sábado, 28 de junho de 2014

Imaculado Coração de Maria - A Devoção dos Cinco Sábados

Memória do Imaculado Coração de Maria


Neste sábado, após o segundo domingo depois de Pentecostes e no dia seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja faz memória do Imaculado Coração de Maria.
Ao invés de fazermos uma reflexão sobre o Evangelho de hoje, incluímos o link para o vídeo do Pe. Paulo Ricardo sobre a devoção dos cinco primeiros sábados do mês, que foi pedida por Nossa Senhora à Irmã Lúcia, em honra e desagravo ao seu Imaculado Coração.
Acreditamos que, assim, podemos homenagear o Imaculado Coração da Santíssima Virgem Maria e ajudar a propagar ainda mais esta devoção tão bonita e tão útil para todo católico.


Link para o vídeo no site do Pe. Paulo Ricardo: A Devoção dos Cinco Sábados

sexta-feira, 27 de junho de 2014

"Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de Coração"

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus
Mt 11, 25-30


Hoje a Igreja celebra a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Volta-se para o coração, que representa a própria pessoa naquilo que lhe é mais próprio e essencial; volta-se para o Coração de Jesus, que contém, como nos diz a Liturgia, "infinitos tesouros de amor".
De fato, o Senhor diz de Si mesmo: "sou manso e humilde de coração", "vinde a Mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados pelo peso de vossos fardos e Eu vos darei descanso", "o Meu jugo é suave e o meu fardo é leve". Ao falar assim, Jesus nos abre o Seu próprio Coração, que nos amou de tal modo que Se entregou por nós.
Mas se olharmos mais atentamente para as leituras que a Liturgia nos propõe hoje (Dt 7, 6-11 e 1Jo 4, 7-16), encontramos uma outra particularidade, própria do Amor de Deus, e que se põe em relevo não apenas nas duas leituras, mas também no Evangelho proclamado hoje, em sua parte inicial.
Na leitura do Livro do Deuteronômio, Moisés, em nome do Senhor, diz ao povo de Israel que Deus não o escolheu por ser um povo numeroso, pois, ao contrário, eles são o menor de todos os povos. Afirma, ao contrário, que Deus o escolheu porque o amou e porque é fiel à promessa que fez aos seus antepassados. A eleição do Senhor, portanto, é gratuita. E Deus não escolheu um povo numeroso, formado por guerreiros fortes e ferozes, senhor de um reino; escolheu, antes, um povo de escravos que precisou, Ele mesmo, libertar "mão forte e braço estendido".
Depois, na Primeira Carta de São João, ouvimos o apóstolo afirmar que não fomos nós que amamos a Deus. Antes, foi Ele quem nos amou em primeiro lugar e nos enviou Seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados. Não houve, pois, qualquer iniciativa nossa.
Por fim, no Evangelho, Jesus louva ao Pai por haver revelado os mistérios do Reino, as Suas maravilhas, aos pequenos e humildes, escondendo-os aos sábios e entendidos. Novamente a preferência de Deus por aqueles que nada são e nada têm e que, portanto, não tem nenhum mérito naquilo que receberam dEle e não Lhe podem retribuir.
A grande característica do Amor de Deus que salta aos olhos através das leituras de hoje é, justamente, a sua gratuidade. O amor de Deus por nós é imerecido. Não o pudemos antecipar - Ele nos amou desde toda a eternidade. E não o podemos retribuir suficientemente - como podem criaturas limitadas e finitas retribuir ao amor infinito de seu Criador?
Que a consciência disso nos leve ao reconhecimento de nossa pequenez, de nossa miséria, para nos tornarmos aqueles humildes a quem Deus se revela, por pura Misericórdia. E eleve do nosso coração aos lábios um canto de agradecimento e de louvor ao Coração Misericordioso de Jesus, transpassado pela lança, do qual jorrou sangue e água, os sacramentos do Batismo e da Eucaristia, do qual nasceu a Igreja.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

"Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim!"

