Uma mulher, naquele tempo, já não era considerada grande coisa... Ainda por cima, nem israelita era, mas cananeia, ou seja, uma estrangeira. E os estrangeiros eram comparados aos cães.
Jesus parece cruel, trata mal a mulher, ignora-a primeiro e depois humilha-a. Mas Ele tinha um motivo: queria ver até onde iria o amor daquela mulher pela filha e, principalmente, até onde iria a sua fé. Não só, mas com suas atitudes em relação à mulher, aparentemente duras, Jesus vai aprofundando a fé da cananeia até o abandono total, para dar-lhe a cura da filha juntamente com o dom de uma fé madura e forte.
Pois a cada negativa de Jesus, menos a mulher cananeia confiava em si, em sua situação ou em suas qualidades ou possibilidades e mais acreditava em Jesus e em seu poder. E adquiria, por isso mesmo, aquela ousadia que somente pode vir naqueles que se sabem pequenos diante de Deus, a ousadia que nasce da verdadeira humildade.
Eis o segredo da mulher cananeia: sua resposta, ousada e profundamente humilde ao mesmo tempo, agrada tanto ao Senhor que o "derrota". Que argumentos teria ainda o Senhor todo-poderoso diante de uma tal afirmação de insignificância? Porque reconhece o seu "nada", a mulher recebe de Deus "tudo".
Seja assim também conosco, aprendamos a reconhecer a verdade: Deus é o nosso Criador e nós não passamos de criaturas. Deus, nosso Senhor, nos tem em suas mãos. Ele é quem nos dá a existência. Se, por um brevíssimo instante, Deus parasse de pensar em nós, cessaríamos de existir, como se jamais tivéssemos estado neste mundo. O que somos, pois, diante de Deus? Nada. Ele, no entanto, nos ama a tal ponto que veio ao mundo para entregar-se por nós (Jo 3, 16) e dar-nos a vida eterna. E faz tudo isso de forma gratuita, pois, se nada somos, nada podemos dar-Lhe.
O reconhecimento da verdade, que é a verdadeira humildade, agrada muito ao Coração de nosso Deus. Sejamos, pois, reconhecidos e gratos ao Senhor, procurando ter nEle uma fé humilde, madura e forte como a da cananeia.
(do site http://www.evangelhoquotidiano.org)
Comentário ao Evangelho do dia feito por Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano
Sermão 9 (a partir da trad. Cerf 1979, t. 1, p. 36)
«Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim!» É um apelo de uma força imensa. [...] É um gemido que vem como que de uma profundeza sem fim. Ele ultrapassa em muito a natureza e é o próprio Espírito Santo que deve proferir em nós esse gemido (Rom 8, 26). [...] Mas Jesus diz-lhe: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». [...] Ora, que faz ela assim acossada? [...] Penetra ainda mais profundamente no abismo. Prostrando-se e humilhando-se, mantém a confiança e diz: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos.»
Ah! Se também pudésseis penetrar assim tão verdadeiramente no fundo da verdade, não através de comentários sábios, palavras complexas ou mesmo dos sentidos, mas no fundo de vós mesmos! Nem Deus nem qualquer criatura conseguiria desprezar-vos, aniquilar-vos, se permanecêsseis na verdade, na humildade confiante. Poderiam sujeitar-vos a afrontas, ao desprezo e a recusas grosseiras, que vós iríeis perseverar, iríeis insistir, animados por uma total confiança, e iríeis aumentar sempre o vosso zelo. É disto que tudo depende, e aquele que chega a este ponto é bem sucedido. Apenas estes caminhos conduzem, na verdade e sem qualquer estação intermédia, a Deus. Mas permanecer assim nesta grande humildade, com perseverança, com uma segurança total e verdadeira como esta pobre mulher o fez, são poucos os que conseguem.
(do site http://www.evangelhoquotidiano.org)
Comentário ao Evangelho do dia feito por Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano
Sermão 9 (a partir da trad. Cerf 1979, t. 1, p. 36)
«Mulher, grande é a tua fé!»
«Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim!» É um apelo de uma força imensa. [...] É um gemido que vem como que de uma profundeza sem fim. Ele ultrapassa em muito a natureza e é o próprio Espírito Santo que deve proferir em nós esse gemido (Rom 8, 26). [...] Mas Jesus diz-lhe: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». [...] Ora, que faz ela assim acossada? [...] Penetra ainda mais profundamente no abismo. Prostrando-se e humilhando-se, mantém a confiança e diz: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos.»
Ah! Se também pudésseis penetrar assim tão verdadeiramente no fundo da verdade, não através de comentários sábios, palavras complexas ou mesmo dos sentidos, mas no fundo de vós mesmos! Nem Deus nem qualquer criatura conseguiria desprezar-vos, aniquilar-vos, se permanecêsseis na verdade, na humildade confiante. Poderiam sujeitar-vos a afrontas, ao desprezo e a recusas grosseiras, que vós iríeis perseverar, iríeis insistir, animados por uma total confiança, e iríeis aumentar sempre o vosso zelo. É disto que tudo depende, e aquele que chega a este ponto é bem sucedido. Apenas estes caminhos conduzem, na verdade e sem qualquer estação intermédia, a Deus. Mas permanecer assim nesta grande humildade, com perseverança, com uma segurança total e verdadeira como esta pobre mulher o fez, são poucos os que conseguem.
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