quinta-feira, 22 de setembro de 2011

XXV Semana do Tempo Comum - Lc 9, 7-9

"... e procurava ver Jesus"
Sim, Herodes queria ver Jesus. E quanto a Jesus? Deixar-se-ia ver por Herodes, deixar-se-ia encontrar por ele?
"Invocai o Senhor enquanto está perto, buscai-o enquanto se pode achar", alerta-nos o profeta (cf. Is 55, 6).
O Senhor se oculta aos olhos dos que O procuram com arrogância e mesquinhez, para satisfazer sua curiosidade, para tentar colocar Deus a seu serviço, para seu próprio envaidecimento.
E se mostra aos que O procuram para ouvir a Sua Voz e segui-lO, entregando-Lhe seus corações e suas vidas e deixando para trás seus erros e pecados. O Senhor se deixará ver e encontrar por todo aquele que deseja converter-se a Ele de todo o coração e que reconhece que "o Senhor, só Ele é Deus; Ele mesmo nos fez e somos seus" (Sl 99(100), 3).
A quem O busca com um coração humilde e generoso, o Senhor conduzirá aos Seus montes de delícias, o lugar de Seu repouso. Conceder-lhe-á a Sua Luz e dar-lhe-á de beber da água da vida.
Para os que O quiserem ver com um coração como o de Herodes, restarão o silêncio, o vazio e a escuridão.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Festa de São Mateus, apóstolo – Mt 9, 9-13

"Quero misericórdia e não sacrifício”

Ícone São MateusJesus vê Mateus e diz-lhe: “segue-me”. Mateus se levanta e segue a Jesus, obedecendo ao Seu chamado.

O que Jesus vê? Que olhar é esse que faz aquele cobrador de impostos deixar imediatamente os seus negócios desonestos, seus lucros indevidos e sua riqueza para seguir a um simples pregador, um profeta sem bens nem posses, que nada tinha deste mundo a oferecer-lhe?

É que Jesus viu a alma e o coração de Mateus. O olhar de Jesus desvendou para Mateus a verdade de seu ser e, ao mesmo tempo, descobriu a seus olhos o que ele, por si mesmo, era incapaz de ver: o amor infinito de Deus, a Sua misericórdia e o Seu perdão.

Depois de tudo isto, como poderia Mateus ainda permanecer preso às coisas deste mundo, às riquezas estéreis, fúteis e passageiras que o cegavam e o impediam de correr ao encontro do Senhor que o chamava e de Seu Reino?

Jesus chamou Mateus, que era um pecador público de seu tempo. E disse que viera exatamente para isso: “Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”. Pois os que “têm saúde não precisam de médico, mas, sim, os doentes”.

Jesus também vê, olha, contempla a cada um dos homens e das mulheres. Vê a mim e a ti. Olha-nos e espera que Lhe retribuamos o olhar para fazer conosco o que fez com Mateus um dia: desvendar-nos para nós mesmos e fazer-nos conhecer o amor infinito com que Deus nos ama, para compreendermos que só Ele, Deus, pode dar-nos a verdadeira plenitude, realizando todos os anseios de nossos corações.

Depois, ouviremos a Sua Voz: “SEGUE-ME”…

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Memória dos Santos mártires coreanos André Kim Taegón, Paulo Hasang e companheiros (1846) – Lc 8, 19-21

Quem, mais do que Maria, ouviu a Palavra de Deus e a colocou em prática? Pois ela, Maria, é aquela que “conservava todas estas coisas e as meditava em seu coração” (cf. Lc 2, 19.51). Isto é, guardava e meditava sobre tudo o que lhe sucedia desde que havia dado seu consentimento a Deus, desde que concebera em seu seio o Filho unigênito de Deus, entregando-se inteiramente à Sua santíssima Vontade.

E não é também de Maria que diz a Escritura: “bendita és tu que creste, pois o que te foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1, 45)? Não é ela, Maria, aquela a quem proclamamos bem-aventurada (feliz) por todas as gerações porque o Todo-Poderoso fez nela e por meio dela maravilhas (cf. Lc 1, 48-49)?

Portanto, ninguém mereceu, como Maria, o louvor que hoje vemos sair da boca de Jesus, seu divino Filho, e que, com justiça, lhe é tributado. Ela é, de fato, a Mãe de Jesus, mas não só pelos laços biológicos. Principalmente o é porque ouviu a Palavra de Deus e a pôs em prática, muito mais do que todos os patriarcas, profetas e justos do Povo de Israel antes dela e muito mais do que todos os santos do novo Povo de Deus que vieram depois dela.

Tomemos, pois, Maria como exemplo para nós. Quando, a cada dia, tomarmos a Palavra de Deus, peçamos ao Senhor a graça de o fazermos como Maria. Aprendamos a conservar a Sua Palavra no coração, ali a meditemos continuamente e a coloquemos em prática. Nada mais do que isso fizeram os mártires coreanos, cuja memória hoje celebramos e que deram a vida para testemunhar sua fé em Jesus Cristo.

Mártires Coreanos

martires_coreia2No início do século XVII, por iniciativa de alguns leigos, entrou pela primeira vez a fé cristã na Coreia. Assim se formou uma comunidade forte e fervorosa, sem pastores, quase só conduzida por leigos, até ao ano 1836, durante o qual chegaram os primeiros missionários, vindos de França, que entraram furtivamente na região. Nas perseguições dos anos 1839, 1846 e 1866, surgiram desta comunidade 103 santos mártires, entre os quais se distinguem o primeiro presbítero e ardente pastor de almas André Kim Taegon e o insigne apóstolo leigo Paulo Chong Hasang. Os outros são quase todos leigos, homens e mulheres, casados ou não, anciãos, jovens e crianças, que, suportando o martírio, consagraram com o seu glorioso sangue os florescentes primórdios da Igreja coreana.martires_coreia1

Última exortação de Santo André Kim Taegón

Meus caríssimos irmãos e amigos, considerai como Deus no princípio dos tempos dispôs os céus, a terra e todas as coisas; meditai também com que especial intenção criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Se, pois, nesta vida de perigos e miséria, não reconhecermos o Criador, de nada nos servirá termos nascido e continuar vivendo. Já neste mundo pela graça divina, pela mesma graça recebemos o batismo, entrando no seio da Igreja e tornando-nos discípulos do Senhor. Mas, trazendo assim o precioso nome de cristãos, de que nos servirá tão grande nome, se na realidade não o formos? Seria inútil termos nascido e ingressado na Igreja se traíssemos o Senhor e a sua graça; melhor seria não termos nascido do que, recebendo a sua graça, pecarmos contra ele.

Considerai o agricultor ao lançar a semente no campo: primeiro, prepara a terra com o suor do seu rosto e depois joga a preciosa semente; chegando o tempo da colheita, alegra-se de coração com as espigas cheias, esquecendo seu trabalho e suor, e dançando de alegria; se porém as espigas permanecem vazias não sendo mais que palha e casca, o agricultor deplora o duro labor com que suou, sentindo-se tanto mais desesperado quanto mais trabalhou.

De modo semelhante, cultiva o Senhor a terra como seu campo, sendo nós os grãos de arroz; rega-nos com o seu sangue na sua Encarnação e Redenção para que possamos crescer e amadurecer; quando, no dia do juízo, vier o tempo da colheita, quem pela graça for achado maduro gozará o reino dos céus como filho adotivo de Deus. Quanto aos outros, que não amadureceram, tornar-se-ão inimigos, punidos para sempre, embora também tenham se tornado filhos adotivos de Deus pelo batismo.

Irmãos caríssimos, lembrai-vos de que nosso Senhor Jesus, descendo a este mundo, sofreu inúmeras dores e tendo fundado a Igreja por sua paixão, ele a faz crescer pelos sofrimentos dos fiéis. Apesar de todas as pressões e perseguições, os poderes terrenos não poderão prevalecer: da Ascensão de Cristo e do tempo dos apóstolos até hoje, a santa Igreja continua crescendo no meio das tribulações.

Também nesta nossa terra da Coréia, durante os cinqüenta ou sessenta anos em que a santa Igreja se estabeleceu aqui, os fiéis sempre sofreram perseguições. Hoje acendeu-se de novo a perseguição; muitos amigos são, como eu, lançados nos cárceres, enquanto também sofreis tribulações. Unidos num só corpo, como não ficarão tristes os nossos corações? Como, humanamente, não experimentarmos a dor da separação?

Deus, porém, como diz a Escritura, cuida de cada cabelo de nossa cabeça, e o faz com toda a sabedoria; portanto, como não considerar esta perseguição senão como permitida pelo Senhor, ou mesmo, seu prêmio ou, até, sua pena?

Abraçai, pois, a vontade de Deus, combatendo de todo o coração pelo vosso chefe Jesus e vencendo o demônio, já vencido por ele.

Eu vos peço: não deixeis de lado o amor fraterno, mas ajudai-vos uns aos outros, perseverando até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação.

Aqui somos vinte e, pela graça de Deus, todos ainda estão bem. Caso algum de nós venha a morrer, peço não negligenciardes a sua família. Muitas coisas teria ainda a dizer-vos, mas como posso exprimi-las em tinta e papel? Por isso vou terminar minha carta. Aproximando-se para nós a luta, peço-vos finalmente que caminheis com fidelidade, de modo que no céu nos possamos congratular. Deixo-vos aqui meu ósculo de amor.

(fonte: www.liturgiadashoras.org)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Festa da Exaltação da Santa Cruz - Jo 3, 13-17

Homília grega do século IV
Sobre a santa Páscoa (inspirada numa homília perdida de Hipólito)


"Ninguém subiu ao Céu a não ser Aquele que desceu do Céu"

Para mim, a árvore da cruz é a da salvação eterna. Alimenta-me e faço dela o meu banquete. Agarro-me através das suas raízes e, através dos seus ramos, expando-me; o seu orvalho purifica-me e o seu sopro, como um vento delicioso, torna-me fecundo. Ergui a minha tenda à sua sombra e, fugindo aos grandes calores, aí encontro um refúgio de frescura. É através das suas flores que floresço e os seus frutos são as minhas delícias; esses frutos que me estavam reservados desde as origens e com os quais me consolo sem limite. [...] Quando tremo face a Deus, esta árvore protege-me; quando vacilo, ela é o meu apoio; é o preço dos meus combates e o troféu das minhas vitórias. É, para mim, o caminho estreito, o sendeiro escarpado, a escada de Jacob percorrida pelos anjos, no cimo da qual o Senhor está verdadeiramente apoiado (cf. Mt 7,14; Gn 28,12).
Esta árvore de dimensões celestes eleva-se da terra até aos céus, como planta imortal, fixada a meio caminho entre o céu e a terra. Sustentáculo de todas as coisas, apoio do universo, suporte do mundo habitado, abraça o cosmos e reúne os vários elementos da natureza humana. Ela própria é edificada com as cavilhas invisíveis do Espírito, para não vacilar ao ajustar-se ao divino. Tocando no seu topo o alto dos céus, firmando a terra com os seus pés e envolvendo por todos os lados, com os seus imensos braços, os espaços inumeráveis da atmosfera, ela é em si mesma completa em tudo e em todo o lado. [...]
Pouco faltaria para que o universo fosse aniquilado, dissolvido pelo terror perante a Paixão, se o grande Jesus não lhe tivesse infundido o Espírito divino, dizendo: «Pai, nas Tuas mãos entrego o meu Espírito» (Lc 23,46). [...] Tudo estava vacilante mas, quando o Espírito divino Se elevou, o universo foi de certa forma reanimado, vivificado, e reencontrou uma estabilidade firme. Deus preenchia tudo em todo o lado e a crucifixão estendia-se através de todas as coisas.