XII Semana do Tempo Comum, quinta-feira
Mt 7, 21-29


Embora este Evangelho seja mais conhecido pela sua segunda parte, em que Jesus compara aquele que O escuta e põe em prática as Suas palavras a alguém que constrói a sua casa sobre terreno sólido (sobre a Rocha, sobre Deus - muitas vezes os salmos se referem a Deus como "a Rocha" ou "Rochedo" - "sois o meu rochedo e salvação, em Vós espero"), chama a atenção primeiro a dureza com que Jesus se exprime contra aqueles que o chamam "Senhor" e alegam ter realizado muitos prodígios em Seu Nome: "jamais vos conheci; afastai-vos de Mim, vós que praticais o mal".
Lembra um pouco, em sentido contrário, a passagem do livro de Samuel em que o profeta está para ungir um dos filhos de Isaí como novo rei de Israel. Enquanto Isaí apresenta-lhe os seus filhos, Samuel impressiona-se com o mais velho - forte, robusto, de aparência decidida, mas o Senhor lhe diz que este não é o Seu escolhido e explica: "o homem vê a aparência, mas o Senhor olha o coração". E quando chega Davi, o mais novo, quase um adolescente, Deus manda que Samuel o unja como rei de Israel, pois esse é o que Ele escolheu.
Pois o Senhor não se importará com as obras exteriores daqueles que dizem segui-lO e servirem-nO, se estas mesmas obras não estiverem acompanhadas de um coração que verdadeiramente ama a Deus e O serve com humildade.
Os verdadeiros discípulos de Jesus não fazem, muitas vezes, grandes obras. Mas tem um coração que O ama e desejam servi-lO com fidelidade. Sabendo que são pequenos e fracos, depositam no Senhor toda a sua esperança. E o Senhor realiza grandes coisas por meio deles.
***
Hoje a Igreja faz memória de São Josemaría Escrivá, espanhol, falecido em 26/06/1975, fundador do Opus Dei. Conhecido como "santo do cotidiano" ou "santo das coisas pequenas", ele ensina ao homem de hoje como servir a Deus no seu dia-a-dia, feito de pequenas coisas que exigem, cada uma delas, fidelidade a Deus. Quem for fiel a Deus no pouco, nas pequenas coisas de seu cotidiano, terá construído, com perseverança, a sua casa sobre a Rocha e gozará, no Céu, da alegria de seu Senhor.
***

Josemaría Escrivá nasceu em Barbastro (Huesca, Espanha) no dia 9 de Janeiro de 1902. Os pais chamavam-se José e Dolores que deram aos filhos uma profunda educação cristã.
Em 1915 faliu o negócio do pai, que era um industrial de tecidos, e ele teve de mudar-se para Logronho, onde encontrou outro trabalho. Nessa cidade, Josemaría apercebe-se da sua vocação pela primeira vez: depois de ver na neve umas pegadas dos pés descalços de um frade, intui que Deus deseja qualquer coisa dele, embora não saiba exactamente o que é. Pensa que poderá descobri-lo mais facilmente se se fizer sacerdote e começa a preparar-se para tanto, primeiro em Logronho, e mais tarde no seminário de Saragoça. Estuda Direito como aluno voluntário. O pai morre em 1924, e ele fica como chefe de família. Recebe a ordenação sacerdotal em 28 de Março de 1925 e começa a exercer o seu ministério numa paróquia rural e, depois, em Saragoça.
Em 1927 muda-se para Madrid, com autorização do seu bispo, com o objectivo de se doutorar em Direito. Aí, no dia 2 de Outubro de 1928, no decorrer de um retiro espiritual, vê aquilo que Deus lhe pede e funda o Opus Dei. Desde então começa a trabalhar na fundação, ao mesmo tempo que continua exercendo o ministério sacerdotal, especialmente entre pobres e doentes. Além disso, estuda na Universidade de Madrid e dá aulas para manter a família.
Quando rebenta a guerra civil encontra-se em Madrid, e a perseguição religiosa obriga-o a refugiar-se em diversos lugares. Exerce o ministério sacerdotal clandestinamente, até que consegue sair de Madrid. Depois de ter atravessado os Pirenéus, fixa residência em Burgos.
Acabada a guerra, em 1939, regressa a Madrid e obtém o doutoramento em Direito. Nos anos que se seguem dirige numerosos retiros para leigos, para sacerdotes e para religiosos.
Em 1946 fixa residência em Roma. Faz o doutoramento em Teologia pela Universidade Lateranense. É nomeado consultor de duas Congregações da Cúria Romana, membro honorário da Academia Pontifícia de Teologia e prelado honorário de Sua Santidade. De Roma desloca-se, em numerosas ocasiões, a diversos países da Europa - e em 1970 ao México -, a fim de impulsionar o estabelecimento e consolidação do Opus Dei nessas regiões. Com o mesmo objectivo, em 1974 e em 1975, realiza duas longas viagens pela América Central e do Sul, onde, além disso, tem reuniões de catequese com grupos numerosos de pessoas.
A Santa Missa era a raiz e o centro da sua vida interior. O sentido profundo da sua filiação divina, vivido numa contínua presença de Deus Uno e Trino, levava-o a procurar em tudo a mais completa identificação com Jesus Cristo, a uma devoção terna e forte a Nossa Senhora e a S. José, a um trato habitual e confiado com os Santos Anjos da Guarda e a ser um semeador de paz e de alegria por todos os caminhos da terra.
Mons. Escrivá oferecera a sua vida, repetidas vezes, pela Igreja e pelo Romano Pontífice. O Senhor acolheu esta oferta e Mons. Escrivá entregou santamente a alma a Deus, em Roma, no dia 26 de Junho de 1975, no seu quarto de trabalho.
Leia também sobre São Josemaría EscriváAs Últimas Horas de um Santo
***


