XXX Semana do Tempo Comum, segunda-feira
Lc 13, 10-17
É preciso, antes de mais, ressaltar a firmeza da fé da mulher que foi curada por Jesus, a sua perseverança e confiança em Deus, depois de anos a fio de sofrimento.
Pois o Senhor nunca curou o corpo se a cura não significava a conversão da pessoa, o seu movimento para a fé em Deus, em primeiro lugar. Desse modo, a cura física também se tornava sinal para os demais. Não fosse assim, Jesus teria feito muitos milagres em sua cidade, Nazaré; mas o Evangelho diz claramente que "ali não fez muitos milagres, por causa da falta de fé deles". Nosso Senhor não opera milagres por mero sensacionalismo, para aparecer diante dos homens como se fosse uma espécie de mágico, mas para levar (ou aprofundar) à conversão - cura o corpo, em vista da cura da alma.
No entanto, conforme o relato que lemos hoje, uma testemunha qualificada da cura da mulher - o chefe da sinagoga - não apenas recusou-se a converter-se, como também endureceu ainda mais o coração. São Lucas relata que "ele ficou furioso, porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado".
Enfureceu-se e tornou-se incapaz de alegrar-se com o bem do próximo e de maravilhar-se com a ação de Deus em favor da mulher que sofria. Certamente, algo na manifestação da Misericórdia Divina em benefício dela expôs, a seus próprios olhos, a dureza de seu coração, seu orgulhos e seus pecados mais secretos, que talvez escondesse de si mesmo debaixo da ilusão do perfeito cumprimento da Lei.
A compaixão de Jesus pela mulher derrubou o muro ilusório da autocomplacência do chefe da sinagoga. Por um instante, ele viu a si mesmo e a seus defeitos, como Deus os via. Nesse mesmo momento, a sós diante do Senhor em sua alma, ele teve a oportunidade de reconhecer seus erros, arrepender-se e pedir perdão. Teria sido recebido pelo Senhor com alegria e a dor se teria transformado em festa.
Ao invés disso, a dor de ver, ainda que por breve instante, a própria miséria foi-lhe insuportável. Não podia reconhecer-se cego, hipócrita, orgulhoso. Por isso, endureceu e fechou ainda mais o coração, deixou-se tomar pela ira e refugiou-se sob a capa do legalismo: "vinde, então, para serdes curados, mas não em dia de sábado".
Só então o Senhor expõe publicamente a hipocrisia do chefe da sinagoga, para ensinar aquelas pessoas e a nós.
O triste exemplo, profundamente negativo, do chefe da sinagoga é uma prova do quanto nos custa reconhecer nossas misérias - nossos pecados e defeitos.
Preferimos, tantas vezes, a tristeza que o pecado nos causa do que enfrentar a dor de seu reconhecimento para poder receber, na alegria, o perdão de Deus. Recusamos o anel no dedo e a roupa nova, trocamos o banquete no Reino de Deus pelo chiqueiro dos porcos.
Seja este o nosso propósito, hoje: fazer um profundo e corajoso exame de consciência, enfrentando o medo de sentir dor e vergonha de nós mesmos. Depois, busquemos com alegria e humildade o perdão de Deus, no confessionário, que é o tribunal de Sua Misericórdia, de onde sempre saímos absolvidos, se lá chegarmos com o coração contrito. O Senhor sempre saberá surpreender-nos com Seu amor e com a ternura de Sua acolhida.
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