(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org)

domingo, 11 de setembro de 2011

XXIV Domingo do Tempo Comum - Mt 18, 21-35

"... um Rei que resolveu acertas as contas com seus empregados"


Que grande a misericórdia e a bondade desse Rei, que não castiga ou repreende seus empregados mesmo quando não Lhe obedecem e que lhes empresta grandes quantias e ainda perdoa suas dívidas quando não Lhe pagam, ao invés de fazer justiça!
Cada um de nós é esse empregado que tem para com o Rei uma dívida imensa, impagável. Porque dEle recebemos tudo: a vida, as qualidades, as capacidades, os bens materiais e espirituais, o chamado à santidade, a Redenção no sangue de Seu Filho e a herança eterna no Reino dos Céus. "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não te esqueças de nenhum de seus favores" (Sl 102(103))!
Mesmo quando Lhe desobedecemos e somos ingratos, o Rei está sempre pronto a nos perdoar. E prefere fazê-lo porque sabe que não temos como pagar a dívida. Se nos cobrar, terá de vender-nos como escravos ou entregar-nos aos torturadores, ou seja, terá de excluir-nos de Seu Amor.
Porque o Rei nos concede dons de amor (e amor infinito!) e essa é a nossa dívida; não podemos pagá-la senão amando-O em retribuição. E o amor não pode ser cobrado, pois só se pode amar em liberdade! Aquele, portanto, que é cobrado, já não ama e nem quer amar, por isso exclui-se a si mesmo do Amor. Não é isso o que o Rei deseja! Ele quer tratar-nos como filhos amados, não como empregados a Seu serviço!
O servo mau da parábola julgou-se dono dos dons do Amor e foi incapaz de compreender que nada do que tinha lhe pertencia; antes, recebera-o do Amor. Não façamos como ele; compreendamos que nada temos que não tenhamos recebido de Deus. Somos devedores do Amor e no amor devemos retribuir-Lhe, amando-O sobre todas as coisas e amando a todos os que Ele ama.
De outro modo, não será o Rei quem nos condenará; seremos nós a excluir-nos de Seu Amor, para sempre.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Festa da Natividade de Nossa Senhora - Mt 1,1-16.18-23

Deus está conosco porque uma virgem concebeu e deu à luz um Filho. O povo de Deus estava em abandono até esse tempo, mas não mais. Porque Ele, cuja origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade (Mq 5,1), nasceu de uma mulher. Vindo na carne, recebendo dela a humanidade, o Verbo eterno estende seu poder até os confins da terra e é, Ele mesmo, a nossa paz (cf. Mq 5,4).
Maria é a aurora resplandescente de beleza que precede o Sol da justiça que nasce no oriente para nos trazer a cura e a paz. Por isso é que comemoramos, hoje, o seu nascimento. Pois por ela, a virgem puríssima, veio ao mundo Aquele pelo qual somos salvos, Jesus Cristo, Deus e Senhor nosso.
Senhora e Rainha do Céu e da terra, a quem Deus ornou com todas as virtudes e fez plena de graça, a Serva do Senhor foi feita também a Mãe de todos os homens, pelos quais o Filho derramou todo o Seu Sangue na cruz (cf. Jo 19, 25-27).
Ela, pois, intercede por nós continuamente e aponta-nos permanentemente a Jesus, dizendo: fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2, 5).
Alegremo-nos, portanto, com a festa do nascimento de Maria, por quem Deus quis vir ao mundo. Por ela recebemos o Autor da Vida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

XXIII Semana do Tempo Comum - Lc 6,20-26

"... por causa do Filho do Homem"
Ele, Jesus Cristo, o Filho do Homem, deve tornar-se o centro de nossa vida. Ao redor dEle é que tudo deve girar. Por causa dEle é que tudo deve se mover.
Por Ele, Jesus, devemos ser pobres para Deus, isto é, desapegados das coisas deste mundo, sabendo relativizar a sua importância e usando delas sem torná-las o objetivo pelo qual vivemos. Quem é pobre para Deus sabe que Ele é a sua única e verdadeira riqueza.
Também por Ele, Jesus, choramos, porque o mundo se afasta do Senhor e rejeita o Seu Reino, caminhando a passos largos para a própria desgraça. E temos fome de justiça, isto é, de que plenamente se cumpra, sempre, em toda parte e por todos, a Vontade santíssima de Deus.
Por Ele, Jesus, somos odiados e perseguidos, pois, como Ele, somos censura para o mundo e para o seu modo de viver. E esta deve ser a nossa maior felicidade, porque seremos mais semelhantes ao nosso Mestre e Senhor, sendo vistos e rejeitados pelo mundo do mesmo modo como Ele o foi.
Pois os que dizem não precisar de Deus porque já possuem tudo sem Ele, os que se consideram ricos diante de Deus, esses são, em verdade, miseráveis; põe seu coração nas coisas que passam e viram pó, enquanto desdenham a eternidade.
Estão rindo por fora, mas são, de fato, os mais infelizes e desgraçados de todos os homens, porque negam a si mesmos o único Bem que lhes pode dar a verdadeira felicidade e a plena realização de suas vidas - o Amor de Deus. Têm fome de Deus e tentam enganá-la enchendo a alma de coisas que perecem, o lixo deste mundo. Em verdade, não fazem mais que deixá-la vazia e não tardará o dia em que deverão defrontar-se com a realidade: compreender o imenso contraste entre o que foram criados por Deus para ser e o que, de fato, se tornaram, por força das próprias escolhas.
Os que são belos, preciosos e importantes aos olhos do mundo, também o serão aos olhos de Deus?
Deus nos criou para sermos conformes à imagem de Seu Filho, "o mais belo dos filhos dos homens". Seja essa a nossa grande ambição - "corações ao alto" - e não nos contentemos com menos do que isso.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Martírio de São João Batista - Mc 6, 17-29

Cale-se a voz do Precursor, para que não mais seja ouvida a Palavra. Sejam caladas, mais tarde, as vozes dos apóstolos e discípulos de todos os tempos, para que já não ressoe mais a Palavra. No entanto, quem pode silenciar a Palavra eterna do Pai, Jesus Cristo, Senhor nosso?
Se a voz de João, o Batista, não pode mais soar, o seu sangue grita: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29). E, do mesmo modo, grita o sangue de todos os que, desde João até os dias de hoje, deram a vida pelo testemunho do Senhor e não O renegaram.
Herodes, porém, representa o mundo: "tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava".
Como soava a voz profética de João diante de Herodes, denunciando seus erros e anunciando a Verdade, assim ressoa hoje a voz da Igreja, profética igualmente, diante do mundo. Ressoa a voz do Papa, não mais do que um homem, velho e frágil, encarregado de uma missão que ultrapassa suas forças; mas tornado por Deus "uma cidade fortificada, uma coluna de bronze, um muro de ferro contra todo o mundo" (Jr 1, 18).
Tal como João, o Papa e a Igreja embaraçam a quem os escuta. Os poderosos da terra temem a este homem velho, mas verdadeiramente enviado por Deus, e tremem ao ouvir a sua voz, portadora da Palavra. "Seu som ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do universo a sua voz" (Sl 18, 5). E quem poderá silenciá-la?


Sermão sobre a Degolação de São João Batista, de Lansperge, o Cartuxo (1489-1539), religioso e teólogo
(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org)

João Batista morre por Cristo

João não viveu para si próprio nem morreu para si próprio. A quantos homens carregados de pecados a sua vida dura e austera não terá levado à conversão? A quantos homens a sua morte não merecida não terá encorajado a suportar as provas? E a nós, donde nos vem hoje a ocasião para darmos fielmente graças a Deus, senão da lembrança de São João Batista, assassinado pela justiça, ou seja por Cristo? [...]
Sim, João Batista sacrificou de todo o coração a sua vida terrena por amor de Cristo; preferiu menosprezar as ordens do tirano que as de Deus. Este exemplo  ensina-nos que nada nos deve ser mais querido que a vontade de Deus. Agradar aos homens não serve de grande coisa; em geral, até prejudica grandemente. [...] Por esta razão, com todos os amigos de Deus, morramos para os nossos pecados e as nossas preocupações, pisemos o nosso amor próprio desviado e deixemos crescer em nós o amor fervoroso a Cristo.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Festa de Santa Rosa de Lima, virgem, padroeira da América Latina - Mt 13, 44-46

Aquele que encontra o Reino dos Céus, mesmo sem ter procurado por ele, "vende todos os seus bens" para possuí-lo.
Também aquele que procura o Reino, quando o encontra, por causa dele "vende todos os seus bens".
Não há, pois, nada que se compare em valor ao Reino dos Céus. E vender tudo o que se possui é a única maneira de chegar à sua posse.
Aquele que detém as riquezas deste mundo, se não se desfizer delas, não terá como possuir o Reino. Pois a riqueza deste mundo é lixo diante de Deus e a pobreza das coisas deste mundo é riqueza diante de Deus.
E deter as riquezas deste mundo significa absolutizar as realidades terrenas, como se elas fossem as únicas existentes, como se não houvesse nada além ou maior do que esta existência material, como se estivéssemos destinados unicamente a viver neste mundo uma existência perecível e efêmera e, por isso, devêssemos "aproveitá-la" o mais possível, porque finita e muito breve, nada existindo depois dela. Quem se apega às coisas da terra como se só elas fossem importantes e só elas existissem, sem um olhar transcendente, não pode enxergar a Vida que nos está prometida para a eternidade.
Entrará no Reino de Deus aquele que souber relativizar as realidades terrenas, aquele que compreender que "a instável figura deste mundo passa" (ICor 7, 31) e permanece a eternidade de Deus, a vida que dEle recebemos por Cristo Jesus.