terça-feira, 24 de junho de 2014

"A mão do Senhor estava com ele"

XII Semana do Tempo Comum, terça-feira
Solenidade do Nascimento de São João Batista, precursor do Senhor
Lc 1, 57-66.80

Desde o anúncio do seu nascimento, quando o Arcanjo Gabriel, no Templo em Jerusalém, anunciou a Zacarias que ele teria um filho, a mão do Senhor já estava com João.
Isto quer dizer que João, desde antes de sua concepção, já havia sido escolhido por Deus para ser o último profeta da Antiga Aliança e o precursor do Messias há tanto tempo prometido e esperado com ansiedade pelo Povo de Israel.
E o Senhor acompanha, fortalece e auxilia aqueles que escolhe e chama para uma missão particular, de modo que possam desempenhá-la bem e cumprir a Sua Vontade.
Para Zacarias e Isabel, João é o filho recebido da misericórdia de Deus. Era um casal de linhagem sacerdotal - Lucas faz questão de mencionar que Isabel descendia de Aarão - e eram justos, isto é, amavam a Lei do Senhor e cumpriam os seus mandamentos. Ainda assim, não tinham filhos e Isabel era considerada estéril. E a esterilidade era considerada um sinal do castigo e da rejeição divinos. Por isso, apesar de procurarem em tudo ser fiéis ao Senhor, Zacarias e Isabel viviam envergonhados e humilhados.
Mas o Senhor socorre sempre os seus servos e não os deixa humilhados para sempre. A este casal tão fiel, concede-lhes a honra de serem os pais do Precursor, aquele que devia aplainar os caminhos do Senhor, "preparando-Lhe um povo bem disposto".
Nasce, pois, João, que viria a ser conhecido como "O Batista", porque, já adulto, passaria a pregar um batismo de penitência, conclamando o povo a arrepender-se de seus pecados e voltar para o Senhor, seu Deus, de todo o coração.
Com o próprio nome, João (e, antes dele, seus pais Isabel e Zacarias) proclama a misericórdia do Senhor, pois o nome "João" quer dizer "Deus é propício" ou "Deus é favorável" ou, ainda, "Deus é misericordioso".
Ouçamos hoje a voz do Precursor de Jesus. Antes, ouçamos o cântico de Zacarias, seu pai, que, reconhecido, agradece, louva e bendiz a Deus por causa do filho que lhe foi, João. Seu nascimento, cheio de circunstâncias prodigiosas, foi um sinal de sua vocação e do arrependimento para o qual ele deveria conclamar não apenas Israel, mas também os homens e as mulheres de todos os tempos, destinatários da Misericórdia Divina que nos foi dada em Cristo Jesus.




