XXXIII Semana do Tempo Comum, sábado
Memória dos mártires vietnamitas Santo André Dung-Lac, sacerdote, e seus companheiros
Lc 20, 27-40
A morte não é um cessar da existência. Separam-se a alma e o corpo, rompe-se a unidade de que somos feitos, como consequência última do pecado de nossos primeiros pais, que corrompeu a nossa natureza.
Mas se o corpo se desfaz até tornar-se pó, para ressuscitar somente no dia do Juízo Universal, a alma - imortal - já segue para o seu destino eterno, depois de comparecer perante o Senhor, Juiz justo e misericordioso, naquilo que se chama Juízo Particular.
Quando, então, saímos desta vida (a qual vivemos em corpo e alma) já passamos para as realidades eternas (seja o Céu ou o Inferno, a salvação ou a condenação eternas), embora não as vivamos em plenitude, porque a alma estará ainda à espera do corpo, que se lhe vai juntar novamente no último dia.
Nosso Senhor alerta, pois, que as realidades últimas superam em muito as desta vida e que não podemos supor que o Céu é uma vida igual a que temos na terra, apenas sem sofrimento, ou que o Inferno é apenas uma versão piorada daquilo que já conhecemos aqui.
Quem pensa no Céu com anjinhos sentados em nuvens com harpas nas mãos (monótono, chato) ou no Inferno como o retratam alguns comerciais de televisão (divertido e prazeroso), não só debocha de nosso destino final como tem dele uma visão infantil. Pensar assim é o mesmo que dizer que o que somos e experimentamos nesta vida não tem nenhuma consequência.
Pelo contrário: aquilo que fazemos de nós mesmos na terra será a nossa vida para sempre, seja no Céu, seja no Inferno. E depende de nossa própria escolha.
Quanto mais plenamente amarmos a Deus nesta vida, mais plena e perfeitamente felizes seremos com Ele no Céu, porque teremos atingido o fim para o qual fomos criados, que é a participação na felicidade perfeita de nosso Criador.
E quanto mais radicalmente rejeitarmos a Deus nesta vida, mais odiaremos e sofreremos no Inferno, onde não há (e nem pode haver) nenhum bem e nada que seja bom - apenas ódio, dor, angústia e desespero completos. Estaremos vivendo o absurdo e o vazio de uma existência sem sentido e fracassada, que virou as costas a seu Senhor, por quem e para quem se vive.
Recebemos de Deus o presente, a dádiva de uma vida transitória, na qual podemos construir, edificar, semear o que seremos em definitivo, na eternidade.
Aproveitemos esse tempo que nos é dado, sem desperdiçá-lo com fantasias pueris que só servem para a ilusão de uma fuga inútil da realidade que, a cada dia, se aproxima mais de nós.
***
Catecismo da Igreja Católica, número 996 a 1000
Desde o início que a fé cristã na ressurreição tem sido alvo de incompreensões e oposições. «Não há nenhum outro tema da fé cristã que seja objecto de mais contradição do que a ressurreição da carne» (Santo Agostinho). É muito comumente aceite que, após a morte, a vida da pessoa humana continue de forma espiritual. Mas como acreditar que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar para a vida eterna?
O que é «ressuscitar»? Na morte, a separação da alma e do corpo, o corpo do homem entra em corrupção enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser reunida com o seu corpo glorificado. Deus Todo-Poderoso dará definitivamente a vida incorruptível ao nosso corpo, unindo-o à nossa alma através do poder da ressurreição de Jesus.
Quem ressuscitará? Todos os homens que morreram: «Os que tiverem praticado boas obras sairão, ressuscitando para a vida, e os que tiverem praticado o mal hão-de ressuscitar para a condenação» (Jo 5,29).
Como? Cristo ressuscitou com o Seu próprio corpo: «Vede as Minhas mãos e os Meus pés; sou Eu mesmo» (Lc 24,39); mas Ele não regressou a uma vida terrena. Do mesmo modo, n' Ele «todos ressurgirão com o próprio corpo que têm agora» (Concílio de Latrão IV), mas esse corpo será «tornado conforme ao Seu corpo glorioso» (Fl 3,21), um «corpo espiritual» (1Co 15,44). «Mas dirá alguém: Como ressuscitam os mortos? Com que espécie de corpo voltam eles? Insensato! O que semeias não toma vida se primeiro não morrer. E o que semeias não é o corpo que há-de vir, mas um simples grão de trigo, por exemplo. [...] Semeia-se na corrupção e ressuscita-se na incorrupção [...]; os mortos ressuscitarão incorruptíveis. [...] É necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, e que este corpo mortal se revista de imortalidade» (1Cor 15,35-53). Este «como» ultrapassa a nossa imaginação e a nossa compreensão; só é acessível pela fé. Mas a nossa participação na Eucaristia dá-nos já um antegosto da transfiguração do nosso corpo por Cristo: «Assim como o pão que vem da terra, depois de ter recebido a invocação de Deus, não é mais pão comum mas Eucaristia, constituída por duas realidades, uma terrena e a outra celeste, da mesma forma o nosso corpo que participa da Eucaristia deixa de ser corruptível, pois têm a esperança da ressurreição» (Santo Irineu).
Quando? Definitivamente, «no último dia» (Jo 6,39-40), «no fim do mundo». Com efeito, a ressurreição dos mortos está intimamente associada à Parusia (segunda vinda) de Cristo.