Santa Rosa de Lima, virgem, +1617, padroeira da América Latina

 Isabel Flores y de Oliva era o nome de batismo de Santa Rosa de Lima que nasceu em 1586 em Lima, Peru. Os seus pais eram espanhois, que se haviam mudado para a rica colônia do Peru. O nome Rosa foi-lhe dado carinhosamente por uma empregada índia, Mariana, pois a mulher, maravilhada pela extraordinária beleza da menina, exclamou admirada: Você é bonita como uma rosa!
Levada à miséria com a sua família, ganhou a vida com duro trabalho da lavoura e costura, até alta noite. Aos vinte anos, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco, pediu e obteve licença de fazer os votos religiosos em sua própria casa, como terceira dominicana. Construiu para si uma pequena cela no fundo do quintal da casa de seus pais. A cama era um saco de estopa, levando uma vida de austeridade, de mortificação, de abandono à vontade de Deus. Vivia em contínuo contato com Deus, alcançando um alto grau de vida contemplativa e de experiência mística. Soube compreender em profundidade o mistério da paixão, morte de Jesus, completando na sua própria carne o que faltava à redenção de Cristo. Era muito caridosa, em especial com os índios e com os negros.
Todos os anos, na festa de São Bartolomeu, passava o dia inteiro em oração: "Este é o dia das minhas núpcias eternas", dizia. E foi exatamente assim. Morreu depois de grave enfermidade no dia 24 de agosto de 1617, com apenas 31 anos de idade.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

XIX Semana do Tempo Comum - Memória de Santa Clara de Assis, virgem

"Não devias também ter piedade do teu companheiro?"
Papa João Paulo II, beato
Encíclica "Dives in misericordia" cap. 17, §14
Se Paulo VI por mais de uma vez indicou que a «civilização do amor» é o fim para o qual devem tender todos os esforços, tanto no campo social e cultural, como no campo económico e político, é preciso acrescentar que este fim nunca será alcançado se, nas nossas concepções e nas nossas actuações, relativas às amplas e complexas esferas da convivência humana, nos detivermos no critério do «olho por olho e dente por dente» (Ex 21,24; Mt 5,38) e, ao contrário, não tendermos para transformá-lo essencialmente, completando-o com outro espírito. É nesta direcção que nos conduz também o Concílio Vaticano II quando, ao falar repetidamente da necessidade de «tornar o mundo mais humano» (GS 40), centraliza a missão da Igreja no mundo contemporâneo precisamente na realização desta tarefa. O mundo dos homens só se tornará mais humano se introduzirmos, no quadro multiforme das relações interpessoais e sociais, juntamente com a justiça, o «amor misericordioso» que constitui a mensagem messiânica do Evangelho.
O mundo dos homens só poderá tornar-se «cada vez mais humano» quando introduzirmos, em todas as relações recíprocas que formam a sua fisionomia moral, o momento do perdão, tão essencial no Evangelho. O perdão atesta que, no mundo, está presente o amor que é mais forte que o pecado. O perdão, além disso, é a condição fundamental para a reconciliação, não só nas relações de Deus com o homem, mas também nas relações dos homens entre si. Um mundo do qual se eliminasse o perdão seria apenas um mundo de justiça fria e pouco respeitosa, em nome da qual cada um reivindicaria os direitos próprios em relação aos demais. Deste modo, as várias espécies de egoísmo, latentes no homem, poderiam transformar a vida e a convivência humana num sistema de opressão dos mais fracos pelos mais fortes, ou até numa arena de luta permanente de uns contra os outros.
Com razão a Igreja considera seu dever e objectivo da sua missão assegurar a autenticidade do perdão, tanto na vida e no comportamento concreto, como na educação e na pastoral. Não o protege doutro modo senão guardando a sua fonte, isto é, o mistério da misericórdia de Deus, revelado em Jesus Cristo.
(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org/)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

XVII Semana do Tempo Comum - Mt 13, 44-46

Um tesouro escondido
De Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
A esposa [do Cântico] dos Cânticos diz [...] que se levantou do leito para procurar o seu Bem-Amado na cidade, mas em vão; depois de ter saído da cidade, encontrou Aquele que o seu coração amava (cf. Ct 3, 1-4). Jesus não quer que encontremos a Sua adorável presença no repouso: Ele esconde-Se. [...] Oh! Que melodia para o meu coração é esse silêncio de Jesus. Ele faz-Se pobre para que possamos usar de caridade para com Ele; estende-nos a mão como um mendigo para que, no dia radioso do julgamento, quando Ele aparecer na Sua glória, possamos escutar as Suas doces palavras: «Vinde, benditos de Meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me de vestir, adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter coMigo» (Mt 25, 34-36). Foi o próprio Jesus que pronunciou estas palavras, é Ele que quer o nosso amor, que o mendiga. Põe-Se, por assim dizer, à nossa mercê, não quer tomar nada sem que Lho demos. [...]
Jesus é um tesouro escondido, um bem inestimável que poucas almas sabem encontrar, porque Ele está escondido e o mundo ama aquilo que brilha. Ah! Se Jesus Se tivesse querido mostrar a todas as almas com os Seus dons inefáveis, de certeza que não haveria nenhuma que O desdenhasse; mas Ele não quer que O amemos pelos Seus dons: Ele próprio é que deve ser a nossa recompensa.
Para encontrarmos uma coisa escondida, temos de nos esconder; a nossa vida deve, portanto, ser um mistério; é preciso assemelharmo-nos a Jesus, a Jesus diante de Quem se tapa o rosto (cf. Is 53,3). [...] Jesus ama-te com um amor tão grande que, se o visses, entrarias num êxtase de felicidade [...], mas não o vês e sofres com isso. Muito em breve Jesus «Se levantará para o julgamento, para salvar os humildes da terra» [Sl 76 (75),10].
(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Festa de São Tiago, apóstolo - Mt 20, 20-28

"Quem quiser ser o primeiro, seja o vosso servo"
Quem ama a Jesus Cristo verdadeiramente e deseja de todo o coração servi-lO, será servidor dos demais e não desejará para si mesmo honrarias, títulos e posições de destaque. Para o verdadeiro servo de Jesus Cristo, a maior honraria é receber do mundo o mesmo que seu Senhor recebeu: o desprezo e a cruz.
No Reino dos Céus, reinar é servir. Essa é a lógica à qual devem obedecer, desde esta vida, todos os que pretendem ser discípulos de Jesus Cristo.
Mas em que consiste o serviço que deve praticar o discípulo de Cristo? Esse serviço, que se dirige fundamentalmente a todas as demais pessoas, traduz-se por fazer tudo, sem medir esforços, para que todos cheguem ao conhecimento de Cristo e tomem parte no Reino dos Céus. É doar-se aos demais como quem se doa ao próprio Cristo Jesus, que nos deu o exemplo máximo, pois não se apegou ao fato de ser Deus, mas humilhou-se a Si mesmo, tomando a forma de escravo (a condição humana) e foi obediente até a morte de cruz, sendo, por isso, exaltado pelo Pai (cf. Fl 2, 2-11).
Aquele que imitar o Senhor Jesus Cristo no serviço aos outros será verdadeiramente seu discípulo e será exaltado pelo Senhor como grande no Reino dos Céus.

XVII Domingo do Tempo Comum - Mt 13,44-52

O Reino dos Céus pode ser encontrado por quem não o procura. Se esse encontro inesperado encher de alegria aquele que encontrou o Reino, esse dará tudo o que tem para possuí-lo, pois entende que nada vale mais do que esse Reino que achou sem procurar e, talvez, sem mesmo haver desejado.
Mas há também que busque o Reino dos Céus porque sabe de seu valor infinito. Se essa busca for motivada por um coração sincero, aberto e generoso, então não será em vão. Pois todo aquele que busca, encontra, disse o Senhor (cf. Mt 7, 8). E também esse fará do Reino dos Ceús a sua única riqueza.
Todos são convidados a tomar lugar no Reino dos Céus. A rede dos pescadores do Reino (isto é, a rede da Igreja) é lançada permanentemente sobre o mar do mundo, a fim de tirar os homens do jugo do demônio e dar-lhes "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus" (Rm 8, 21). Nem todos, porém, desejam ter parte no Reino de Deus. E os que quiserem ficar de fora serão como os peixes que não prestam, jogados de volta ao mar.
Porque Deus quer dar o Seu Reino a todos, mas não forçará ninguém (cf. ITm 2,4 - "Deus deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade"). Tomará posse do Reino aquele que o desejar de todo o coração; que, desejando-o, encher seu coração de alegria nesse desejo; e que, pelo Reino, seja capaz de dar tudo o que tem quando o encontra, ainda que jamais o tenha procurado.

Ouça também o podcast "A Pérola do Reino dos Céus",
no site Christo Nihil Praeponere:
http://padrepauloricardo.org/audio/49-testemunho-de-fe-%E2%80%93-17%C2%BA-domingo-do-tempo-comum-%E2%80%93-24072011/

sábado, 23 de julho de 2011

XVI Semana do Tempo Comum - Mt 13, 24-30

"Arrancai primeiro o joio (...) para ser queimado"
Não experimentamos em nós tanto os impulsos que vem de Deus para fazer crescer nossas almas e levar-nos à santidade, quanto os impulsos de nossas paixões desordenadas que nos desviam do amor de nosso Senhor?
Pois estes últimos, os impulsos de nossa natureza humana ferida pelo pecado, devem ser purificados e arrancados, na medida em que cresce em nós o Amor de Deus, "derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (cf. Rm 5,5).
Assim, com o terreno limpo, poderá o trigo maduro do Amor do Senhor (semeado, cultivado e crescido em nossos corações e em nossas almas) ser cortado e recolhido ao celeiro do Reino dos Céus, para a eternidade.
Nesse Reino não há mais joio e nossos corações, purificados e limpos, já não poderão querer mais nada de mal, contemplando para sempre seu Senhor, objeto único de seu desejo; infinitamente sendo amados por Ele e a Ele amando pelos séculos sem fim.

domingo, 19 de junho de 2011

Solenidade da Santíssima Trindade - Jo 3,16-18

"Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito,
para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16).

Por isso, "irmãos, alegrai-vos" (IICor 13,11).