BENEDICTUS

(CÂNTICO DE ZACARIAS)

Bendito seja o Senhor Deus de Israel,
porque a seu povo visitou e libertou;
e fez surgir um poderoso Salvador
na casa de Davi, seu servidor,
como falara pela boca de seus santos,
os profetas desde os tempos mais antigos,
para salvar-nos do poder dos inimigos
e da mão de todos quantos nos odeiam.
Assim mostrou misericórdia a nossos pais,
recordando a sua santa Aliança
e o juramento a Abraão, o nosso pai,
de conceder-nos que, libertos do inimigo,
a ele nós sirvamos sem temor
em santidade e em justiça diante dele,
enquanto perdurarem nossos dias.
Serás profeta do Altíssimo, ó menino,
pois irás andando à frente do Senhor
para aplainar e preparar os seus caminhos,
anunciando ao seu povo a salvação,
que está na remissão de seus pecados;
pela bondade e compaixão de nosso Deus,
que sobre nós fará brilhar o Sol nascente,
para iluminar a quantos jazem entre as trevas
e na sombra da morte estão sentados
e para dirigir os nossos passos,
guiando-os no caminho da paz.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Hipocrisia e Julgamento

XII Semana do Tempo Comum, segunda-feira
Mt 7, 1-5

Na primeira leitura de hoje (II Rs 17,5-8.13-15.18), o Senhor adverte ao povo de Israel (o antigo Reino de Israel já se havia dividido em dois reinos, o Reino de Israel, ao norte, formado por onze, das doze tribos de Israel, e o Reino de Judá, ao sul, formado apenas pela tribo de Judá e sobre o qual reinava ainda a descendência do Rei Davi).
A advertência do Senhor é feita nos seguintes termos: "desviai-vos dos vossos maus caminhos, guardai os meus mandamentos e preceitos, observai fielmente a lei que prescrevi a vossos pais e que vos transmiti pelos meus servos, os profetas". Como observa a Sagrada Escritura, o povo não quis ouvir a advertência do Senhor, endureceu o coração e se tornou infiel a Deus, do mesmo modo que seus pais (seus antepassados).
Ao desprezarem os preceitos do Senhor, continua a Escritura, "foram atrás das coisas vazias e eles próprios se tornaram vazios". Então, sobreveio a tragédia: o povo de Israel foi deportado para a Assíria, tornou-se escravo de um povo pagão, porque "o Senhor os lançou para longe de Sua Face".
***
No Evangelho, Nosso Senhor Jesus Cristo condena a hipocrisia. Adverte que ninguém deve julgar o próximo, porque o defeito que vê tão claramente no comportamento e no caráter de seu irmão há de ser, com toda a probabilidade, o seu próprio defeito e ainda mais grave do que ele julga ser o do outro.
Aquele que, em primeiro lugar, examina a si mesmo para ver se é culpado de alguma coisa diante de Deus, esse não precisará de julgamento. Julgando-se a si mesmo e encontrando-se culpado, buscará reconciliar-se com Deus e com os irmãos a quem eventualmente terá ofendido, agradará desse modo ao Senhor e será por Ele perdoado. E não terá vontade e nem tempo de procurar outros a quem acusar, para desculpar-se de seus próprios erros.
***
Um sério problema de nossos tempos é que já ninguém quer examinar-se e reconhecer seus próprios defeitos, erros, falhas, vícios - enfim, seus pecados. Foge-se da culpa como o diabo foge da cruz. Porque o reconhecimento da culpa leva necessariamente ao reconhecimento do ofendido pelo próprio pecado - Deus. E ao reconhecer-se Deus como o ofendido, tem-se duas possíveis atitudes: arrepender-se e pedir perdão, com o sincero desejo de não voltar a pecar; ou fechar-se no próprio orgulho e permanecer obstinadamente no pecado, sem querer sair dele.
Em tese, é mais fácil permanecer no pecado. Pois o arrependimento e o pedido de perdão exigem da pessoa uma disposição interior de lutar contra aquilo que a leva a pecar. E o homem moderno não quer lutar, não tem mais a menor disposição para qualquer coisa que lhe custe, tem horror da palavra sacrifício (ainda que se sacrifique por muitíssimas coisas fúteis, nas quais acaba por colocar a razão e o sentido de sua existência).
No entanto, aquele que permanece no pecado torna-se vazio. E aqui se pode fazer uma ponte entre as duas leituras. Pois diz-nos claramente o Segundo Livro dos Reis que o povo do Reino do Norte, que não quis obedecer ao Senhor Deus e a seus preceitos, foi atrás de coisas vazias e ele mesmo, o povo, se tornou vazio.
O hipócrita, que não reconhece a si mesmo como culpado, mas acusa e julga permanentemente o outro, faz como o povo do antigo Reino do Norte, que não quis ouvir a voz do Senhor: torna-se vazio e busca coisas vazias, vive do que não lhe pode preencher a alma, que foi feita para encontrar sentido, realização, felicidade perfeita somente em Deus.
A hipocrisia mata a alma. O que se encontrará na alma do hipócrita, exceto o vazio? E a alma vazia não tem peso de eternidade...



sexta-feira, 20 de junho de 2014

"Onde está o vosso tesouro..."

