segunda-feira, 23 de junho de 2014

Hipocrisia e Julgamento

XII Semana do Tempo Comum, segunda-feira
Mt 7, 1-5

Na primeira leitura de hoje (II Rs 17,5-8.13-15.18), o Senhor adverte ao povo de Israel (o antigo Reino de Israel já se havia dividido em dois reinos, o Reino de Israel, ao norte, formado por onze, das doze tribos de Israel, e o Reino de Judá, ao sul, formado apenas pela tribo de Judá e sobre o qual reinava ainda a descendência do Rei Davi).
A advertência do Senhor é feita nos seguintes termos: "desviai-vos dos vossos maus caminhos, guardai os meus mandamentos e preceitos, observai fielmente a lei que prescrevi a vossos pais e que vos transmiti pelos meus servos, os profetas". Como observa a Sagrada Escritura, o povo não quis ouvir a advertência do Senhor, endureceu o coração e se tornou infiel a Deus, do mesmo modo que seus pais (seus antepassados).
Ao desprezarem os preceitos do Senhor, continua a Escritura, "foram atrás das coisas vazias e eles próprios se tornaram vazios". Então, sobreveio a tragédia: o povo de Israel foi deportado para a Assíria, tornou-se escravo de um povo pagão, porque "o Senhor os lançou para longe de Sua Face".
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No Evangelho, Nosso Senhor Jesus Cristo condena a hipocrisia. Adverte que ninguém deve julgar o próximo, porque o defeito que vê tão claramente no comportamento e no caráter de seu irmão há de ser, com toda a probabilidade, o seu próprio defeito e ainda mais grave do que ele julga ser o do outro.
Aquele que, em primeiro lugar, examina a si mesmo para ver se é culpado de alguma coisa diante de Deus, esse não precisará de julgamento. Julgando-se a si mesmo e encontrando-se culpado, buscará reconciliar-se com Deus e com os irmãos a quem eventualmente terá ofendido, agradará desse modo ao Senhor e será por Ele perdoado. E não terá vontade e nem tempo de procurar outros a quem acusar, para desculpar-se de seus próprios erros.
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Um sério problema de nossos tempos é que já ninguém quer examinar-se e reconhecer seus próprios defeitos, erros, falhas, vícios - enfim, seus pecados. Foge-se da culpa como o diabo foge da cruz. Porque o reconhecimento da culpa leva necessariamente ao reconhecimento do ofendido pelo próprio pecado - Deus. E ao reconhecer-se Deus como o ofendido, tem-se duas possíveis atitudes: arrepender-se e pedir perdão, com o sincero desejo de não voltar a pecar; ou fechar-se no próprio orgulho e permanecer obstinadamente no pecado, sem querer sair dele.
Em tese, é mais fácil permanecer no pecado. Pois o arrependimento e o pedido de perdão exigem da pessoa uma disposição interior de lutar contra aquilo que a leva a pecar. E o homem moderno não quer lutar, não tem mais a menor disposição para qualquer coisa que lhe custe, tem horror da palavra sacrifício (ainda que se sacrifique por muitíssimas coisas fúteis, nas quais acaba por colocar a razão e o sentido de sua existência).
No entanto, aquele que permanece no pecado torna-se vazio. E aqui se pode fazer uma ponte entre as duas leituras. Pois diz-nos claramente o Segundo Livro dos Reis que o povo do Reino do Norte, que não quis obedecer ao Senhor Deus e a seus preceitos, foi atrás de coisas vazias e ele mesmo, o povo, se tornou vazio.
O hipócrita, que não reconhece a si mesmo como culpado, mas acusa e julga permanentemente o outro, faz como o povo do antigo Reino do Norte, que não quis ouvir a voz do Senhor: torna-se vazio e busca coisas vazias, vive do que não lhe pode preencher a alma, que foi feita para encontrar sentido, realização, felicidade perfeita somente em Deus.
A hipocrisia mata a alma. O que se encontrará na alma do hipócrita, exceto o vazio? E a alma vazia não tem peso de eternidade...



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