A primeira consequência e condição da vida cristã é a alegria. Pois o discípulo de Cristo sabe que é imensamente amado por Deus Pai, a ponto de este haver enviado o Filho para dar-lhe a vida imperecível.
Aquele que não crê no Filho, o enviado do Pai, é igualmente por Ele amado. E as portas da verdadeira Vida lhe estarão abertas, a partir do momento em que se decidir, este que não crê, a tornar-se, também ele, discípulo do Senhor.
Crer em Jesus Cristo, o Filho de Deus, Salvador, enviado do Pai para dar a Vida ao mundo é uma proposta de Deus, cuja aceitação implica seguimento. Quem segue a Jesus Cristo, recebe do Pai a Vida eterna. E segui-lO, conforme São Paulo, é trabalhar no próprio aperfeiçoamento, vivendo em paz com os irmãos, cultivando a concórdia e com alegria (cfe. IICor 13,11).
A vida ou a morte, crer ou não crer, seguir a Jesus Cristo ou rejeitá-lo, salvar-se ou condenar-se; em última instância, amar a Deus e aos irmãos ou não amar. É a escolha que nos é proposta e da qual depende inteiramente nossa vida, neste mundo, mas principalmente no outro. Não há como fugir: não fazer nenhuma opção já é, de algum modo, tomar uma decisão.

terça-feira, 14 de junho de 2011

XI Semana do Tempo Comum - Mt 5, 43-48

"Sede perfeitos..."
Deus é o doador de todos os dons a todos os homens que criou. Não deixa que nada do que é essencial, do que é realmente importante falte a qualquer pessoa. Ama a todos, ainda que não seja amado por todos; ama, portanto, até mesmo os que não O amam.
À semelhança de Deus Pai, que ama e é bom para com todos, Jesus manda que amemos aos nossos inimigos e rezemos por nossos perseguidores. O amor, que só se demonstra verdadeiro quando traduzido em obras, é o caminho que nos leva à perfeição.
Pois a perfeição (que é outro nome da santidade) não é uma opção, mas um mandato do Senhor: "sede perfeitos..." E a medida não é outra que a santidade (ou perfeição) do próprio Pai.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

VI Semana do Tempo Pascal - Jo 15,26 - 16,4

O Espírito Santo acompanha os discípulos de Cristo e habita neles, para que possam dar testemunho da Verdade, que é o seu próprio Senhor Jesus.
Mas o mundo não conhece a Verdade e rejeita o Espírito que dela dá testemunho, por meio da Igreja e daqueles que amam e seguem ao Cordeiro de Deus imolado.
Por isso, dar autêntico testemunho de Jesus Cristo sempre significará sofrer perseguição da parte do mundo, muitas vezes até a morte. Ou (o que talvez seja pior) até o esfriamento sutil e lento, mas constante, da fé e do amor a Deus pela idolatria de si mesmo e dos prazeres do mundo, colocados no lugar que só a Deus pertence.
Eis porque o Senhor nos preveniu enquanto ainda estava conosco, para que nos lembrássemos hoje de Suas palavras e, a partir desta lembrança, procurássemos manter firme a nossa esperança, pelo poder do Espírito de Cristo que habita em nós.
Pois o Espírito Santo nos faz, à semelhança de Jesus Cristo, ungidos do Pai para dar testemunho ao mundo da Boa Nova da Salvação, da misericórdia de Deus para com todos nós.

terça-feira, 17 de maio de 2011

IV Semana do Tempo Pascal - Jo 10, 22-30

"... mas vós não acreditais"
Nas perguntas dos judeus a Jesus fica claramente representada a arrogância humana. Pois Deus, que espera de nós fé e confiança, dá-nos todas as indicações a respeito dEle e de Sua Vontade. Nós, por outro lado, recusamo-nos a crer em Deus, a nEle confiar e exigimos do Senhor provas e evidências, como se Deus fosse um objeto de estudo de uma hipótese científica que queremos (ou não) confirmar. Em outras palavras, queremos que Deus se nos submeta, que cumpra a nossa vontade, que nos dê certezas... Mas não passamos de meras criaturas!
Quem sabe não é para nós a mesma resposta que Jesus deu aos que O interrogavam naquela época: "já vo-lo disse, mas vós não acreditais". Em Seu favor, Jesus invocou o testemunho das obras que fez, seus milagres e sinais. Hoje, poderia invocar o testemunho da Igreja, Sua obra que dura já dois mil anos, apesar de todos os reveses históricos e das limitações humanas. Poderia invocar também o testemunho de tantos que, dos primeiros tempos aos dias de hoje, vivem e morrem por sua fé, porque creem em Seu Nome.
Mas o Senhor deixa-nos um alerta: "não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a minha voz, Eu as conheço e elas Me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão".
Procuremos, neste tempo de júbilo pela Ressurreição do Senhor, ver se de fato ouvimos a Sua Voz e, por isso, somos parte de Seu rebanho. Se não somos, ainda há tempo de nos juntarmos ao redil de Jesus Cristo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

III Semana do Tempo Pascal - Jo 6, 22-29

"Esforçai-vos (...) pelo alimento que permanece até a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará"
O Senhor repreende a multidão que O segue por causa do pão que comera. Se Ele havia saciado aquelas pessoas, foi porque se compadecera delas. Mas Seu objetivo não era ficar permanentemente alimentando-as de pão. Queria ensiná-los, alímentá-los de Sua Palavra, mostrar-lhes o caminho que leva ao Pai, ao Reino dos Céus.
Jesus chama a atenção daquele povo, portanto, para conduzi-los a um caminho mais elevado; para que, do corpo, cheguem ao espírito: "Esforçai-vos, não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará".
Hoje, muitos colocam a fé em Jesus Cristo na dependência de uma perspectiva meramente material. Ora, crer no Senhor, o enviado do Pai, crer em Sua Palavra, é conformar a própria vida ao Seu ensinamento, sabendo que a cruz é a perspectiva do cristão - ele deve passar por ela para chegar, como Cristo, à ressurreição, ao Reino de Deus. A prosperidade material nem sempre acompanhará os que creem no Senhor.
Por outro lado, "o alimento que permanece até a vida eterna" é o Corpo e o Sangue de Jesus, dados na Eucaristia, à qual têm acesso todos os que se esforçam por levar uma vida pura, conforme a Sua Palavra.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

II Semana do Tempo Pascal - Jo 6, 1-15

"Está aqui um menino..."
Não era ninguém, apenas um menino. E trazia um lanche consigo, que lhe era mais do que o necessário, mas era nada frente à multidão.
Não era ninguém e não tinha quase nada... Mas, do pouco que tinha, deu tudo e deu-se todo ao Senhor.
Foi a disponibilidade desse menino, que não era sequer considerado na contagem da multidão, o ponto de partida de Jesus para fazer o milagre da multiplicação dos pães. Usando de um pequeno lanche doado com fé e amor, o Senhor alimentou fartamente a todos.
Não era ninguém, mas podia ser cada um de nós. Seja o que for que tenhamos a partilhar (e todos temos, mesmo os mais pobres), sempre será pouco - pequeno diante da enorme necessidade que o homem tem do Criador, sem valor perante o poder de Deus e desnecessário, pois o Senhor não necessita de nada que porventura tenhamos (já que tudo é dEle e por Ele nos foi concedido). Ainda assim, é exatamente esse quase nada que o Senhor espera que Lhe entreguemos, esse tudo de nós, tão insignificante diante do infinito de Deus.
O que nos torna valiosos aos olhos do Senhor, como aquele menino e seu pequeno lanche, é o amor com que Lhe dispomos tudo o que somos e temos. Dessa entrega sem reservas nascerão os pequenos e grandes milagres que a Misericórdia divina haverá de operar em nossas vidas, os sinais de Seu Amor que haveremos de nos tornar.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

II Semana do Tempo Pascal - Jo 3, 16-21

"Quem age conforme a Verdade aproxima-se da Luz"
Por amor do Pai, o Filho "fez-se carne e habitou entre nós" para salvar-nos, para dar-nos o Reino. Ele é a Luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.
No entanto, se nossas obras são más e vivemos nas trevas, a Luz nos incomoda e não queremos aproximar-nos dela. E, à medida em que nos aprofundamos na escuridão, mais esse incômodo provocado pela Luz vai se transformando em dor, a ponto de não a podermos suportar e fugirmos para longe.
O julgamento, pois, antes de ser de Deus, é nosso. Somos nós que nos acusamos e condenamos, pois a Luz de Cristo revela as disposições de nosso coração, nossos desejos, pensamentos e obras. E, ao vermo-nos como somos, revelados à Luz do Senhor, podemos ter uma de duas atitudes: arrependemo-nos profundamente e nos convertemos (pois não há ninguém sem pecado que possa dizer que não tem do que converter-se) ou nos obstinamos ainda mais no erro e rejeitamos a Jesus.
Ele, o Enviado do Pai, veio ao mundo como Luz "para iluminar os nossos passos no caminho da paz"; propõe-nos e espera que nEle creiamos, para dar-nos a Vida imperecível e a felicidade perfeita em Seu Reino. Se queremos viver na Verdade, aproximemo-nos de Jesus Cristo, a Luz do mundo. Pois aquele que vive na Verdade, faz suas obras em Deus.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Oitava da Páscoa - Lc 24, 35-48

"Eles ainda não podiam acreditar"
Os discípulos de Emaús já haviam contado aos apóstolos e aos outros discípulos o seu encontro com o Senhor ressuscitado. Mesmo assim, quando Jesus apareceu no meio deles, ficam com medo e pensam estar diante de um fantasma. O Senhor, então, dissipa-lhes o medo, afirmando que é Ele mesmo e que está vivo verdadeiramente. Comprova-o, mostrando-lhes as mãos e os pés perfurados pelos cravos com que foi pregado na cruz.
O medo, então, cede espaço à alegria e é ela quem os impede de acreditar que é Jesus, vivo, quem está ali com eles. Mais uma vez, o Senhor socorre-os em sua fragilidade humana, comendo diante deles, para mostrar-lhes que, de fato, é real.
Com a mesma compaixão age Jesus conosco, sempre que as nossas fraquezas nos impedem de verdadeiramente acreditar nEle, em Sua Palavra, em Sua Igreja. Se não formos duros de coração, Ele virá em nosso socorro e, com Sua graça, fortalecer-nos-á a fé e a esperança.
Depois, como fez com os discípulos naquele dia, abrirá nosso entendimento para que compreendamos as Escrituras e sejamos nós, hoje, testemunhas fieis de tudo quanto Jesus fez por nós.
Pois Ele morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Oitava da Páscoa - Jo 20, 11-18

"Então Jesus disse: 'Maria'!"
Quando o Senhor chama Maria Madalena pelo nome, então é que ela O reconhece e seu coração se inunda de alegria. Até esse momento, ela procurava um cadáver, o corpo do Mestre que tanto amara mas que estava morto. Por isso, Maria chorava, mergulhada em tristeza.
E era incapaz de reconhecer Jesus, que estava diante dela, porque seu coração não fora ainda iluminado pela fé. Enquanto buscava um homem morto, quem se apresenta diante dela é o Deus e Homem vivo.
Nesse momento, o Senhor a chama pelo nome, abrindo seus olhos com a luz da fé, concedendo-lhe o entendimento e inflamando-a com Seu Amor. Só então é que Maria pode reconhecer Jesus e encher-se de alegria.
Um dia, estaremos todos diante do Senhor ressuscitado e Ele nos chamará, a cada um, pelo nome, para que O possamos reconhecer. Lutemos e rezemos para que, depois de uma vida santa, seja o nosso coração nesse dia a encher-se de alegria por poder, finalmentem ver Jesus, nosso Deus e Senhor, assim como aconteceu com Maria Madalena naquele Domingo da Ressurreição.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Oitava da Páscoa - Mt 28, 8-15

"Alegrai-vos! (...) Não tenhais medo!"
O acontecimento da ressurreição do Senhor escapa à toda lógica e compreensão humana. Por isso as mulheres, avisadas pelo anjo, no sepulcro vazio, de que Jesus ressuscitara, correm com alegria - pois o Senhor, a quem amam, está vivo - mas sentem muito medo.
"Quem é este?" - interrogam-se. É o Filho de Deus feito homem, intuem, e, enfim, começam a compreender. E para Deus nada é impossível. Nem mesmo ressuscitar dos mortos.
Como aquelas mulheres, também nós, hoje, temos medo de Jesus, que venceu o poder da morte e do inferno e ressuscitou para a glória. Tudo isso é grande demais para a nossa pobre, fraca e pecadora natureza humana.
Mas também como às mulheres, Jesus ressuscitado vem ao nosso encontro para trazer alegria e dissipar o medo que obscurece o nosso coração e nos impede de ir até Ele. Como a elas, o Senhor nos diz: "Alegrai-vos! (...) Não tenhais medo!"
Por que ter medo? O Senhor, com a Sua morte, venceu a morte que nos enchia de terror e libertou-nos do demônio que nos subjugava. Jesus, morto e ressuscitado, vivo para sempre, abriu definitivamente as portas do Reino dos Céus para nós.
"Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos!"