XI Semana do Tempo Comum, sexta-feira
Mt 6, 19-23


O Senhor contrapõe os tesouros da terra aos tesouros do Céu, mas apenas para mostrar que os tesouros da terra contém em si a caducidade das coisas deste mundo, isto é, passam e terminam como passa e termina esta vida. Os tesouros do Céu, pelo contrário, não passam jamais: são perenes, não se extinguem, não perdem o seu valor.
Com isto quis dizer Nosso Senhor que as coisas deste mundo não têm valor? Absolutamente não. Nesta vida, que um dia terminará inevitavelmente, há coisas boas e belas, criadas por Deus para o homem, a fim de que delas se sirva. O homem pode e deve fazer bom uso das coisas deste mundo. Se o fizer, elas o estarão ajudando a chegar ao seu fim último, a Vida imperecível.
A advertência que o Senhor nos faz hoje é que não coloquemos o nosso coração unicamente nas coisas perecíveis deste mundo (ainda que, em si, boas e belas), de modo que nos façam esquecer que "não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura daquela que está por vir" (Hb 13, 14). Ou seja, o nosso destino é o Céu. Estamos aqui de passagem. Não podemos, portanto, esquecer que as coisas deste mundo têm valor relativo, isto é, são boas enquanto nos ajudam em nossa caminhada para o Reino dos Céus, para Deus, pois este é o motivo pelo qual estamos neste mundo.
Quem fixa seu olhar nas coisas deste mundo e esquece de colocar seu coração naquilo que é perene, vai aos poucos escravizando-se a coisas perecíveis, "que a ferrugem e a traça consomem". Aquele que se prende ao que passa, também ele passará. Não poderá cumprir a finalidade de sua existência - ganhar o Céu e estar com Deus para sempre.
Procuremos, pois, os tesouros do Céu e coloquemos neles o nosso coração, usando os tesouros da terra apenas para chegar até eles.
"O alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem interrupção, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida. Procuremos pois, irmãos caríssimos, alcançar estas pastagens, onde poderemos alegrar-nos na companhia dos cidadãos do céu. A alegria festiva dos bem-aventurados nos estimule. Reanimemos o nosso espírito, irmãos; afervore-se a nossa fé nas verdades em que acreditamos; inflame-se a nossa inspiração pelas coisas do céu. Amar assim já é caminhar. Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior. Se alguém, com efeito, deseja atingir um lugar determinado, não há obstáculo no caminho que o demova do seu intento. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquecesse de continuar a sua viagem até ao fim." (São Gregório Magno)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

"Como é que ele pode dar a sua carne a comer?"

SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI
Jo 6, 51-58


Escandalizam-se os judeus presentes, que haviam seguido Jesus porque Ele lhes multiplicara o pão. Haviam presenciado um milagre - uns poucos pães saciaram uma grande multidão - e pensavam em tornar Jesus o seu rei, para que nunca mais tivessem fome e, quem sabe, talvez nunca mais precisassem trabalhar para obter o pão de cada dia.
Mas eles não entenderam que o Senhor lhes mostrava, na figura do pão multiplicado, aquilo que Ele mesmo ia tornar-se para cada pessoa que O quisesse seguir: o Pão que dá a Vida verdadeira, o alimento que mata a fome da alma e sacia para a eternidade.
Jesus quis elevar o pensamento daqueles que o ouviam, das realidades materiais, caducas e perecíveis, para as realidades espirituais, eternas, as únicas que realmente têm valor. Mas os judeus de então não O puderam compreender...
Hoje, celebramos a solenidade do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em nossas dioceses e paróquias ocorreram procissões e solenes adorações eucarísticas. Quantos, porém, verdadeiramente compreendem o que é a Eucaristia?
Infelizmente, hoje, é comum a crença de que a Eucaristia é apenas um símbolo. "O milagre nós não vemos, basta a fé no coração", diz a adaptação do hino de louvor Pange Lingua, composto por Santo Tomás de Aquino para a adoração do Santíssimo Sacramento. Mas qual fé? Em que se deve crer, quando falamos da Eucaristia?
A Igreja vive da Eucaristia, porque a Eucaristia é o sacramento do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ou seja, sob as espécies do pão e do vinho consagrados - as aparências que vemos - está verdadeiramente Nosso Senhor, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. É o que chamamos Presença Real de Jesus no Santíssimo Sacramento.
Portanto, não é um símbolo. É o próprio Senhor que se faz comida e bebida para nós. E, se é verdade que a pessoa se torna aquilo de que se alimenta, aquele que se alimenta de Cristo vai, aos poucos e conforme as suas disposições interiores, tornando-se cada vez mais semelhante a Cristo.
Na Eucaristia, o Senhor se rebaixa mais do que em Sua Encarnação. Pois, na Encarnação, o Verbo, sendo Deus, fez-Se também homem. Mas, na Eucaristia, Ele toma a aparência de uma "coisa", algo para ser comido. Mas tal rebaixamento não tem outro objetivo senão dar-nos a Vida, a Vida eterna, a Sua Vida. Como Ele mesmo afirmou, no Evangelho que lemos hoje: "aquele que me recebe como alimento viverá por causa de Mim".
A Eucaristia é o grande sacramento do amor. Deus se rebaixa a fazer-se uma "coisa", a ficar escondido e "preso" nos sacrários de nossas igrejas, a ser tratado com desprezo, a ter Sua Presença ignorada pelas nossas atitudes tão frequentemente desrespeitosas... Tudo isso, por amor de cada um de nós...
Ao menos hoje, de nossa parte, receba o Senhor a adoração e amor que Lhe são devidos. E aprendamos a amar mais a Eucaristia e a Santa Missa, pelas quais Ele se faz presente e se oferece a cada um de nós.
Que a Eucaristia não seja motivo de escândalo para nós, como foi para os judeus que ouviam Jesus e para tantos outros que ouviram o testemunho da Igreja sobre o Corpo e o Sangue do Senhor ao longo dos séculos.

terça-feira, 17 de junho de 2014

A Penitência do Rei Acab

XI Semana do Tempo Comum, terça-feira
IRs 21, 17-29 e Mt 5, 43-48


Acab faz penitência e o Senhor posterga o castigo, que não será infligido diretamente ao rei, mas a seu filho e sua família depois de sua morte. No entanto, parece estranho que Deus tenha levado em conta a penitência de Acab para postergar o castigo e não para perdoar de todo o pecado do rei.
Por qual motivo o Senhor não perdoa o Rei Acab e lhe envia, a título de purificação, um castigo menor, como fez tantas vezes com o Rei Davi, sempre que este pecou? Por grandes que tenham sido os pecados de Davi (que chegou a mandar matar um dos soldados de seu exército para tomar-lhe a esposa), o Senhor não apenas nunca retirou a realeza de sua casa como também lhe garantiu que sempre haveria um descendente seu no trono real (de fato, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Messias prometido a Israel, é descendente do Rei Davi segundo a carne e o Seu Reino nunca terá fim). Também não ameaçou de extermínio a casa de Davi, mas exterminou para sempre a casa de Acab. Por quê?
O motivo está em que Acab teve medo do castigo, mas não se arrependeu de verdade. Não quis converter-se ao Senhor, deixando para trás a idolatria que lhe foi ensinada por sua esposa Jezabel e para a qual ele, por sua vez, conduziu todo o povo. O medo levou-o à penitência externa, mas esta não foi sinal de uma verdadeira conversão. O coração do Rei Acab continuava longe do Senhor.
Ainda assim, Deus levou em consideração os sinais externos de penitência de Acab. Postergando o castigo, deu-lhe mais uma oportunidade de converter-se, para que pudesse, então, perdoá-lo.
O Senhor age da mesma forma conosco, concedendo-nos novas oportunidades de conversão ao menor sinal, ainda que apenas externo, de arrependimento. Como aproveitamos essas oportunidades? Servimo-nos delas para converter-nos de fato e começarmos a fazer o que agrada a Deus? Ou agimos como o Rei Acab, cuja penitência externa não foi sinal de um coração contrito e humilde, que Deus não despreza, como o coração do Rei Davi?
***
Um sinal de verdadeira conversão é a busca, a luta sincera pela santidade, por assemelhar-se cada vez mais ao Pai celeste, como nos manda o Senhor: "sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito".
Ninguém teria mais motivos ou razão para punir o homem do que Deus. Ele é o único Inocente, sempre ofendido por nossos pecados, traições, infidelidades, desprezos. No entanto, em Sua infinita Misericórdia, "Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e faz cair a chuva sobre justos e injustos".
Se quisermos, pois, ser filhos do Pai celeste, como ordena Nosso Senhor, procuraremos sempre imitá-lO em Sua Bondade e Misericórdia, amando nossos inimigos e orando por aqueles que nos perseguem.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

