismo. Exortava a todos que o procuravam a não se deixarem contaminar pelas idéias dessa nova e perversa crença que estava aparecendo. Certa vez, quando alguns desses ímpios arianos chegaram a ele, interrogou-os detalhadamente; e ao aperceber-se de sua ímpia fé, expulsou-os da montanha, dizendo que suas palavras eram piores que veneno de serpentes.
Quando numa ocasião, os arianos espalharam a mentira de que Antão partilhava de suas idéias, ele demonstrou que estava enojado e irritado contra eles.
Respondendo então ao chamado de Atanásio, de outros bispos e de todos os irmãos, Antão desceu a montanha. Ele e os emissários iniciaram sua viagem para Alexandria. Era já o ano 338. Chegando à cidade, por onde o santo eremita passava, despertava admiração e reverência.  Já velho, de aspecto majestoso, avançava Antão, acompanhado por dois discípulos.  Todos tinham a impressão de que um santo caminhava pelas ruas de Alexandria. A cidade parou.  Todos iam ao seu encontro, pois ninguém queria perder o espetáculo da passagem de um santo.
Entrando em Alexandria, logo começou a ensinar que o Arianismo era a pior de todas as heresias e dizia ao povo que o Filho de Deus não é uma criatura, nem veio “da não existência” ao ser, mas “é Ele a eterna Palavra e Sabedoria, da mesma substância do Pai”. Por isso é ímpio dizer: “houve um tempo em que não existia”, pois a Palavra foi sempre coexistente com o Pai. E dizia ao povo: “Não se metam em nada com estes ímpios arianos. Não pode haver comunidade entre a luz e as trevas (2 Cor 6,14). Vocês devem se lembrar que são cristãos, tementes a Deus, ao passo que eles, ao dizerem que o Filho e Palavra de Deus é uma criatura, não se diferenciam dos pagãos, que adoram a criatura em lugar de Deus Criador (Rm 1,25). E estejam seguros de que toda a criação está irritada contra eles, porque contam entre as coisas criadas, o Criador e Senhor de tudo, pelo qual todas as coisas foram criadas”.
Todo o povo se alegrava ao ouvir aquele ancião anatematizar a heresia que negava a divindade Cristo. Toda a cidade corria para ver Antão. Também os pagãos e inclusive seus assim chamados sacerdotes iam à Igreja dizendo: “Vamos ver o homem de Deus”, pois assim o chamavam todos. Além disso, também ali o Senhor operou, por seu intermédio, expulsões de demônios e curas de doenças mentais. Muitos pagãos queriam também tocar o ancião, confiando que seriam auxiliados; e na verdade houve tantas conversões nesses poucos dias, como não tinham sido vistas em todo um ano.
Seus companheiros de viagem pensaram que a multidão o incomodava e por isso trataram de afastá-la dele, mas, sem se molestar, Antão dizia: “Toda esta gente não é mais incômoda do que os demônios, contra os quais tivemos que lutar na montanha”.
Antão não chegou à Igreja de repente, inesperadamente. Sua che­gada era aguardada com ansiedade. Diante da Igreja de Alexan­dria estava reunida uma grande multidão: Católicos, judeus, pagãos, heréticos, todos querendo ouvir as palavras que o santo do deserto iria pronunciar.
Na Igreja, já estavam presentes o Arcebispo, os padres e o povo.  Antão foi recebido e colocado em lugar de destaque.  Começou a celebração e na hora do sermão, o Arcebispo Ata­násio, a certa altura, fez a profissão de fé na divindade de Cris­to.  Do meio do povo surgiu então o protesto de alguns.  Antão fi­cou espantado e perguntou a seu discípulo Macário o que esta­va acontecendo.  Depois de ser devidamente informado, Antão se ergueu ao lado do altar, e exclamou em alta voz: “Eu O vi”.  E todos os que se encontravam no templo, sem esperar nenhuma decisão do Arcebispo, caíram de joelhos e repetiam baixinho e emocionados: “Ele O viu, ele viu o próprio Senhor”.  E ninguém mais ousava duvidar. Até mesmo os heréticos se arrependeram, pois estavam diante do testemunho de alguém que tivera uma expe­riência direta, pela visão, da própria divindade de Cristo. E o Ar­cebispo continuou a Santa Missa, agora sem protestos.
A tarefa de Antão em Alexandria estava cumprida.  Agora devia voltar para o deserto.  Ainda insistiram para que ele permanecesse um pouco mais, porém ele disse: “Peixe fora d’água morre.  O mesmo acontece com o monge fora de seu recolhimento.  Por isso, como deve o peixe apressar-se em entrar n’água, devo eu voltar depressa para a montanha”.
O Arcebispo Atanásio acompanhou Antão até a saída da Cidade. Ao despedir-se, ofereceu-lhe, em sinal de amizade e gratidão, o seu manto episcopal.  Por onde o santo ia passando, o povo levava crianças e doentes para que ele os abençoasse.
Tendo assim cumprido a sua missão, voltou o missionário de Alexandria e peregrino da paz, para o seu recolhimento, agora no Monte Colzin, no deserto da Tebaida.  