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Semana Santa - Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor - Jo 18,1-19,42

"Ele foi ferido por nossos pecados..."
Contemplar Jesus cruficicado é olhar para o castigo que merecem os nossos pecados, pois Ele foi aniquilado em nosso lugar e por causa das ofensas que nós, homens, cometemos contra a majestade de Deus.
Talvez por isso a Cruz de Jesus provoque sentimentos e atitudes tão contraditórios: alguns, ao contemplar o Senhor crucificado, ficam repletos de dor e de arrependimento por tudo quanto fizeram-nO sofrer, enchem-se de gratidão e passam a amar a Jesus com amor ardente; outros, ao contrário, horrorizam-se ao ver o castigo que merecem, mas não querem mudar suas vidas e corações e, escravizados pelo pecado, rejeitam ao Senhor que sofreu e morreu também por eles.
Seja como for, em toda a história da humanidade ninguém permanece indiferente diante da Cruz de Jesus, desde há dois mil anos até os dias de hoje.
Celebrar a Paixão e a Morte do Senhor é colocar-se diante de Sua Cruz, o trono da graça, rever as próprias disposições frente a Ele e, mais uma vez, ter a oportunidade de reconhecer-se pecador e merecedor do castigo, para encher-se de gratidão e de amor diante de tamanho sacrifício e tomar a resolução de mudar de vida, de converter-se a Deus.
Esse é o caminho pelo qual a punição de Jesus nos traz a paz, as Suas feridas nos curam e obtemos a misericórdia e a graça da parte de Deus, nosso Pai.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Semana Santa - Quinta-feira da Ceia do Senhor e Lava-Pés - Jo 13, 1-15

"Se eu não te lavar, não terás parte comigo"
Jesus passou na terra fazendo o bem e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus, preparado para todos os que dele quiserem tomar parte. Chegou, então, o momento de sofrer a Paixão, morrer e ressuscitar para completar a obra da Redenção e abrir definitivamente o Céu para os homens.
O Senhor, portanto, veio para servir, para ser o Servo sofredor que o profeta Isaías já havia predito muito tempo antes de Sua vinda. Ele veio colocar-se a serviço dos homens e de sua salvação.
E, assim como Jesus fez, também deve fazer todo aquele que quiser ser Seu discípulo: colocar-se a serviço das necessidades dos demais, não somente as necessidades materiais, mas principalmente as espirituais, que são as mais importantes.
O mundo e os homens de hoje vivem em um grande vazio e estão mergulhados na escuridão, por falta de Jesus Cristo e de Seu Amor. E o Senhor envia Seus discípulos, para que levem Seu Nome a todos os que andam perdidos e, sozinhos, são incapazes de O encontrar.
De modo particular, o Senhor constitui servos dos homens, em ordem à Redenção, os sacerdotes, chamados para um serviço semelhante ao Seu. São "outros Cristos", ungidos para levar os homens a Jesus.

terça-feira, 12 de abril de 2011

V Semana do Tempo da Quaresma - Jo 8, 21-30

"Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que Eu Sou"
Jesus atribui a Si mesmo o Nome divino, revelado por Deus a Moisés quando o enviou ao Faraó para libertar os israelitas da escravidão do Egito (cf. Ex 3, 13-15: "disse Deus a Moisés: 'EU SOU aquele que é'").
Portanto, Jesus afirma abertamente aos fariseus, conhecedores das Escrituras, que é Deus, com o Pai que O enviou. E afirma, ainda, que a cruz onde será elevado é o sinal de Sua glória e de Sua divindade.
Jesus é o Justo por excelência, aquele que sempre cumpre a Vontade do Pai e faz o que é do Seu agrado e que jamais está só, porque o Pai sempre O acompanha.
Por causa disso, o Senhor afirma que a condição para ganharmos a Vida (isto é, para não morrermos nos nossos pecados) é crer nEle, em Sua divindade, e fazermos o que Ele faz - a Vontade do Pai, o que é do Seu agrado.
Dessa forma, podemos ser inseridos na glória de Jesus Cristo, a cruz, sabendo que o Pai não nos deixará sozinhos: se morrermos com Cristo, ressuscitaremos com Ele.

sábado, 9 de abril de 2011

IV Semana do Tempo da Quaresma - Jo 7, 40-53 (Evangelho)

"Ninguém jamais falou como este homem"
Aos que forem a Ele de coração aberto, Jesus não negará revelar-se. Foi o que aconteceu com esses guardas do templo: enviados pelos chefes dos sacerdotes para prender Jesus, não o puderam fazer, porque ouviram sem malícia Suas palavras de vida e viram-se conquistados por Seu Amor.
O mesmo pode acontecer conosco, se Lhe abrirmos o nosso coração. Pois Jesus não abandona a quem O procura com sinceridade e humildade; antes, revela-Se e derrama em sua alma as torrentes de Seu Amor.
Por outro lado, ao que se fecha em si mesmo Ele nada diz. Só lhe resta sair sozinho, sem outra companhia que seu próprio orgulho e autossuficiência, e sem qualquer resposta.

IV Semana do Tempo da Quaresma - Jr 11, 18-20 (leitura)

"Eu era como manso cordeiro levado ao sacrifício"
O homem justo, isto é, aquele que faz a Vontade Deus e "anda sempre em seus caminhos", confia-se ao Senhor e espera somente nEle. Conhece as tramas e as ciladas dos inimigos e vê a sua força, mas não os teme, porque Deus é sua segurança.
A profecia de Jeremias prenuncia o Mistério da Salvação - Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Ele é o justo por excelência, o enviado do Pai, que sempre cumpre a Sua Vontade e faz o que Lhe agrada. "Eliminado do mundo dos vivos" pelos chefes do povo, que O queriam matar, Jesus "vê a vingança sobre eles", isto é, triunfa sobre o demônio, o pecado e a morte por meio de Sua Ressurreição dentre os mortos, salvando a toda a humanidade, que andava errante longe de Deus.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

IV Semana do Tempo da Quaresma - Jo 5, 31-47

"Não tendes em vós o Amor de Deus"
Jesus invoca o testemunho de João Batista a Seu respeito, porque este era reconhecido como um profeta pelos que O ouviam. Invoca também o testemunho das obras que realizava - curas de doentes, ressurreição de mortos, expulsão de demônios - sinais de Seu poder messiânico, indicativos de que Ele, Jesus, era realmente o enviado do Pai, o prometido de Deus e predito por todos os profetas do antigo Israel.
Por fim, o Senhor declara que são as Escrituras, a Palavra de Deus onde está a vida eterna, que dEle dão o maior testemunho, porque são elas a Palavra do Pai que o enviou.
Para os que O escutam, porém, nenhum testemunho invocado pelo Senhor é suficiente, porque não querem crer: não amam a Deus, mas a si mesmos, e não buscam outra glória que não a sua própria.
Esta acusação de Jesus a seus contemporâneos vale ainda para nós, hoje. Pois permanecem válidos os testemunhos invocados: João Batista, os sinais realizados, a Escritura. E hoje temos também o testemunho da Igreja, instituída por Cristo e que permanece de pé desde há dois mil anos, apesar de todas as circunstâncias históricas, fiel ao seu Senhor e aguardando o Seu retorno, a Sua segunda vinda, que há de ocorrer um dia, conforme Ele mesmo prometeu (cf. Mt 26, 64).
Jesus, hoje, nos coloca diante de uma escolha: crer nEle como enviado do Pai para a Redenção dos homens, tendo em vista os testemunhos que Ele invoca; ou rejeitá-lO, negando a verdade e impedindo que habite em nós o Amor de Deus.
O Senhor espera a nossa resposta. O que Lhe vamos dizer? "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (cf. Mt 16, 16).

quarta-feira, 6 de abril de 2011

IV Semana do Tempo da Quaresma - Jo 5, 17-30

"Os Mortos Ouvirão a Voz do Filho de Deus"
Quem são os mortos que ouvirão a voz do Filho de Deus e que, ouvindo-a, viverão, senão cada um dos que, em todos os tempos, escutam a voz da Igreja, que transmite e faz ressoar incessantemente a Palavra do Verbo feito carne, Jesus, o enviado do Pai?
Quem são esses mortos, senão os que ouvem essa Voz que "ressoa e se espalha em toda a terra" e "chega aos confins do universo", e se decidem a segui-la e a fazer o que ela diz? Que procuram conformar suas vidas, corações e mentes ao Filho de Deus?
Esses, que assim fazem, saem de seus túmulos, saem das trevas da morte para a Vida e tornam-se também eles um eco dessa Voz, buscando fazer não a sua própria vontade, mas a Vontade do Pai, como fez Jesus, o Verbo eterno, que eles amam e seguem.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

III Semana do Tempo da Quaresma - Mc 12, 28-34

"Tu Não Estás Longe do Reino de Deus"
Um escriba aproxima-se de Jesus para fazer-Lhe uma pergunta. Quer ver se Jesus de fato conhece a Lei, dada por Deus ao Povo de Israel por meio de Moisés. Este escriba parece diferente dos demais escribas e fariseus que, a fim de apanhar o Senhor em contradição, constantemente fazem-Lhe perguntas e o põe à prova. Porque, uma vez que Jesus lhe dá a resposta, reconhece honestamente que o Senhor respondeu bem.
Desse modo, o escriba ultrapassa os legalismos e ritualismos do antigo Povo de Deus e chega ao coração da Lei, ao seu sentido maior. Alcança, assim, o Coração de Jesus, que faz entrever ao escriba um caminho de perfeição, que leva ao Reino de Deus e que ele já começou a percorrer.
Quem quiser entrar no Reino de Deus deve seguir uma única lei: a Lei do Amor. Diria, séculos mais tarde, o carmelita espanhol São João da Cruz: "no entardecer da vida sereis julgados quanto ao amor".
Entenda-se aqui, quando se fala em amor, não um mero sentimento adocicado ou um "sentir-se bem". Quando Jesus fala em amor, fala daquilo que Ele mesmo viveu: voltar-se permanentemente ao bem do outro, doando inteiramente a si mesmo. É uma decisão constantemente renovada, que não procura a própria realização, mas realiza-se no dom total de si. Começa em Deus e, por causa dEle, chega ao próximo.
É o Amor de Deus, do qual o ápice e o modelo maior é o próprio Cristo crucificado, que se entregou a Si mesmo por amor e obediência ao Pai e pela salvação de todos nós, homens.
Esse é o caminho de perfeição, o caminho do Amor, que todos devemos começar a percorrer nesta Quaresma.

