Solenidade de Pentecostes
Jo 20,19-23
Jesus ressuscitado aparece pela primeira vez aos discípulos reunidos e, como primícias da Sua Ressurreição, promete-lhes enviar o Espírito Santo. Pelo mesmo Espírito, também lhes concede o poder de perdoar os pecados, aplicando aos homens os frutos da Redenção por Ele operada na cruz.
O Espírito Santo traz-nos o perdão e a Paz de Jesus. Por Ele, pois, podemos clamar ao Pai como filhos adotivos: "Abá"! Pois, como diz São Paulo, "o próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus" (Rm 8, 15-16).
Hoje, peçamos ao Senhor Jesus que, uma vez mais, derrame o Seu Espírito sobre toda a Igreja, de modo que se realize na vida de todos os seus membros (e, portanto, em nossas vidas) este grande mistério de Pentecostes, que hoje celebramos na liturgia com fé viva, esperança renovada e ardente caridade.
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Dos Escritos sobre a Revelação e a Provação,
de
Santa Maria Madalena de Pazzi, virgem (século XVI)
Vinde, Espírito Santo
Verdadeiramente admirável sois Vós, ó Verbo de Deus, no Espírito Santo, ao fazer que Ele se infunda de tal modo na alma, que ela chegue a unir-se a Deus, conheça a Deus, saboreie Deus, e em nada se alegre fora de Deus.
O Espírito Santo desce à alma, marcado com o precioso selo do Sangue do Verbo, do Cordeiro imolado; mais ainda, é esse mesmo Sangue que o incita a descer, embora o Espírito já por Si tenha esse desejo.
O Espírito que assim deseja, é a substância do Pai e a substância do Verbo; procede da essência do Pai e do beneplácito do Verbo, vem como fonte que se difunde na alma, e a alma submerge-se n’Ele. Assim como dois rios, confluindo, de tal modo se misturam que o menor perde o seu nome e recebe o do maior, assim actua este Espírito divino, quando desce à alma para com ela Se unir. Mas é necessário que a alma, que é menor, perca o seu nome e o ceda ao Espírito Santo; e deve fazer isto transformando-se de tal modo no Espírito que se torne com Ele uma só coisa.
Porém, este Espírito, distribuidor dos tesouros que estão no coração do Pai e guarda dos segredos entre o Pai e o Filho, introduz-Se tão suavemente na alma que não se sente a sua vinda e, pela sua grandeza, poucos O apreciam.
Com a sua densidade e a sua leveza entra em todos os lugares que estão aptos e predispostos para O receber. Na sua palavra frequente, como também no seu profundo silêncio, é ouvido por todos; com impetuosidade e prudência, imóvel e mobilíssimo, penetra em todos os corações.
Não Vos ficais, Espírito Santo, no Pai imóvel e também não Vos ficais no Verbo; estais sempre no Pai e no Verbo, e em Vós mesmo, e em todos os espíritos bem-aventurados e nas criaturas. Sois necessário à criatura, por causa do Sangue derramado pelo Verbo Unigénito, o qual, pela veemência do amor, se tornou necessário à sua criatura. Repousais nas criaturas que se predispõem com pureza a receber em si, pela comunicação dos vossos dons, a vossa própria semelhança. Repousais nas almas que recebem em si os efeitos do Sangue do Verbo e se tornam habitação digna de Vós.
Vinde, Espírito Santo. Venha a união do Pai e o beneplácito do Verbo. Vós, Espírito da verdade, sois o prémio dos santos, o refrigério das almas, a luz das trevas, a riqueza dos pobres, o tesouro dos que amam, a abundância dos famintos, a consolação dos peregrinos; enfim, Vós sois Aquele que contém em Si todos os tesouros.
Vinde, Vós que, descendo a Maria, realizastes a Encarnação do Verbo, e realizai em nós, pela graça, o que n’Ela realizastes pela graça e pela natureza.
Vinde, Vós que sois o alimento de todo o pensamento casto, a fonte de toda a clemência, a plenitude de toda a pureza.
Vinde e transformai tudo o que em nós é obstáculo para sermos plenamente transformados em Vós.