Antão e Paulo de Tebas

Paulo era um piedoso jovem, também de família abastada, como Antão. Ele ti­nha fugido para o deserto no ano 250, antes de Antão nascer. Planejava ocultar-se ali durante a perseguição do Imperador Romano Décio. Porém, as perseguições terminaram e ele, já acostumado no deserto, nun­ca mais voltou ao convívio dos homens.  É provável que tenha sido ele o mais antigo dos eremitas.
Desde os 20 anos de idade, não tinha mais visto nenhuma criatura humana.  Resolvera viver a sós com Deus.  E agora já estava com 113 anos.
Foi quando o próprio Deus ordenou a Antão, visitar o seu servo fiel, o eremita Paulo. Era o ano 342.  Antão, já com mais de 90 anos, obedeceu e saiu à procura da caverna onde vivia o santo eremita.  Depois de 3 dias de caminhada e de busca, en­controu uma loba que, fugindo, desapareceu numa caverna.  Antão acompanhou aquela loba, certo de que ela o levaria ao lu­gar procurado.  E chegando à entrada da caverna, exclamou: “Vós que admitis a entrada de animais do deserto, não a nega­reis a um filho dos homens! Andei à vossa procura e vos en­contrei! Agora, peço para ser recebido!”  E Paulo saiu e os dois se cumprimentaram, chamando-se pelo próprio nome, como se fossem já velhos conhecidos. O Senhor tinha anunciado a Paulo a visita de Antão.  Os dois venerandos anciãos se entretinham a respeito das coisas da eternidade e enquanto conversavam, eis que aparece um corvo trazendo no bico um pão, colocando-o diante deles.  E Paulo disse a Antão: “Você está vendo?  É Deus que manda a nossa comida. Durante 60 anos recebi, cada dia, meio pão, porém com a vossa chegada, Cristo dobrou a ração de seus soldados”.  Terminada a refeição, Paulo fez um pedido a Antão.  Desejava, após sua morte, ser enterrado, se possível, envolto no manto que Antão tinha recebido do Bispo Atanásio. Antão, apesar de já velho e cansado por causa da viagem, cui­dou em satisfazer o desejo de Paulo.  Depois de seis dias de caminhada, estava já de volta e encontrou Paulo de joelhos.  Ajoelhou-se também ao seu lado, para rezarem juntos, porém, logo descobriu que seu amigo estava morto.  Morrera de joelhos, enquanto rezava.  E Antão, profundamente pesaroso, tomou o corpo do santo para enterrá-lo.  Mas, com que ia cavar a cova?  Enquanto pensava, olhando ao redor, viu dois leões, que, com suas garras estavam a cavar uma cova.  Antão enterrou o corpo de Paulo e o cobriu com o manto que Atanásio lhe havia dado e Paulo lhe havia pedido.
Terminada a tarefa que Deus lhe confiara, depois de en­terrar seu amigo, voltou Antão para o seu recolhimento e ainda teve mais 14 anos de vida.