Do Concílio Vaticano II - Constituição dogmática sobre a Igreja, "Lumen Gentium", § 42
Todos os cristãos são chamados à santidade
"Deus é caridade e quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 4, 16). Ora, Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações, por meio do Espírito Santo, que nos foi dado (cf. Rom 5, 5). Sendo assim, o primeiro e mais necessário dom é a caridade, com que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor dEle. Para que esta caridade, como boa semente, cresça e frutifique na alma, cada fiel deve ouvir de bom grado a palavra de Deus e cumprir, com a ajuda da graça, a Sua vontade, participar frequentemente nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, e nas funções sagradas, dando-se continuamente à oração, à abnegação de si mesmo, ao serviço efetivo de seus irmãos e a toda a espécie de virtude; pois a caridade, vínculo da perfeição e plenitude da lei (cf. Col 3, 14; Rom 13, 10), é que dirige todos os meios de santificação, os informa e leva a seu fim. É, pois, pela caridade para com Deus e o próximo que se caracteriza o verdadeiro discípulo de Cristo.

quinta-feira, 31 de março de 2011

III Semana do Tempo da Quaresma - Lc 11, 14-23

"Chegou para Vós o Reino de Deus"
Jesus fala de um "homem forte e bem armado", que "guarda a própria casa". Quem é esse homem? Antes da vinda de Jesus, a humanidade e o mundo eram escravos que viviam sob o jugo do demônio, o "homem forte e bem armado", que nos mantinha acorrentados ao pecado e à morte e que nos guardava como propriedade sua, para nos perder e destruir.
Finalmente, veio Jesus, o Filho de Deus, o Senhor, o "homem mais forte", que arrancou a armadura do demônio e despojou-o, destruindo o pecado e a morte e libertando-nos de seu jugo.
Agora, já não somos mais escravos do demônio e sujeitos ao pecado e à morte. Podemos viver na liberdade e na glória dos filhos de Deus, pois Jesus Cristo, o Filho, nos libertou pelo sangue de Sua cruz.
Porém, ao contrário do demônio, Jesus não nos obriga a segui-lO. Propõe-nos o Seu seguimento, pede que sejamos Seus discípulos. Somos livres para escolher que caminho queremos percorrer e onde queremos chegar.
Mas o Senhor avisa: não há meio termo, não existe indecisão. Diante dEle, Jesus, só há duas alternativas possíveis: amá-lO e segui-lO ou rejeitá-lO de uma vez e abandoná-lO. Por isso Ele diz: "quem não está comigo, está contra mim".
Enquanto estamos nesta vida, podemos sempre refazer o caminho, arrepender-nos e voltar para o Senhor. E este tempo de Quaresma é-nos dado de modo especial para isso.

III Semana do Tempo da Quaresma - Mt 5, 17-19

"Vim dar-lhes pleno cumprimento"
Jesus veio para levar à perfeição do amor a Lei e os Profetas. Não veio, pois, para aboli-los ou para diminuir sua importância. Os mandamentos de Deus continuam válidos e em vigor para nós, hoje, e por todas as gerações. Tanto assim que foi justamente o Senhor quem cumpriu em primeiro lugar e perfeitamente toda a Lei.
Assim, quem quer amar e servir a Deus buscará e encontrará a Sua Vontade expressa nos Mandamentos.  A novidade trazida por Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito carne, é o fundamento dado ao cumprimento da Lei: não mais por ritualismo ou mero legalismo, mas por amor.
Porque "os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade (...) e esses são os adoradores que o Pai procura" (Jo 4, 23), como disse Jesus à samaritana na beira do poço, quando lhe prometeu a água que sacia para sempre porque jorra para a vida eterna (Jo 4, 13-14).
De fato, o Senhor vincula a obediência e a prática dos mandamentos à posse do Reino dos Céus.

segunda-feira, 28 de março de 2011

III Semana do Tempo da Quaresma - Lc 4, 24-30

"Nenhum profeta é bem recebido em sua casa"
Deus vem aos Seus e os Seus não O recebem; expulsam-nO, rejeitam-nO, crucificam-nO. Desprezam a Sua graça. São orgulhosos, soberbos: exigem milagres e sinais, provas que os façam crer, como se o Senhor estivesse a seu serviço. Têm o coração duro e se recusam a crer em em Jesus e em Suas palavras. Não querem converter-se para Deus.
Hoje, somos nós, batizados, o Povo de Deus. Vamos rejeitá-lO quando vier a nós? Vamos expulsá-lO quando nos recordar das tantas vezes em que quis prodigalizr-nos os Seus favores e a dureza de nosso coração O impediu?
"Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor" (Sl 94,8), canta o salmo. Esse é o clamor do Senhor a nós nesta Quaresma, para que Lhe demos espaço em nossos corações e em nossas vidas, para que nos convertamos a Ele e Lhe pertençamos de uma vez por todas.
Só então Jesus poderá fazer em nós e por nós o que O vemos fazer por tantos outros que Lhe entregaram inteiramente suas vidas e, por isso, tornaram-se plenamente felizes.

quarta-feira, 23 de março de 2011

II Semana do Tempo da Quaresma - Mt 20, 17-28

“Entre vós não deverá ser assim”
Ainda que não almejemos posições de mando sobre os outros, dificilmente estamos livres de buscar que as coisas sejam como queremos, porque queremos e para nosso próprio conforto e vaidade. E, muitas vezes, sequer nos perguntamos como, de fato, as coisas devem ser.
Se em nenhum setor de nossa vida (família, trabalho, ambiente de estudo) deve ser assim, muito menos na Igreja de Cristo. Nela, tudo o que fazemos deve ser para a glória de Deus e para o serviço dos irmãos; tudo o que realizarmos, deve ser por amor do Senhor e para dar um bom e coerente testemunho de vida cristã.
Pois assim como somos na comunidade de fé, devemos ser na vida. O verdadeiro discípulo de Jesus Cristo não diferencia fé e vida. Pois ele, tal como seu Senhor e Mestre, “não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida”.

segunda-feira, 14 de março de 2011

I Semana do Tempo da Quaresma - Mt 25, 31-46

São as obras do homem, por si, que o salvam? Não, pois a salvação é dom gratuito de Deus (é pela graça que somos justificados e salvos). No entanto, Jesus parece fazer uma vinculação enre as obras humanas e a recompensa eterna - prêmio ou castigo.
Mas é preciso notar, nas palavras de Jesus, que o vínculo não é apenas com a obra humana, boa ou má. Essencialmente, o Senhor liga a obra à Sua própria Pessoa, isto é, ao amor que Lhe é devido e que se prova no amor ao próximo.
Pois aquele que diz amar a Deus, "a quem não vê", deve provar esse amor no amor aos irmãos, "a quem vê" (cfe. 1Jo 4, 20). Porque o amor é comprovado pelas obras, não pelas palavras.
Dito de outra forma, segundo a Escritura: "mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei as obras da minha fé (...). Com efeito, como o corpo sem o sopro de vida é morto, assim também é morta a fé sem as obras" (cfe. Tg 2, 18.26).
Portanto, sim, é pela graça de Deus que somos salvos. Mas as obras (boas ou más) que praticamos é que mostrarão o quanto essa mesma graça é eficaz em nós, na medida de nossa liberdade em aceitar ou rejeitar a salvação que nos é proposta por Deus.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta-feira de Cinzas – Mt 6, 1-6.16-18

“Sou o que sou diante de Deus”
Não importa o que façamos e como apareçamos diante dos homens, não importa a imagem que cultivamos perante a sociedade humana: Deus nos vê como somos na realidade e conhece as profundezas de nossos corações.
Estes dias de penitência que hoje iniciam servem para purificar nosso olhar sobre nós mesmos, para que aprendamos a nos enxergar como Deus mesmo nos enxerga. Assim purificados, nos preparamos para a grande solenidade da Páscoa, na qual celebramos o mistério da nossa salvação operada por Nosso Senhor, Jesus Cristo.
Essa purificação deve ocorrer em três dimensões: esmola, oração e jejum.
A esmola, mais do que dar o outro aquilo que temos de sobra, é dar ao outro o que lhe é devido, o que é justo, o que é seu por direito e lhe foi negado. Portanto, a prática da esmola corrige nossa relação com o outro, fazendo-nos compreendê-lo como semelhante e próximo.
A oração é o meio pelo qual colocamo-nos diante de Deus e compreendemo-nos como necessitados dEle. Pela prática da oração, tornamo-nos mais unidos a Deus, porque entendemo-nos dependentes dEle. Logo, a oração assídua e humilde corrige nossa relação com Deus, porque nos propicia, gradualmente, ver-nos a nós mesmos como criaturas que somos, diante de nosso Criador.
O jejum é o instrumento pelo qual exercitamos o domínio sobre nós mesmos, do espírito sobre o corpo, corrigindo a relação com nossa própria natureza, chamados que somos por Deus à superação e à transcendência.
Que essas práticas, realizadas sob o olhar de Deus, mas não diante dos homens, levem-nos à necessária purificação de nossa auto-imagem, para nos tornarmos aquilo que Deus espera de nós.