"É melhor perder um de teus membros..."

X Semana do Tempo Comum, Sexta-feira
Mt 5, 27-32



Nosso Senhor está falando do adultério e das uniões ilegítimas. Talvez sejam estes daquela categoria de pecados mais difíceis de evitar ou de deixar, uma vez que se caia nele, justamente por sua natureza e pelo apego do ser humano às paixões desordenadas - desequilíbrio que o habita desde o pecado original.
Por isso, Ele aproveita para sublinhar a relevância do pecado em nossas vidas, utilizando-Se de uma expressão exagerada, que diz duas vezes: "se teu olho é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti","se tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti".
Com essas expressões, Jesus quer mostrar que o pecado, qualquer que seja, não é algo de pouca importância, que possa ser relativizado (como se faz hoje com tanta frequência) ou creditado à fraqueza humana (como se o ser humano não pudesse ter culpa ou responsabilidade por seus atos e como se a culpa não fosse algo real). Pois o pecado destrói a alma e leva a pessoa para o inferno.
E o inferno existe de verdade. De outro modo, Nosso Senhor não falaria dele com tanta seriedade.
O que Jesus quer, então, nos ensinar é que, por mais que nos custe abandonar o pecado ou evitar aquilo que nos leva a pecar, é o que precisamos fazer se não quisermos ir para o inferno.
Evitar as ocasiões de pecado (ou abandonar a situação de pecado em que nos encontramos) sempre custa. E custa tanto mais, quanto mais amamos a nós mesmos e não amamos a Deus. Peca menos ou não peca, aquele que ama a Deus. E quanto mais amor, menos pecado. Pois onde Deus reina, não pode haver pecado e nem o diabo pode estabelecer o seu reinado de mentira e ilusão.
Quem se apega aos seus pecados e não se esforça por livrar-se deles não poderá entrar no Céu.
Por mais atrativos e confortáveis que nos pareçam os nossos pecados, enquanto vivemos neste mundo, é bom termos em mente que nenhum deles vale a eternidade no inferno.

terça-feira, 10 de junho de 2014

"Vós sois o SAL da terra. Vós sois a LUZ do mundo."

X Semana do Tempo Comum, terça-feira
Mt 5, 13-16



De que modo os discípulos de Cristo são sal da terra e luz do mundo? E em que medida?
Ao final do trecho que a Liturgia nos propôs ontem, dizia o Senhor que "(...) de mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
O modo, pois, de dar sabor à terra e de iluminar o mundo (refletindo a luz do Senhor) é, para os discípulos de Cristo, justamente continuando a missão dos profetas da Antiga Aliança.
E o que faziam eles? Conclamavam o povo de Israel a ser fiel (ou retomar a fidelidade) a Deus e à Aliança por Ele estabelecida e com Ele firmada, por meio de Moisés, no Monte Sinai.
Os profetas, mesmo à custa da própria vida, denunciavam ao povo as suas infidelidades - os seus pecados - e o chamavam ao arrependimento e a uma vida santa de obediência a Deus (uma vida de justiça).
Pois é preciso - e é urgente que isso ocorra - que o espírito da profecia seja reavivado nos discípulos de Cristo de nossos dias. E não somente o espírito da profecia, como também o espírito do martírio. Só assim os discípulos de Cristo poderão ser sal e luz, como diz e espera o Senhor.
Quem deseja seguir a Cristo, deve viver a radicalidade do Evangelho em sua vida, sendo profeta e testemunha (mártir) do Senhor todos os dias, desde os pequenos detalhes do seu cotidiano até os acontecimentos mais importantes e críticos de sua vida. Só assim terá sabor e refletirá a Luz de Cristo, que ilumina todo homem.
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