Últimos dias de Antão

Apesar de amar muito o seu retiro, a sua solidão voluntá­ria, Antão não se esqueceu de, vez por outra, ir ao encontro de seus discípulos, nas suas celas, a fim de orientá-los e encora­já-los; como também teve oportunidade de visitar sua única irmã que havia deixado em companhia daquelas senhoras piedosas que tinham, elas também, dedicado sua vida a Deus.
Santo Atanásio, escrevendo a Vida de Santo Antão, quis apresentá-lo como modelo de vida para todos os cristãos e sobretudo para os monges. Quando falou de sua morte, quis mostrar como também nos seus últimos momentos, foi um exemplo digno de ser imitado.  
Tendo já quase 105 anos, quis visitar pela última vez seus discípulos, sobretudo aqueles que habitavam mais perto, e nessa visita anunciou-lhes a sua próxima e definitiva partida para Deus.  Ele estava certo de que a sua missão aqui na terra esta­va terminada. Recebendo da Providência uma premonição de sua morte, falou assim aos irmãos: “Esta é a última visita que lhes faço e me admiraria se ainda nos voltássemos a ver nesta vida. Já é tempo de morrer, pois tenho quase cento e cinco anos”. Ao ouvir isto, seus discípulos puseram-se a chorar, abraçando e beijando o ancião. Ele porém, como se tivesse de partir de uma cidade estranha à sua própria, continuou falando alegremente. Exortava-os a não se relaxarem em seus esforços nem a se desalentarem na prática da vida ascética, mas a viverem como se tivessem de morrer cada dia e, a trabalharem duramente a fim de guardar a alma limpa de pensamentos impuros e a imitarem os homens santos. E dizia: “Não se envolvam com os arianos, pois sua irreligião é clara para todos. E, se vêem que as autoridades os apóiam, não se deixem confundir. Isto se acabará, é um fenômeno passageiro, destinado a ter fim em pouco tempo. Por isso, mantenham-se limpos de tudo isso e observem a tradição dos Padres e, sobretudo, a fé ortodoxa em nosso Senhor Jesus Cristo, como aprenderam das Escrituras e eu tão freqüentemente o recordei.”
Quando os irmãos insistiram para que ficasse com eles, até morrer, recusou-se a isto por muitas razões, especialmente porque os egípcios têm o costume de honrar com ritos funerários e envolver em sudários de linho, os corpos dos homens santos e particularmente dos santos mártires e não os enterram: colocam-nos sobre divãs e os guardam em suas casas, (certamente depois de embalsamá-los) pensando honrar o defunto deste modo. Antão pediu muitas vezes aos bispos e presbíteros que dessem instruções ao povo sobre esse assunto. Os corpos dos patriarcas e dos profetas se guardam em túmulos até estes dias, e o corpo do Senhor também foi depositado num túmulo e puseram uma pedra sobre ele (Mt 27,60) até que ressuscitou ao terceiro dia. Ao expor assim as coisas, demonstrava que cometiam erro ao não dar sepultura aos corpos dos defuntos, por santos que fossem. E em verdade, nada existe maior ou mais santo que o corpo do Senhor. Como resultado, muitos que o ouviram, começaram, desde então, a sepultar seus mortos e deram graças ao Senhor pelo bom ensinamento recebido.
Voltando ao seu eremitério, depois de dois meses, Antão adoeceu e chamou os dois discípulos que com ele viviam uma vida comunitária há 15 anos, Macário e Amafas, e deu-lhes os seguintes conselhos, entre outros: “Meus filhos queridos, chegou a hora em que, segundo dizeres da Sa­grada Escritura, eu vou seguir o caminho de meus pais.  Eu sinto que o Senhor me chama, e o meu coração está inflamado do desejo de se unir a Ele, no Céu.  Quanto a vocês, meus filhos, não vão desperdiçar, por relaxamento, os frutos da vida ascética que durante tanto tempo praticaram. Esforcem-se por manter seu entusiasmo como se estivessem começando agora. O demônio é embusteiro. Vocês sabem como ele é furioso, mas também sabem que ele se torna fraco se vocês estiverem bem unidos a Jesus Cristo. Não os temam. Se vocês confiarem e se entregarem inteiramente a Jesus, com toda certeza haverão de triunfar contra as malícias desses espíritos per­versos.  Deixem que Cristo seja o alento de sua vida e ponham nele sua confiança. Não esqueçam nunca dos diversos ensinamentos que eu lhes dei”. E disse-lhes ainda: “Estejam prontos e não deixem de manifestar sua lealdade, primeiro a Cristo e depois a seus santos, ´para que depois de sua morte eles os recebam nas moradas eternas´ (Lc 16,9), como a amigos familiares. Gravem este pensamento e o tenham como propósito: Se vocês realmente se preocupam comigo e me consideram como pai, não permitam que ninguém leve meu corpo para Alexandria, não aconteça que me guardem em suas casas. Foi esta a razão que me trouxe para cá, à montanha. Por isso, façam-me vocês mesmos os funerais e sepultem meu corpo na terra. Na ressurreição dos mortos, o Salvador me devolverá incorruptível”. Antão recomendou ainda que seu corpo fosse enterrado em lugar secreto, somente conhecido por eles dois.  Queria assim evitar que seu túmulo se tornasse lugar de peregrinação. 
Antão teve também o cuidado de determinar o destino de seus haveres, isto é: suas duas túnicas, os seus cilícios e um dos dois mantos que Santo Atanásio lhe havia dado. “Vocês entregarão ao Bispo Atanásio, uma de minhas túnicas, feitas de pele de ovelha,  com o manto que ele me deu novo e que lhe devolvo usado”. Quanto ao outro manto que o Bispo lhe havia dado, Antão já tinha feito uso dele para envolver o corpo do eremita Paulo, quando de sua morte e sepultura. A outra túnica devia ser entregue ao Bispo Serapião e eles dois herdariam os cilícios.
Vendo que chegara a sua hora, antes de expirar, Antão disse aos dois amigos: “Adeus, meus filhos queridos, Deus os abençoe. Vosso Antão parte.  Ele não estará mais com vocês”. Depois de dizer isto e de que eles o houvessem beijado, estendeu os pés. Seu rosto estava transfigurado de alegria e seus olhos brilhavam de regozijo como se visse amigos vindo a seu encontro. Assim faleceu e foi reunir-se a seus pais. Era o dia 17 de janeiro do ano 356.  Os seus dois discípulos, seguindo as ordens que lhes havia dado, enterraram-no em lugar que ficou desconhecido por muitos anos.  Apenas se sabia que tinha sido sepultado no Monte Colzin, junto ao mar Vermelho.
Somente no ano 561, por meio de uma revelação, o seu túmulo foi descoberto. Suas relíquias foram então levadas para Alexandria. Quando os sarracenos dominaram o Egito, em 635, os seus restos mortais foram levados a Constantinopla. Dali foram trasladados à França em fins do século X, e desde 1491 estão guardados na igreja de São Juliano perto de Arles, onde se encontram até hoje.

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