Os exercícios da Quaresma: a esmola, a oração, o jejum
Meus irmãos, começamos hoje a grande viagem da Quaresma. Levemos, pois, no navio todas as nossas provisões de alimento e bebida, colocando sobre elas a misericórdia abundante de que teremos necessidade. Porque o nosso jejum tem fome, o nosso jejum tem sede se não se alimentar de bondade, se não se dessedentar com misericórdia. O nosso jejum tem frio, o nosso jejum desfalece se o velo da esmola não o cobrir, se a capa da compaixão não o envolver.
Irmãos, a misericórdia está para o jejum como a Primavera está para os solos: o suave vento primaveril faz florescer todos os rebentos nas planícies; a misericórdia do jejum faz brotar todas as nossas sementes até à floração, fá-las encherem-se de frutos até à colheita celeste. A bondade está para o jejum como o óleo está para o candeeiro. Tal como a matéria gorda do óleo alimenta a luz do candeeiro e, com tão pouco alimento o faz brilhar para o conforto de toda a noite, assim a bondade faz o jejum resplandecer: lança raios até atingir o brilho pleno da continência. A esmola está para o jejum como o sol está para o dia: o esplendor do sol aumenta o brilho do dia, dissipa a obscuridade das nuvens; a esmola que acompanha o jejum santifica a santidade do mesmo e, graças à luz da bondade, remove dos nossos desejos tudo o que poderia ser mortífero. Em suma, a generosidade está para o jejum como o corpo está para a alma: quando a alma se retira do corpo, traz-lhe a morte; se a generosidade se afastar do jejum, é a morte deste.
São Pedro Crisólogo, Bispo de Ravena, Doutor da Igreja
(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org)

terça-feira, 8 de março de 2011

IX Semana do Tempo Comum - Mc 12, 13-17

"Dai a Deus o que é de Deus"
O que se deve dar a Deus? Por certo, não o dinheiro, as coisas materiais. Deus não precisa dessas coisas, pois Ele é o criador de tudo quanto existe e tudo Lhe pertence. Então, o que deve o homem dar a Deus? Aquilo que Ele mesmo, Deus, espera de Sua criatura, mas não quer e nem pode tomar-lhe à força: o amor. Pois o amor só existe na liberdade.
Por isso, Deus criou o homem livre para amá-lO e, como consequência desse amor, adorá-lO, louvá-lO e amar também aos demais homens, todos criados à imagem e semelhança de seu criador.
Desse único ato de justiça da parte do ser humano para com Deus - amar a Deus sobre todas as coisas - decorrerão todos os demais atos positivos de moralidade do homem: amar e respeitar as outras pessoas; respeitar a natureza; buscar sempre a justiça e a paz; promover o bem comum.
Daí, pois, que Jesus não identifica necessariamente o pagamento do tributo a César com a injustiça, mas determina, sempre, a necessidade que temos nós, para o nosso próprio bem, de dar a Deus o que Lhe é devido.

segunda-feira, 7 de março de 2011

IX Semana do Tempo Comum - Memória das Santas Perpétua e Felicidade, mártires - Mc 12, 1-12

"HAVIA CONTADO A PARÁBOLA PARA ELES"
Os chefes dos judeus compreenderam bem a parábola que Jesus contara: entenderam que Deus lhes havia confiado Seu Povo, Israel, e Seus Mandamentos, para que Lhe fossem fieis e obedientes e formassem uma Nação santa, um Povo que lhe fosse dedicado. Compreenderam também que o Senhor os acusava de não haverem cumprido com a tarefa que lhes fora designada e que haviam rejeitado a todos os que Deus enviara para avisá-los e reconduzi-los à fidelidade - os profetas do Antigo Testamento e, por fim, ao próprio Filho de Deus, a quem mataram.
Outro poderia ter sido o seu comportamento. Ao contar-lhes a parábola, Jesus deu-lhes mais uma chance de se arrependerem, voltarem atrás e retomarem o caminho da obediência à Vontade de Deus. O Senhor desejava perdoá-los e acolhê-los como filhos amados em Seu Reino.
Hoje, Jesus conta para nós essa parábola, da mesma forma que, naquele tempo, havia contado para os chefes dos judeus. Conta-nos que Deus Pai confiou a nós também a Sua vinha. Ou seja: criou-nos, derramou sobre nós o Seu Amor, cumulou-nos de graças e dons, entregou Seu Filho para nos salvar e deixou-nos a Sua Igreja para guiar-nos, a fim de que lhe entreguemos frutos de santidade e, assim, sejamos perfeitamente felizes e vivamos em Seu Reino.
Permanentemente, através de Sua Igreja, o Senhor nos recorda dessa tarefa a nós confiada e nos pede contas dos frutos devidos. Podemos, como os chefes dos judeus, rejeitar o Senhor e negar-Lhe os frutos que Lhe pertencem. Se o fizermos, Ele nos tirará a vinha e a confiará a quem a cultive para a eternidade, entregando-Lhe frutos de amor. A decisão está em nossas mãos. 

De São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja
A vinha mística, c. 5, 4-5
Doce Jesus, em que estado Te vejo! Tão doce e tão cheio de amor, quem Te condenou a uma morte tão amarga? Único Salvador das nossas feridas antigas, quem assim Te leva a sofrer essas feridas que, para além de serem tão cruéis, são tão ignominiosas? Doce vide, bom Jesus, eis o fruto que Te dá a Tua vinha. [...]
Até este dia das Tuas núpcias, esperaste pacientemente que ela produzisse uvas e ela não Te deu senão abrolhos (Is 5, 6). Coroou-Te de espinhos e cercou-te dos espinhos dos seus pecados. Como se tornou amarga, esta vinha que já não é Tua, mas que se tornou uma vinha estranha! Renegou-Te, gritando: «Não temos outro rei senão César!» (Jo 19, 15). Depois de Te terem expulsado da vinha, da Tua cidade e da Tua herança, estes vinhateiros deram-Te a morte; não de um só golpe, mas depois de Te terem afligido com o longo tormento da cruz e Te terem torturado com os ferimentos dos chicotes e dos cravos. [...] Senhor Jesus, [...] Tu próprio entregas a Tua alma à morte ─ ninguém Ta pode tirar, és Tu que a dás (Jo 10, 18). [...] Que troca admirável! O Rei dá-Se como escravo, Deus pelo homem, o Criador por aquele que criou, o Inocente pelos culpados.
(Do Evangelho Quotidiano - http://www.evangelhoquotidiano.org)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

VIII Semana do Tempo Comum - Mc 10, 17-27

"SÓ UMA COISA TE FALTA"

O homem cumpria rigorosamente os mandamentos de Deus, desde a sua juventude. Mas não fundamentava sua obediência no amor, que é o vínculo da perfeição. Cumpria os mandamentos porque considerava-os um dever, mas não porque amava a Deus.
Note-se que Jesus não o reprova por isso. Afinal, o rapaz não está errado. É preciso, de fato, obedecer a Deus e cumprir Seus mandamentos.
Mas o Senhor quer elevá-lo a um degrau mais alto, que é o degrau do amor. Deseja levá-lo à obediência do amor, em que tudo se faz unicamente para agradar ao Amado, que é Deus. É aquele degrau da plena liberdade do amor, no qual só se deseja aquilo que é Vontade do Amado e nada se quer que Ele não queira ("ama e faze o que queres", dizia Santo Agostinho).
Por isso, Jesus pede ao homem que deixe tudo - para ter o coração livre, desapegado de todos os bens, a fim de que Deus se torne o seu único e verdadeiro Bem.
Lamentavelmente, porém, o rapaz não quer dar esse passo. Poderia tornar-se rico em espírito, possuindo tudo em Deus, mas prefere continuar rico dos bens deste mundo, bens transitórios, e ser pobre para Deus. Sobram-lhe a tristeza e o vazio, porque escolhe não realizar os anseios mais profundos de seu coração. "Fizeste-nos, Senhor, para ti e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti" (Santo Agostinho).
Qual será a nossa escolha? O que vamos preferir?

 
De São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, Doutor da Igreja
Homilia 7, sobre a riqueza; PG 31, 278 (a partir da trad. coll. Icthus, t. 6, p. 82 rev.)
 
"Ao ouvir estas palavras [...], retirou-se pesaroso."

O caso do jovem rico e dos seus semelhantes faz-me pensar no de um viajante que, pretendendo visitar uma cidade, chega junto das muralhas, encontra aí uma estalagem, hospeda-se nela e, desencorajado pelos últimos passos que ainda lhe falta dar, perde o benefício das fadigas da sua viagem e acaba por não ir visitar as belezas da cidade. Assim são estes que cumprem os mandamentos mas se revoltam com a ideia de perderem os seus bens. Conheço muitos que jejuam, rezam, fazem penitência e praticam todo o tipo de obras de caridade, mas não dão uma esmola aos pobres. De que lhes servem as outras virtudes?
Eles não entrarão no Reino dos Céus porque «é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus». São palavras claras e o seu Autor não mente, mas raros são aqueles que se deixam tocar por elas. «Como viveremos quando estivermos despojados de tudo?» exclamam. «Que existência levaremos quando tudo for vendido e já não tivermos propriedades?» Não me perguntem qual é o desígnio profundo que está subjacente aos mandamentos de Deus. Aquele que estabeleceu as nossas leis conhece igualmente a arte de conciliar o impossível com a lei.
 
(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

VII Semana do Tempo Comum - Mc 10, 1-12

O homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só

O que deves dizer à tua mulher? Diz-lhe com muita ternura: "Escolhi-te, amo-te e prefiro-te à minha própria vida. A existência presente nada é; por essa razão, as minhas orações, as minhas recomendações e todas as minhas acções destinam-se a fazer que nos seja dado passar esta vida de tal maneira, que voltemos a reunir-nos na vida futura sem qualquer receio de separação. O tempo que vivemos é breve e frágil. Se nos for dado agradar a Deus durante esta vida, estaremos para sempre com Cristo e um com o outro, numa felicidade sem limites. O teu amor arrebata-me mais que tudo, e não conhecerei infelicidade tão insuportável como a de estar separado de ti. Mesmo que tivesse de perder tudo, de ser pobre que nem um mendigo, de passar pelos maiores perigos e de sofrer fosse o que fosse, tudo isso mês seria suportável desde que o teu afecto por mim não diminuísse. Só com base neste amor desejo ter filhos." E convém que adeqúes o teu comportamento às palavras. [...] Mostra à tua mulher que aprecias viver com ela e que, por causa dela, preferes estar em casa que na rua. Prefere-a a todos os teus amigos, e mesmo aos filhos que ela te deu; e que estes sejam amados por ti por causa dela. [...] Fazei as vossas orações em comum. Ide à igreja e, ao regressar a casa, contai um ao outro o que foi dito e o que foi lido. [...] Aprendei a temer a Deus, e tudo o resto decorrerá daqui, e a vossa casa encher-se-á de inúmeros bens. Aspiremos aos bens incorruptíveis, que os outros não nos faltarão. Procurai primeiro o Reino de Deus, e o resto ser-vos-á dado por acréscimo, diz-nos o evangelho (Mt 6, 33).

