quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta-feira de Cinzas – Mt 6, 1-6.16-18

“Sou o que sou diante de Deus”
Não importa o que façamos e como apareçamos diante dos homens, não importa a imagem que cultivamos perante a sociedade humana: Deus nos vê como somos na realidade e conhece as profundezas de nossos corações.
Estes dias de penitência que hoje iniciam servem para purificar nosso olhar sobre nós mesmos, para que aprendamos a nos enxergar como Deus mesmo nos enxerga. Assim purificados, nos preparamos para a grande solenidade da Páscoa, na qual celebramos o mistério da nossa salvação operada por Nosso Senhor, Jesus Cristo.
Essa purificação deve ocorrer em três dimensões: esmola, oração e jejum.
A esmola, mais do que dar o outro aquilo que temos de sobra, é dar ao outro o que lhe é devido, o que é justo, o que é seu por direito e lhe foi negado. Portanto, a prática da esmola corrige nossa relação com o outro, fazendo-nos compreendê-lo como semelhante e próximo.
A oração é o meio pelo qual colocamo-nos diante de Deus e compreendemo-nos como necessitados dEle. Pela prática da oração, tornamo-nos mais unidos a Deus, porque entendemo-nos dependentes dEle. Logo, a oração assídua e humilde corrige nossa relação com Deus, porque nos propicia, gradualmente, ver-nos a nós mesmos como criaturas que somos, diante de nosso Criador.
O jejum é o instrumento pelo qual exercitamos o domínio sobre nós mesmos, do espírito sobre o corpo, corrigindo a relação com nossa própria natureza, chamados que somos por Deus à superação e à transcendência.
Que essas práticas, realizadas sob o olhar de Deus, mas não diante dos homens, levem-nos à necessária purificação de nossa auto-imagem, para nos tornarmos aquilo que Deus espera de nós.

Os exercícios da Quaresma: a esmola, a oração, o jejum
Meus irmãos, começamos hoje a grande viagem da Quaresma. Levemos, pois, no navio todas as nossas provisões de alimento e bebida, colocando sobre elas a misericórdia abundante de que teremos necessidade. Porque o nosso jejum tem fome, o nosso jejum tem sede se não se alimentar de bondade, se não se dessedentar com misericórdia. O nosso jejum tem frio, o nosso jejum desfalece se o velo da esmola não o cobrir, se a capa da compaixão não o envolver.
Irmãos, a misericórdia está para o jejum como a Primavera está para os solos: o suave vento primaveril faz florescer todos os rebentos nas planícies; a misericórdia do jejum faz brotar todas as nossas sementes até à floração, fá-las encherem-se de frutos até à colheita celeste. A bondade está para o jejum como o óleo está para o candeeiro. Tal como a matéria gorda do óleo alimenta a luz do candeeiro e, com tão pouco alimento o faz brilhar para o conforto de toda a noite, assim a bondade faz o jejum resplandecer: lança raios até atingir o brilho pleno da continência. A esmola está para o jejum como o sol está para o dia: o esplendor do sol aumenta o brilho do dia, dissipa a obscuridade das nuvens; a esmola que acompanha o jejum santifica a santidade do mesmo e, graças à luz da bondade, remove dos nossos desejos tudo o que poderia ser mortífero. Em suma, a generosidade está para o jejum como o corpo está para a alma: quando a alma se retira do corpo, traz-lhe a morte; se a generosidade se afastar do jejum, é a morte deste.
São Pedro Crisólogo, Bispo de Ravena, Doutor da Igreja
(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org)

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