São João Crisóstomo (c. 345-407)
Presbítero em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homilia 20 sobre a Carta aos Efésios, 4, 8, 9: PG 62, 140ss. (a partir da trad. Orval)
(fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

VII Semana do Tempo Comum - Mc 9,38-40

Importa que Deus seja servido, não que os nossos esquemas sejam seguidos.
Pois para cada um o Senhor tem um caminho, embora somente Ele seja o Caminho (cfe. Jo 14,6).
Certamente, nem todos os caminhos que os homens tomam para tentar chegar a Deus são válidos, mas somente aqueles que passam por Jesus Cristo, conforme Ele mesmo nos revela: "a vida eterna é esta: que eles Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que Tu enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17,3).
Mas diferentes são os homens e diferentes, por isso, serão os modos de que Deus se servirá para que chegue a cada um a Sua graça e possa livremente decidir-se por conhecê-lO, amá-lO e servi-lO.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

V Semana do Tempo Comum - Mc 8, 27-33

Pedro representa, de certa forma, a cada um de nós nesta passagem. Inicialmente, segue a inspiração do Espírito Santo, que o move a reconhecer e a confessar Jesus como o Messias prometido a Israel e anunciado pelos profetas e até mesmo a reconhecê-lo como o Filho de Deus (cf. Mt 16, 13-20). Em seguida, volta a olhar as coisas com olhos humanos e míopes e quer impedir Jesus de cumprir Sua missão até o fim.
Se, primeiro, Pedro merece do Senhor um elogio, recebe dEle depois uma dura repreensão.
Não somos assim todos nós? Curtos de visão? Cegos para as coisas de Deus? Inconstantes? Incapazes de nos colocarmos sob a guia e a orientação do Espírito Santo por muito tempo?
Essa deve ser a nossa luta diária: pensar, falar e agir segundo Deus, deixando para trás o modo meramente humano de ver as coisas. E pensar como Deus, não como os homens, significa deixar que o Espírito Santo nos inspire com Sua graça, transforme todo o nosso modo de ser e de pensar e guie nosso falar e nosso agir.
Comecemos agora a viver a vida divina, deixando-nos moldar pelo Espírito.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

V Semana do Tempo Comum - Mc 8, 11-13 - Memória dos Santos Cirilo e Metódio

Por que Jesus não quer dar nenhum sinal de Sua divindade aos fariseus que O interpelam?
Pode parecer-nos, à primeira vista, que os fariseus estavam de boa-fé e desejavam apenas esclarecer suas dúvidas sobre Jesus.
Mas, de fato, não era assim. Por conhecerem as Escrituras, os fariseus eram capazes de ver nas curas, prodígios e exorcismos de Jesus os sinais claros de que Ele era o Messias prometido por Deus a Israel e anunciado pelos profetas. E, por isso, deviam crer em Sua pregação, em Seus ensinamentos. Não tinham necessidades de outras evidências.
O coração dos fariseus, porém, era duro. Não queriam converter-se, mas submeter o Senhor a suas demandas e conveniências. Por isso Jesus deixou-os sem resposta e foi para a outra margem.
Precisamos aprender do exemplo negativo desses fariseus que, para conquistar o Coração de Deus, devemos aproximar-nos dEle com humildade, como meras criaturas diante do Criador.
Pois quem se aproximar do Senhor com o coração orgulhoso, não obterá dEle mais que o silêncio.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

V Semana do Tempo Comum - Mc 8, 1-10

Jesus tem compaixão da multidão - desta vez, não porque são "como ovelhas sem pastor". O Senhor preocupa-se com as necessidades corporais daqueles que O seguem. E não se importa em usar Seu poder divino, com o qual pode criar e destruir mundosa e dar vida a partir do nada, para fazer algo tão pequeno e simples como... multiplicar pães e peixes para saciar a fome do povo que O acompanhou e com Ele permaneceu para ouvir a Sua Palavra. E eles "comeram e ficaram satisfeitos".
Um ensinamento importante deste trecho do Evangelho escrito por São Marcos é, pois, que Deus se preocupa com absolutamente TUDO o que nos diz respeito, desde as menores até as maiores coisas. E não se torna "menos" Deus por causa disso.
Porque Ele, Deus, nos criou e nos ama; porque enviou o Seu Filho para fazer-se homem (sem deixar de ser Deus), padecer, morrer e ressuscitar por nós e para nossa salvação; porque formou e deixou-nos a Igreja, que, conduzida pelo Espírito Santo, guia-nos até a felicidade perfeita em Seu Reino de Amor; por tudo isso, sabemos que Deus não nos criou para depois abandonar-nos à nossa sorte (como erroneamente pensam alguns), mas ama-nos infinitamente e cuida de nós, sempre e a cada momento, sem jamais deixar-nos.
Aprendamos, então, a confiar tudo a Deus, mesmo aquilo que nos pareça insignificante, pequeno demais para que Deus se importe. Acreditemos: Ele se importa. E, em tudo, sejamos a Ele agradecidos, porque tudo o Senhor conduz para o nosso maior bem, mesmo aquilo que nos faz sofrer.
Porque não há nada que Deus deseje mais do que participar integralmente de nossas pequenas vidas humanas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

V Semana do Tempo Comum – Mc 7, 24-30 – Memória de Santa Escolástica

Uma mulher pagã vem a Jesus, pedir-Lhe por sua filha, que está possuída por um demônio. Ela suplica, mas o Senhor não a atende logo. Pior do que isso, dá-lhe primeiro uma resposta humilhante (pois, naquele tempo, os pagãos eram considerados como cães pelos judeus). Ela, porém, aceita com humildade a comparação cruel e pede ao Senhor apenas uma migalha do Seu poder, crendo que uma migalha é o bastante. E sai, então, atendida em sua súplica e exaltada pelo Senhor.
Mas por que Jesus não a atendeu logo, já que podia fazê-lo? E por que humilhou a mulher primeiro, se sabia que iria atendê-la depois?
O Senhor sabe que a mulher pagã veio a Ele com fé. Mas quer alargar os horizontes dessa fé, aumentá-la e purificá-la de todo apego, para que ela seja capaz de esperar somente em Deus, receber o que pede e permanecer fiel e agradecida Àquele que lhe concedeu a vida. Desse modo, mais do que a graça imediata, de um momento (ainda que não pequena), a mulher recebeu do Senhor graças de eternidade, muito mais do que havia pedido. Porque Deus não se deixa vencer em generosidade.
Lembremos, pois, dessa mulher pagã, quando Deus nos faz esperar para recebermos o que Lhe pedimos ou quando permite que as circunstâncias nos sejam desfavoráveis, nos humilhem e façam sofrer.
Porque, da mesma forma que fez com ela, Ele quer dilatar nosso coração na fé, na esperança e no amor, para depois dar-nos o que pedimos, quando formos capazes, com o coração puro e agradecido, de receber graças para a eternidade.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

V Semana do Tempo Comum - Mc 7, 14-23

“O que sai do homem, isso é o que o torna impuro”
As ações humanas, boas ou más, não são senão a consequência da bondade ou da maldade já presente na própria pessoa, em sua alma e em seu coração.
Na época de Jesus, os judeus entendiam que se tornava impuro diante de Deus quem, por exemplo, comesse certos alimentos ou tocasse em um cadáver ou não lavasse as mãos antes de comer, entre muitas outras coisas.
O Senhor quer colocar em um plano secundário este ritualismo, pois Deus vê o coração do homem, seus afetos e desejos, suas intenções.
Torna-se impuro aquele que se vai deixando corromper, dia após dia, pelos apegos de seu coração às coisas más, àquilo que não encontra respaldo na Palavra de Deus, em Sua Vontade amorosa a seu (nosso) respeito.
Purifica-se, dia após dia, e torna-se puro e limpo diante de Deus aquele que busca desapegar-se de si, de seus caprichos e das coisas más que se lhe apresentam todos os dias, para buscar somente a Deus e à Sua Vontade.
E não é preciso que essas coisas às quais nos apegamos ou desapegamos (tanto boas quanto más) sejam grandes. Porque a pureza e a impureza que fazem o santo e o pecador são alicerçadas, ambas, nas pequenas coisas de cada dia. Nelas manifesta-se para nós, todos os dias, a Vontade santíssima do Senhor, que podemos abraçar ou rejeitar.
Pois amar a Deus, querer somente a Ele e buscar unicamente o que é da Sua Vontade é uma decisão que se renova diariamente e que se fundamenta naquilo que de fato vivemos, nas situações mais simples e corriqueiras da vida.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

V Semana do Tempo Comum - Mc 6, 53-56

Busquemos o Senhor e procuremos reconhecê-lO, sempre que Ele desembarcar na praia de nossa vida. Se O reconhecermos à Sua chegada, poderemos tocar na barra de Sua veste e ficaremos, nós também, curados de nossos males e aflições.
O Senhor não nos livrará dos tormentos desta vida, mas ensinar-nos-á a sermos felizes mesmo em meio a eles. Porque só Jesus Cristo pode nos dar a paz e a felicidade que nunca terminam e que não dependem das circunstâncias.
Jesus há de curar nossas almas e nossos corações e também não se negará a curar nossos corpos e mentes, sempre que isso for necessário e importante para podermos entrar em Seu Reino. Basta que o procuremos e Ele se deixará reconhecer, para O tocarmos e também ficarmos curados.

Santo Agostinho (354-430)
Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja - Sermão 306, passim

"Todos os homens querem ser felizes; não há ninguém que não o queira, e com tanta intensidade que o deseja acima de tudo. Melhor ainda: tudo o que querem para além disso, querem-no para isso. Os homens perseguem paixões diferentes, um esta, outro aquela; também existem muitas maneiras de ganhar a vida neste mundo: cada um escolhe a sua profissão e exerce-a. Mas quer adotem este ou aquele gênero de vida, todos os homens agem nesta vida para serem felizes. [...] O que há então nesta vida capaz de nos fazer felizes, que todos desejam, mas que nem todos alcançam? Procuremo-lo. [...]
Se eu perguntar a alguém: «Queres viver?», ninguém se sentiria tentado a responder-me: «Não quero». [...] Do mesmo modo, se eu perguntar: «Queres ser saudável?», ninguém me responderá: «Não quero». A saúde é um bem precioso aos olhos do rico e, para o pobre, ela é muitas vezes o único bem que ele possui. [...] Todos concordam no amor pela vida e pela saúde. Ora quando o homem desfruta da vida e é saudável, poderá contentar-se com isso? [...]
Um homem rico perguntou ao Senhor: «Mestre, que devo fazer para ter a vida eterna?» (Mc 10, 17) Ele temia morrer e era forçado a morrer. [...] Ele sabia que uma vida de dor e de tormentos não é vida, e que se lhe deveria antes dar o nome de morte. [...] Apenas a vida eterna pode ser feliz. A saúde e a vida neste mundo não a garantem, tememos demasiado perdê-las: chamai a isto «temer sempre» e não «viver sempre». [...] Se a nossa vida não é eterna, se não satisfaz eternamente os nossos desejos, não pode ser feliz, nem sequer é vida. [...] Quando entrarmos nessa vida, teremos a certeza de aí ficar para sempre. Teremos a certeza de possuir eternamente a verdadeira vida sem qualquer temor, pois encontrar-nos-emos naquele Reino sobre o qual se diz: «E o Seu reino não terá fim» (Lc 1, 33)."
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